16 de jan. de 2017

Oportunismo, demagogia e uso da máquina

A disputa pelo comando da Câmara demonstra que os deputados não ouviram os recados das ruas por práticas mais republicanas e continuam usando os mesmos métodos da velha política e muita traição para obterem votos. Vale até promessas de cargos

A disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, que vai ter eleição no próximo dia 2, não mudou em nada o quadro da velha política, com as tradicionais denúncias de uso da máquina, oportunismo, golpes baixos e falsas promessas. E assim tem sido a campanha dos quatro candidatos na disputa pela cadeira: Rodrigo Maia (DEM-RJ), Rogério Rosso (PSD-DF), Jovair Arantes (PTB-GO) e André Figueiredo (PDT-CE) repetem o inadmissível jeito de fazer política no Brasil. A cobiçada cadeira de presidente da Câmara dará ao eleito o poder de decidir os rumos políticos do País, cabendo a ele colocar em votação as matérias mais importantes para o Brasil. Dentre as benesses incalculáveis, há a prerrogativa de administrar um orçamento de R$ 5,9 bilhões, valor previsto para 2017. O deputado escolhido chefiará quase 20 mil servidores, terá direito a desfrutar da residência oficial da Câmara em área nobre de Brasília e de ter um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) à disposição.
Atual detentor da máquina, o presidente Rodrigo Maia abriu seu poder de fogo tão logo recebeu sinal verde da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para disputar a recondução ao cargo que ocupa desde julho, quando houve uma eleição extraordinária para suprir a cadeira após a renúncia de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), hoje preso em Curitiba. Maia prometeu acelerar projetos de deputados caso seja confirmado no cargo, mas passou até mesmo a oferecer cargos na estrutura do governo Michel Temer (PMDB) para obter apoio. Por exemplo: ao PSB, bancada com 34 parlamentares, ofereceu a presidência da Nuclebras, estatal que cuida de tecnologia nuclear.
A FORÇA DA CÂMARA Os deputados deverão votar reformas importantes, como a da Previdência, e ajudar o governo na retomada do desenvolvimento
A FORÇA DA CÂMARA Os deputados deverão votar reformas importantes, como a da Previdência, e ajudar o governo na retomada do desenvolvimento
Mas sua principal barganha é a primeira-secretaria da Câmara que, no escopo de sua próxima gestão, ainda está vaga. Ele usa o cargo para fisgar partidos do maior bloco do parlamento, o Centrão, composto pela união de 13 siglas da base aliada, como PP, PR, PSD e PTB. A estratégia prevê que, além de incorporar votos, Maia desidrate o apoio aos dois principais concorrentes na corrida à cobiçada cadeira: Jovair e Rosso.
OPORTUNISMO DO PT
Dono da segunda maior bancada da Câmara, o PT cobra o cumprimento da regra da proporcionalidade e pede a Maia o cargo de primeiro-secretário da Câmara em troca de apoio ao atual presidente. O impasse tem sido o divisor de águas no namoro entre Maia e o PT. Em dezembro, após conduzir a última sessão, que votou a renegociação das dívidas dos estados, Maia foi à liderança petista e agradeceu pessoalmente aos deputados que ali se encontravam. Em troca, integrantes do PT declararam apoio ao democrata.
NA REDE Rosso está distribuindo fotos no Facebook com a camisa da Chapecoense
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Há quem queira tirar proveito desse imbróglio. É o caso de Jovair Arantes. O candidato petebista e relator do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff – deu parecer favorável à admissibilidade -, acenou com apoio ao pleito do PT. Candidato do centrão, o líder do PTB garantiu que vai respeitar a proporcionalidade. Fez críticas ao adversário por ameaçar escantear o PT com a composição de um bloco forte. “Os lugares que existem na mesa já são destinados aos partidos políticos”. A estratégia surtiu efeito. Mesmo sendo relator do impeachment de Dilma Rousseff, alguns petistas demonstram apoio ao candidato que foi algoz da ex-presidente.

Além de administrar um orçamento de R$ 5,9 bilhões, o novo presidente da Câmara poderá conduzir o destino político e econômico do País


Alinhado com a barafunda interna que tem dificultado a reconstrução da legenda, o PT não consegue unir os discursos e nem o apoio a uma mesma candidatura. Enquanto a maior parcela é simpática a Rodrigo Maia, outra ala do PT, liderada pelo deputado Carlos Zarattini (SP), não abre mão da primeira-secretaria da Câmara. Ele pede que o novo presidente respeite a vontade popular, que elegeu os 57 parlamentares petistas.
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A demagogia também tem ocupado papel de destaque nesta eleição. Aproveitando a onda de comoção que se formou em torno da tragédia com o time de futebol da Chapecoense, Rogério Rosso apelou para o emocional. Vestido com o uniforme do time catarinense, Rosso lançou nas rede sociais uma emotiva candidatura. Mas Rosso refuta ter sido demagogo. “O deputado João Rodrigues é integrante da nossa bancada do PSD na Câmara e foi prefeito de Chapecó. Ele foi um dos grandes apoiadores da minha campanha e nos ensinou a torcer pelo time narrando jogos em tempo real pelo whatsapp”.

Temer diz que não vai interferir na eleição do novo presidente da Câmara, mas nos bastidores trabalha para Rodrigo Maia ser reeleito

De olho na sobra dos votos, o deputado André Figueiredo (PDT-CE) espera por um aceno do PT para, junto com o PDT, chegar ao coeficiente de 77 votos, com os 20 da legenda trabalhista, e conseguir barganhar ao menos um lugar na Mesa Diretora. Figueiredo usa o fato de não ter votado na admissibilidade do impeachment de Dilma para ter o apoio da segunda maior legenda.
USO DA MÁQUINA
Mesmo no recesso parlamentar, os quatro candidatos não descansaram no final do ano. Entre os Estados aonde foi fazer campanha, Maia esteve no Rio Grande do Norte e em Pernambuco. No primeiro Estado se encontrou com o governador Robinson Faria, que é do mesmo partido de Rosso. Falou de outros assuntos, mas também de eleição da Câmara. Maia ainda participou de um almoço em Pernambuco com 20 deputados federais e também do Ceará, Piauí e Paraíba.
Após críticas de adversários de que estava fazendo viagens com o avião oficial da FAB para alavancar sua campanha, Maia passou a voar com um avião bancado pelo DEM. Assistindo de camarote os quatro candidatos se digladiarem, o Palácio do Planalto tenta manter distância, apesar dos indícios de que confia mais em Maia.

Sempre os mesmos
<strong>ACORDO DE CAVALHEIROS </strong>Eunício deve ser eleito presidente do Senado
ACORDO DE CAVALHEIROS Eunício deve ser eleito presidente do Senado
Ao contrário do que acontece na Câmara dos Deputados, em que a disputa pela presidência será nariz a nariz, a eleição para o comando do Senado Federal está praticamente equacionada. A supremacia do PMDB e um grande acordo de entre legendas praticamente garantem a vitória do senador Eunicio Oliveira (PMDB-CE). O que chama atenção na equação é o oportunismo do PT, que se tornou oposição ao governo federal, mas mesmo assim quer garantir uma cadeira na mesa diretora. O plano acertado até o início do recesso parlamentar é que, em contrapartida ao apoio a Eunicio, alguém do PT assuma a primeira-secretaria do Senado e que um representante do PSDB seja escolhido para a primeira vice-presidência da Casa.
Apesar do acordo com o líder do PT, Humberto Costa, Eunício encontra dificuldade em ter os votos totais do partido. Dois senadores petistas se recusam a apoiá-lo: Lindbergh Farias (RJ) e Gleisi Hoffmann (PR) discordam do acordo em torno do nome de Eunício, que eles chamam de golpista, por ter sido o relator da PEC dos gastos públicos. “A questão de cargos não pode ser argumento”, justificou Gleisi. A escolha pelo nome do cearense dentro do PMDB também passou por longa negociação para poder acomodar outros peemedebistas de porte que estavam de olho na mesma cadeira. Atualmente no posto, caberá a Renan Calheiros (PMDB-AL) a liderança do PMDB no Senado ou a chefia da principal comissão, que é a de Constituição e Justiça

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