Contrariando a praxe na Polícia Militar, comandantes não foram transferidos de seus postos – e não há explicação oficial para isso


Sarmento foi sócio durante anos de uma empresa de segurança privada (o que não é proibido), a SDS Sistemas de Defesa e Segurança Ltda. A seu lado na sociedade estava Wilman René Alonso, hoje chefe do mesmo COE onde o outro coronel, Fábio de Souza, é o número 2. Mais ainda: antes deles, a SDS tinha sido de outro mandachuva, o atual comandante-geral da PM, Alberto Pinheiro Neto. Os policiais costumavam inclusive utilizar instalações do Bope (o que, sim, é proibido) para dar cursos de gestão de segurança a empresas privadas - suas clientes. Fechando o círculo, na década de 2000 o próprio coronel Souza trabalhou na SDS de Pinheiro Neto. Só Alonso continua na sociedade, mas todos se tornaram grandes amigos.
"A Corregedoria da PM está fazendo o trabalho correto, que é investigar sob sigilo. Ao término da investigação, a população do Rio de Janeiro tem a minha garantia de que tudo será apresentado de forma transparente", diz o secretário de Segurança do Rio, José Mariano Beltrame. O inquérito conduzido pela Corregedoria investiga mais de setenta policiais. Dos dois envolvidos na coordenação da operação, Souza tem o currículo mais recheado, e não por citações meritórias. Entre idas e vindas, porém, nunca deixou de desempenhar funções de destaque. Durante as manifestações populares no Rio em 2013, foi exonerado do comando do Batalhão de Choque devido ao excesso de violência da sua tropa. "Castigo": a transferência para a escolta pessoal de Beltrame. Em janeiro de 2014, em um ímpeto premonitório, postou em uma rede social: "Está nas escrituras. Em abril de 2015 assumirei a PM". Quase acertou. Um ano depois, Pinheiro Neto chegou ao posto e devolveu Souza ao comando do Batalhão de Choque, onde teria feito carreira se VEJA não tivesse revelado, semanas depois, mensagens em que incitava a tropa à violência e fazia apologia do nazismo. Afastado de novo, retornou três semanas antes da operação na Covanca para ser o braço-direito do coronel Alonso, chefe do COE e sócio até hoje da aglutinadora SDS. Tanto Alonso quanto Souza foram promovidos a coronel, a patente máxima da polícia, pelo amigo comandante Pinheiro Neto. Sarmento era o próximo na fila, cotadíssimo para a lista de promoções a ser divulgada no fim de agosto. Agora, no olho do furacão, deve ter de esperar mais um pouco.
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