20 de nov. de 2014

UTC diz ter pago R$ 2,2 milhões a afilhado de Dirceu

Segundo Ricardo Pessoa, valor foi remuneração por consultoria. Ele também disse que repassou dinheiro em espécie a Youssef para pagar ex-amante

Daniel Haidar, de Curitiba
O ELO – Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, que cobrava 3% de propina para o PT: preso depois que a Polícia Federal descobriu que ele tinha contas secretas no exterior
O ELO – Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, que cobrava 3% de propina para o PT: preso depois que a Polícia Federal descobriu que ele tinha contas secretas no exterior (Márcia Poletto/Agência o Globo)
O presidente e sócio-majoritário da UTC, Ricardo Pessoa, afirmou em depoimento à Polícia Federal que pagou um total de 2,2 milhões de reais ao ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, indicado ao cargo pelo mensaleiro José Dirceu. De acordo com o empresário, os valores foram pagos por serviços de consultoria mediante dois contratos entre a UTC e a D3TM, uma das empresas de Duque. Os investigadores apuram se a remuneração era uma tentativa de disfarçar o pagamento de propina pela assinatura de contratos com a Petrobras.
No interrogatório tomado pelo delegado Eduardo Mauat, o empresário também confirmou ter feito pagamentos ao doleiro Alberto Youssef. Nesse caso, a polícia suspeita que os valores eram comissões distribuídas a políticos e agentes públicos pelo doleiro. Mas o presidente da UTC alegou que nenhum dos desembolsos tinha ligação com contratos da Petrobras. Ele disse que emprestava dinheiro ao doleiro e que contou com a ajuda dele em um problema pessoal. Segundo o empresário, Youssef ficou responsável por repassar dinheiro a uma ex-amante por quem Pessoa disse ter sido chantageado. No depoimento, Pessoa disse que pagou cerca de 800.000 reais para a ex-amante, sem esclarecer se todo esse montante foi repassado pelo doleiro. "Parte do dinheiro em espécie entregue a Youssef foi levado para pagar uma chantage por parte de mulher de nome Mônica Santos com quem teve um breve relacionamento há cerca de 22 anos, a qual passou a lhe importunar a partir de meados de 2012", diz o depoimento.
A advogada Carla Domênico, que defende o presidente da UTC, afirmou que vão ser apresentados documentos à Justiça para comprovar a prestação de serviços de consultoria pelo ex-diretor da Petrobras Renato Duque e a extorsão sofrida pelo empresário. "Temos documentação de tudo. Alberto Youssef resolveu um problema pessoal do doutor Ricardo. O dinheiro entregue ao doleiro não tem nenhuma ligação com qualquer obra pública", afirmou a advogada ao site de VEJA.
'Clube do Bilhão' – No depoimento, Pessoa também negou ser o coordenador do "Clube do Bilhão", o cartel formado por empreiteiras para fraudar contratos da Petrobras.  De acordo com depoimentos do lobista Júlio Camargo e do empresário Augusto Mendonça Neto, o presidente da UTC desempenhava a função de chefe de cartel.
Pessoa confirmou, entretanto, ter pago cerca de 40 milhões de reais ao lobista Júlio Camargo, representante do grupo Toyo Setal, como remuneração para "elaboração de projetos" e por tratativas da UTC com a empresa Sembawang Corporation, de Singapura. Em depoimentos à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal, Camargo disse que repassava pagamentos de empreiteiras para políticos e executivos da Petrobras, exigidos para que as empresas assinassem contratos com a estatal.
O sócio-majoritário da UTC disse ainda que tem "contato mais próximo" com João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, que lhe solicitava recursos para o partido, mas também afirmou manter contato com "Dr. Freitas" que seria representante do PSDB.
Por intervenção do advogado Alberto Toron, Pessoa não comentou a atuação de Youssef junto ao governo do Maranhão para que a Constran, uma das empresas do grupo UTC, recebesse um pagamento milionário de um precatório, cuja dívida estava acumulada havia mais de 20 anos. Pelo precatório, a UTC recebeu cerca de 14 milhões de reais. A polícia suspeita que o doleiro pagou propina a representantes do governo maranhense para resolver o imbróglio. O advogado Toron argumentou que o assunto está sob análise do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e que não seria "pertinente" tratá-lo nesta instância. O argumento foi aceito pelo delegado.

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