8 de nov. de 2014

México: estudantes desaparecidos foram incinerados, diz procurador

Procurador-geral detalha investigação e diz que alunos foram detidos pela polícia e entregues ao crime organizado. Vítimas continuarão a ser tratadas como desaparecidas até identificação de restos mortais encontrados em rio

Pessoas carregam imagens de estudantes desaparecidos durante protesto em Acapulco, no México
Durante protesto em Acapulco, no México, pessoas exibem imagens dos estudantes desaparecidos (Jorge Dan Lopez /Reuters)
Os 43 estudantes desaparecidos no final de setembro no Estado de Guerrero, no México, foram detidos pela polícia, entregues ao crime organizado, assassinados por pistoleiros e seus corpos foram incinerados, informou na noite desta sexta-feira o procurador-geral do país, Jesús Murillo Karam, de acordo com informações do jornal El Universal. Os restos mortais foram colocados em sacos e jogados em um rio. Dois dos sacos foram recuperados pela polícia federal mexicana no local indicado em depoimento pelos traficantes investigados. O material foi levado para análise e a identificação deve ser feita em um laboratório na Áustria.
A versão foi divulgada em uma entrevista coletiva na qual também foi anunciada a detenção de três membros do cartel Guerreros Unidos: Patricio Landa, Patricia Reyes e Agustín García Reyes. Eles confessaram ter participado dos assassinatos, segundo as autoridades. A procuradoria advertiu, no entanto, que os estudantes continuarão a ser considerados desaparecidos até que a investigação seja concluída.
"As confissões que obtivemos mais as investigações indicam muito lamentavelmente o homicídio de um grande número de pessoas na região de Cocula", disse o procurador-geral Murillo Karam, referindo-se ao município vizinho a Iguala, cidade onde os alunos desapareceram após um protesto. "Os três detidos são membros do Guerreiros Unidos e nos depoimentos eles admitiram terem recebido e executado o grupo de pessoas entregue a eles pela polícia municipal de Cocula e Iguala", acrescentou.
Os 43 alunos de uma escola rural de formação de professores de Ayotzinapa, no Estado de Guerrero, desapareceram na noite de 26 de setembro. Desde então, mais de setenta pessoas suspeitas de terem ligação com o crime foram detidas, incluindo o ex-prefeito de Iguala e sua mulher, que aspirava ser a próxima prefeita. José Luis Abarca, que foi destituído, e sua mulher, María de los Ángeles Piñeda, foram capturados na terça-feira em um bairro pobre da Cidade do México, após semanas de buscas. O casal é apontado como os autores intelectuais do ataque contra os estudantes.
Parentes – Mobilizados, os familiares das vítimas também se recusam a perder as esperanças. “Enquanto não houver provas, nossos filhos estão vivos”, afirmou Felipe de la Cruz, pai de um dos desaparecidos. Ele acusou ao governo de continuar “torturando de maneira descarada os pais de família” e de tentar encerrar o caso antes da viagem do presidente Enrique Peña Nieto neste fim de semana à Ásia, em uma prova de sua “irresponsabilidade” diante dos problemas do país.
O presidente, por sua vez, prometeu manter os esforços para que os incidentes sejam totalmente esclarecidos. Em um ato público realizado na Cidade do México, Peña Nieto declarou que as descobertas apresentadas pelo procurador-geral “indignam toda a sociedade mexicana”.
“Não basta a captura dos autores intelectuais, deteremos todos os que participaram destes crimes abomináveis”, ressaltou. “As investigações serão levadas até as últimas consequências. Todos os culpados serão castigados no marco da lei. Aos pais de família e à sociedade mexicana, asseguro que não retrocederemos até que não se faça justiça”.
(Com agências EFE e Reuters)

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