25 de mai. de 2014

A bola está com a FIFA

A entidade máxima do futebol toma posse dos estádios e centros de treinamento em todo o País para adequá-los aos padrões internacionais e cria um mundo paralelo em torno das arenas esportivas

Fabíola Perez (fabiola.perez@istoe.com.br)
Se antes pairava entre os brasileiros a impressão de que a Federação Internacional de Futebol (Fifa) vinha ditando regras no País, agora o bastão foi passado, de fato, à entidade. Na terça-feira 20, a Fifa e o Comitê Organizador Local (COL) começaram a tomar posse dos 12 estádios e campos oficiais de treinamento. O objetivo da operação, respaldada pela Lei Geral da Copa, é adequar as arenas aos padrões internacionais, instalar equipamentos de segurança, montar salas de imprensa, trocar anúncios de patrocinadores e, claro, verificar as condições dos estádios às vésperas do Mundial. Enquanto isso, clubes nacionais terão de treinar fora do Brasil, ruas próximas às arenas serão isoladas e a circulação de pessoas nos locais será controlada até o dia 13 de julho, quando acaba o torneio. “É um novo poder que se estabelece, uma nova ordem sobre esses lugares”, afirma Andrea Benedetto Arantes, advogada especialista em direito internacional, que pesquisou os impactos dos comandos da Fifa sobre a soberania nacional.
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PADRÃO FIFA
O secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, no Itaquerão,
em São Paulo, na semana passada, quando a entidade
tomou posse dos estádios brasileiros
Primeiro estádio a ficar sob o domínio da Fifa, a Arena Corinthians, recém-inaugurada em São Paulo, terá de passar por mais um teste por determinação da entidade. A arena sediará um jogo entre Corinthians e Botafogo no dia 1º de junho para avaliar as arquibancadas temporárias que elevarão a capacidade do espaço de 48 mil para 67,8 mil torcedores. Caberá à Fifa a instalação dos bancos reservas, traves, redes e até aparelhos de tecnologia para a transmissão dos jogos. Outra cidade que também já passou a bola adiante é Salvador. Inaugurada em abril do ano passado, a Arena Fonte Nova deverá disponibilizar a equipe de funcionários que cuidam da manutenção do estádio à entidade máxima do futebol. De acordo com o diretor comercial Cláudio Najar, algumas adaptações estão previstas. “O estádio ganhará cinco mil assentos temporários e o estacionamento será utilizado como espaço de convivência”, diz. Apesar dos transtornos que a limitação de acesso a uma das ruas próximas ao estádio pode causar, Najar acredita que a exposição será positiva. “A Bahia receberá jogos importantes e as áreas em torno do estádio estão passando por melhorias”, diz.
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AJUSTES
Funcionários dão os últimos retoques na Arena Corinthians, acima,
e membros da Fifa e do Comitê Organizador Local (COL)
fazem tour de inspeção no Mineirão
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Um dos estádios elogiados pelo secretário-geral da entidade, Jérôme Valcke, em sua maratona pelo País foi o Mineirão. O espaço administrado pela empresa Minas Arena passou as chaves da casa para a Fifa depois de comandar uma reforma que levou três anos e meio e custou R$ 666,3 milhões. “Preparamos o estádio para a Copa do Mundo”, afirma Severiano Braga, gerente de operações da empresa. “Agora, a Fifa vai montar estruturas temporárias, como tendas para patrocinadores e equipamentos para transmissão de imagens.” Outro quesito que ficará a cargo da Fifa é a segurança. Além do equipamento das arenas – o Mineirão, por exemplo, possui 364 câmeras de vigilância –, a entidade terá efetivo próprio para policiar o entorno dos estádios. No Rio de Janeiro, cidade que sediará a final da Copa do Mundo, o Maracanã está sob controle da Fifa desde a quinta-feira 22. A entidade dispensou até a equipe de manutenção da arena e usará seus próprios técnicos.
Além dos estádios, estão sob uso exclusivo da Fifa os campos oficiais de treinamento (COTs). Estruturas como campos e academias de clubes serão usadas para o treino de seleções durante as 48 horas que antecedem cada jogo. Em São Paulo, foram escolhidos o Estádio do Pacaembu e o Centro de Treinamento do Palmeiras. Para os eleitos, pode ser um bom negócio. “Investimentos extras nos gramados e equipamentos para o vestiário ficarão por conta da Fifa”, explicou Francisco Carlos Dada, coordenador de equipamento do Pacaembu. O Centro de Treinamento do Palmeiras também será utilizado em treinos oficiais e sofreu adaptações. “Tivemos de fazer um realinhamento da equipe para esvaziar o espaço e retirar as placas de publicidade”, afirma José Carlos Brunoro, diretor-executivo do Palmeiras. “Não ganhamos financeiramente, mas o retorno institucional é grande: o clube será conhecido por mais jogadores e a marca será divulgada internacionalmente.”
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O mundo paralelo criado em torno das arenas, porém, pode gerar incômodo, na opinião de especialistas. “A população fica à parte, aqueles que não têm acesso aos jogos ficarão marginalizados”, acredita a advogada Andrea Arantes, para quem a Lei Geral da Copa fere direitos já consagrados. Mas essa tese não é consenso. Contrário à ideia de quarto poder exercido pela entidade, Pedro Trengrouse, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), observa que a autoridade da Fifa foi concedida pelo Congresso Nacional com a aprovação da lei da Copa posteriormente sancionada pela presidenta Dilma. “Se alugo um imóvel, o dono da casa não pode entrar no espaço a hora que quiser”, diz. “A Fifa alugou esses centros esportivos por um determinado período e ficará a cargo dela administrá-los.” Algumas iniciativas da entidade, contudo, são difíceis de explicar. Na semana passada, o substantivo “pagode” foi registrado como marca de alto renome pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). A palavra virou marca exclusiva da Fifa, que batizou com o nome de um dos gêneros musicais mais conhecidos no Brasil a fonte da impressão do Mundial 2014. As fontes Times New Roman e Arial ganharam a companhia de Pagode.
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Fotos: montagem sobre foto de Friedemann Vogel/FIFA via Getty Images, Rodolfo Buhrer/reuters; José Carlos Paiva/Imprensa MG

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