Agentes flagraram suspeitos combinando depoimento. PM reformado depositou R$ 100 mil em dinheiro
Por
ADRIANA CRUZ E MARIA INEZ MAGALHÃES
Rio - Acusados dos
assassinatos da vereadora Marielle Franco, do Psol, e do seu motorista
Anderson Gomes, o PM reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio Vieira de
Queiroz acompanhavam as investigações do caso na Delegacia de Homicídio.
Agentes da especializada flagraram os suspeitos combinando depoimentos
com suposta colaboração de PMs da ativa e possivelmente milicianos. O
poder de informação dos denunciados era tanto que a Polícia Civil e o
Ministério Público (MP) anteciparam em 24 horas a operação para
prendê-los e cumprir mandados de busca e apreensão, que ocorreu na
terça-feira. Há suspeita ainda de que Lessa fugiria para os EUA. E mais:
relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf)
identificou um depósito de R$ 100 mil, em dinheiro, de Lessa feito por
ele mesmo na boca do caixa de um banco, na Barra da Tijuca, no dia 9 de
outubro do ano passado.
Antes de prestar novo depoimento e depois, Queiroz se
reuniu com um policial e Lessa em 1º de fevereiro por mais de uma hora
num bar, na Barra. Na delegacia, Queiroz revelou o encontro com o
policial, mas omitiu a presença de Lessa. Já o policial, segundo o juiz
do 4º Tribunal do Júri, Gustavo Kalil, "parece também ter esquecido de
mencionar que, imediatamente antes de comparecer àquela especializada,
encontrou-se com Ronnie Lessa. E logo após prestar declarações à
Autoridade Policial, (...) retornou ao estabelecimento comercial
permanecendo em companhia de Lessa por mais de uma hora, restando
inconteste que o denunciado acompanha, de perto, a investigação policial
do Caso Marielle", escreveu o magistrado na decisão que recebeu a
denúncia do MP contra Lessa e Queiroz pelos crimes de homicídio e
tentativa de homicídio contra a assessora de Marielle, Fernanda Chaves, e
receptação.
OUTROS CRIMES E VIDA DE LUXO
De acordo com as investigações, o rastreamento de
movimentação financeira suspeita de Lessa pode indicar a possibilidade
de outros crimes estarem em andamento. O que foi decisivo para o juiz
determinar o bloqueio de bens dos acusados. No inquérito, há ainda
áudios que flagraram o PM e Queiroz falando sobre outras empreitadas
criminosas.
Lessa mantinha uma vida de luxo incompatível com
aposentadoria de sargento reformado da PM, que chegava a pouco mais de
R$ 7 mil líquidos. Há informações relatadas à Justiça de que ele seria
proprietário de diversas armas, dois imóveis, um avaliado em R$ 150 mil.
Os agentes o fotografaram pilotando uma lancha de R$ 600 mil, que
estaria em nome de laranja, em Angra dos Reis. Lessa foi preso em sua
casa no Condomínio Vivendas da Barra, Barra. O mesmo onde mora o
presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). No local, os agentes
apreenderam o carro de Lessa, um Infiniti FX35 V6 AWD blindado. O modelo
custa em média R$ 120 mil. A polícia também descobriu que durante o
Carnaval, Lessa teria alugado casa de luxo, além de ter outros bens em
nome de 'laranjas'.
Além de patrimônio alto, Lessa também gostava de
viajar. Atlanta, nos Estados Unidos, seria o destino da fuga do PM. Lá,
ele ficaria na casa de um parente. "... Pois o MP noticiou suposto fluxo
migratório do acusado Ronnie (...) a uma residência na cidade
norte-americana de Atlanta", escreveu o juiz do 4º Tribunal do Júri,
Gustavo Kalil, em um dos trechos da decisão que decretou a prisão dele. A
fuga para a cidade norte-americana foi um dos motivos que levaram a
Justiça a decretar a prisão do policial e a Delegacia de Homicídios e
Ministério Público a anteciparem em 24 horas a Operação Buraco do Lume.
Já Queiroz é réu em uma processo com indícios de participação em
associação criminosa em tramitação na 32ª Vara Criminal. Ele foi expulso
da PM por causa do procedimento.
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