14 de nov. de 2017

O dossiê de Cabral

O ex-governador do Rio é acusado de preparar dossiês contra juízes e o cerco se fecha com a procuradora-geral pedindo de novo sua transferência para uma cadeia de segurança máxima. O crime de desacato à Justiça, desta vez, ficou evidenciado

JOSE LUCENA/FUTURA PRESS; Walterson Rosa/Framephoto/Folhapress;
O ex-governador do Rio, Sérgio Cabral, não se emenda. Mesmo preso na cadeia pública José Frederico Marques, em Benfica, Zona Norte da capital fluminense, ele continua atuando no comando de organização criminosa. Segundo investigações da Polícia Federal, Cabral é suspeito de articular a confecção de dossiês contra seus adversários. A principal vitima desta vez é o juiz federal Marcelo Bretas, que em setembro deste ano o condenou a 45 anos de prisão por corrupção. Cabral vasculha informações que possam desmoralizar o juiz e sua família. E, para isso, estaria se utilizando de policiais para escarafunchar a vida do juiz e da sua esposa, a também juíza Simone Bretas. Em nove meses, o sistema de informações da Polícia Civil do Rio foi acessado dez vezes em busca de ocorrências envolvendo os Bretas. A PF acredita que Cabral esteja montando um dossiê contra o juiz federal. Somente no dia 26 de setembro, seis dias depois de Bretas ter condenado Cabral, foram feitas oito consultas na 22º DP da Penha. Outras consultas foram feitas nas delegacias 105ª e 31ª, sempre por meio de policiais ligados ao grupo de Cabral.
Prova de que o ex-governador quer levantar informações que prejudiquem a imagem do magistrado aconteceu no dia 23 de outubro. Nesse dia, houve uma audiência de Cabral com Bretas, na qual o ex-governador disse que a família do juiz entendia bastante de caixa dois no setor de joias, pois trabalhava com o comércio de bijuterias. Cabral é acusado por Bretas de comprar mais de R$ 6 milhões em joias para sua mulher Adriana Ancelmo com dinheiro sujo da corrupção. O juiz se sentiu ameaçado e passou a suspeitar de que Cabral levantava informações contra ele no submundo das delegacias de polícia no Rio, ainda comandadas por policiais ligados ao esquema do PMDB. O governador Luiz Fernando Pezão era vice de Cabral e o sucedeu no governo do Rio com seu patrimônio eleitoral na época.
Em nova audiência com Bretas na quarta-feira 8, Cabral aproveitou que estava frente a frente com o juiz e se explicou: “Não há nada meu pessoal contra o senhor, dossiê, eu nunca fiz isso com ninguém. Acredite em mim, na minha índole”, disse Cabral, ao que Bretas retrucou para encerrar o assunto: “Eu não teria o que dizer, se é que existe alguma coisa”, disse o juiz. Antes dessa audiência, Bretas ouviu o depoimento do ex-subsecretário de Saúde César Romero. Ele contou que, certa vez, o ex-secretário de Saúde Sérgio Côrtez recebeu um jaleco com uma gravata amarrada no pescoço, insinuando que isso seria uma ameaça de morte. Bretas ironizou: “Ah, mas isso não é ameaça. Ameaça tem que vir por escrito e com firma reconhecida no cartório”, disse o juiz.

Segurança máxima
Em razão das ameaças, Bretas determinou que Cabral deixasse a cadeia de Benfica e fosse transferido para um presídio federal de segurança máxima. A transferência foi impedida pelo ministro do STF, Gilmar Mendes. Agora, diante das suspeitas de que Cabral continua a gozar de privilégios na cadeia no Rio, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, também passou a recomendar que Cabral seja transferido com um presídio federal. “A transferência impedirá que ele, mesmo preso, exerça condição de líder de organização criminosa”, disse Dodge em seu parecer. Ela afirma que o “sistema penitenciário do Rio tem tido dificuldade para impedir que Cabral receba informações externas”. Para ela, em uma unidade do sistema prisional federal “o aparato institucional da segurança pública impedirá o recebimento pelo paciente de informações inadequadas e privilégios irregulares”. Cabral teria até mordomo particular na cadeia: o detento Alex receberia R$ 15,00 por dia para fazer faxina na sua cela.
Colaborou: Eliane Lobato

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