
Passada a fase das complicações ligadas ao meio ambiente, as obras do PAC enfrentam agora um problema que parece mais sério e mais complexo do que a vida sexual dos bagres. Em menos de dez dias quase 80 mil operários se rebelaram contra as condições de trabalho e simplesmente decidiram suspender as atividades nos cinco principais canteiros de obras do PAC. Ao longo da última semana, obras como a construção das usinas de Jirau e Santo Antônio, em Rondônia, o complexo termoelétrico de Pecém, no Ceará, a refinaria Abreu e Lima e o complexo portuário de Suape, ambos em Pernambuco, ficaram paralisadas. Na quinta-feira 24, parte dos trabalhadores começou a retomar as atividades, mas o clima permanecia tenso nos c

Foi exatamente às margens do mesmo rio Madeira, que abriga os bagres que tanto irritaram Lula, que o problema eclodiu na terça-feira 15. Enfurecidos por conta do que parecia ser apenas uma briga entre um operário e um motorista de uma das empreiteiras que estão construindo a usina de Jirau, os trabalhadores iniciaram uma revolta violenta. Pelo menos 300 operários atearam fogo nos alojamentos, escritórios e caixas eletrônicos do canteiro de obras da Camargo Corrêa. A situação só voltou à relativa normalidade depois que 500 homens da Força Nacional foram enviados ao local. Rapidamente a revolta espalhou-se por outras obras e culminou com a maciça paralisação da semana passada.
Em entrevista exclusiva à revista ISTOÉDinheiro, o presidente da construtora Camargo Corrêa, Antonio Miguel Marques, afirmou não acreditar que a revolta em Jirau tenha ocorrido por descontentamento com as condições de trabalho. Ele vê três hipóteses para o quebra-quebra e os incêndios: banditismo, briga sindical e insatisfação com o aumento da segurança no acampamento. “Foram atos de vândalos. Eu não concebo que uma briga entre um motorista de ônibus e um empregado embriagado possa motivar a queima de mais de 40 ônibus. Não se faz isso com palito de fósforo e isqueiro, é preciso ter combustível preparado para isso.” Marques acredita na hipótese de banditismo porque, no mesmo momento em que ocorreram os tumultos, houve dois assaltos aos postos bancários nos acampamentos nos dois lados do rio Madeira.
A revolta de Jirau assustou o governo que, distante das obras e exigindo prazos enxutos para a conclusão dos projetos, não estava atento à insatisfação crescente nos canteiros de obras. “Há dois anos a CUT avisava que poderia haver problemas, queríamos contrapartidas sociais para que essas obras fossem realizadas”, diz o presidente da Central Única dos Trabalhadores, Artur Henrique, que participou de uma reunião convocada às pressas pelo Planalto com o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, na quarta-feira 23. Com ele estava o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical. Acuado pela situação, o governo concordou com os sindicalistas. “Em obras em que

Ainda não está claro o que motivou de fato a revolta em Jirau. Para os sindicalistas, a razão está na terceirização constante da mão de obra e a falta de respeito às condições de trabalho. “As empresas não cumprem os mais elementares direitos trabalhistas”, afirma Adalberto Galvão, vice-presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria da Construção Pesada. Já Marques, da Camargo Corrêa, sustenta que os motivos não poderiam ser esses. “Jirau é uma obra com nível atipicamente baixo de terceirização. É uma obra de grande responsabilidade para ser executada em prazo exíguo, então predominam os recursos próprios.” Cabe agora ao governo investigar e fiscalizar para que novos problemas como o das últimas semanas não atrasem ainda mais as obras do PAC.
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