O STF decidiu anular sentenças depois de mudar a ordem dos depoimentos dos delatados, o que pode cancelar a condenação de Lula pelo Sítio de Atibaia. Outras medidas, que partem do Congresso e de Jair Bolsonaro, também enfraquecem a operação
Na verdade, a Lava Jato começava a fraquejar quando o então juiz Sergio Moro resolveu deixar a Justiça Federal para assumir o posto de ministro da Justiça do presidente Jair Bolsonaro. Afinal, foi ele quem imprimiu cores e vitalidade à maior operação de combate à corrupção da história recente do País. Em entrevista exclusiva à ISTOÉ logo depois do anúncio de Bolsonaro em outubro, Moro tentou amenizar o baque. Disse que outros juízes assumiriam seu lugar e que a operação permaneceria altiva e pujante. Ledo engano. Desde que Moro tirou a toga de juiz e virou político, houve uma inversão de papeis. Os agentes da lei, como Moro e o procurador Deltan Dallagnol, passaram a ser suspeitos de terem cometido crimes, a ponto de Lula afirmar que só deixaria a prisão se o ministro ficasse preso no seu lugar. Já os foras da lei, escorados por ações inclusive de habeas corpus concedidos pelo STF, aos poucos buscam a condição de vítimas.
Se ainda não constitui a pá de cal sobre a Lava Jato, a decisão do STF desta semana faz uma correção de rota substancial na operação, que pode aniquilá-la, já que inúmeras sentenças correm o risco de serem anuladas. A primeira sentença de Moro anulada pelo STF foi a do ex-presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, condenado a 11 anos de prisão por corrupção. A 2ª Turma não só anulou a sentença de Moro como também mandou que a ação voltasse à fase de alegações finais na primeira instância. Não significa garantia de que ele será absolvido, mas foi sem dúvida um fator desestabilizante para a Lava Jato, uma vez que desmoralizou uma sentença do ministro da Justiça, até então considerado acima de qualquer questionamento.
O fio do novelo
Como em um novelo de linhas, o caso Bendine puxou o do ex-gerente da Petrobras Marcio de Almeida Ferreira, também condenado por corrupção e lavagem de dinheiro a 10 anos de prisão por Moro. Alegando que ele havia se posicionado no processo no mesmo momento que seus delatores, o ex-gerente também acabou beneficiado pelo STF na quarta-feira 2: sua sentença foi anulada e o caso voltará para a primeira instância. Mais um golpe dolorido na Lava Jato. Os dois episódios serviram de pretexto para o STF admoestar os magistrados responsáveis pela operação, como se fossem à desforra.Dias Toffoli fez questão de frisar em alto e bom som que repudiava “os abusos e excessos” dos procuradores. “Quando se lida com o contraditório e ampla defesa, o réu fala por último. Essa é uma lição que tem 800 anos”, fez coro o ministro Gilmar Mendes. O voto de Alexandre de Moraes, que formou dissidência com o relator Edson Fachin, serviu para orientar o caminho a ser trilhado pelo tribunal, limitando o efeito retroativo da medida caso a caso. Pelo entendimento do magistrado, a ideia é rever sentenças somente dos réus que se sentiram prejudicados por fazerem alegações finais depois dos delatores com posição manifestada na primeira instância. O procurador Deltan Dallagnol considerou a decisão como “um tremendo retrocesso” no combate à corrupção. Mais um golpe na Lava Jato, segundo ele. Já Gilmar, aproveitou a maré favorável para provocar o ex-juiz Sergio Moro. “Não há dúvidas de que Moro era o verdadeiro chefe da força tarefa de Curitiba. E quem acha isso normal não está lendo a Constituição”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário