Entre agosto e outubro de 1942, a Operação Reinhard eliminou 1,32 milhão de judeus, 20% das vítimas do Holocausto. A média era de 15 mil mortos ao dia. Provas estavam nos registros de transporte ferroviário. Entender esse mecanismo evitaria novos genocídios

SEM RESISTÊNCIA
Deportados acreditavam que iriam repovoar áreas remotas: quase 10% da população judaica mundial assassinada em 90 dias
(Crédito: Buyenlarge \ UIG)

Como os nazistas tentaram eliminar as evidências de seus crimes quando a derrota se mostrou inevitável, apagando todos os registros possíveis, Stone buscou dados indiretos, analisando as compilações do historiador do Holocausto Yitzhak Arad sobre as movimentações de 480 “trens especiais” para os campos de extermínio de Treblinka, Sobibor e Belzec, na Polônia. A Deutsche Reichsbahn, a companhia ferroviária germânica, manteve os registros, revelando que a maioria dos “deportados” veio de 393 cidades, vilas e guetos poloneses. A justificativa para a viagem era que as vítimas deveriam repovoar áreas remotas do leste. Como o número de sobreviventes é conhecido, não foi difícil determinar o de mortos, mesmo com os corpos reduzidos a cinzas.
O extermínio sistemático foi batizado de Operação Reinhard, em homenagem ao idealizador da chamada Solução Final, que consistia na eliminação de todos os judeus residentes em territórios ocupados pelos alemães. Nazista impiedoso, Reinhard Heydrich era chamado por Hitler de “o homem com coração de ferro”. Ele foi morto em Praga pela resistência tcheca, pouco antes do início da operação. Com isso, a responsabilidade ficou com Odilo Globocnick, um austríaco da SS. Anos depois, Globocnick seria considerado pelo historiador Michael Allen “o indivíduo mais vil da mais vil organização conhecida”. Em sua conta figura a eliminação da resistência nos guetos de Varsóvia e Byalistok, com mais 600 mil vítimas, e a criação de campos de concentração. Globocnick cometeu suicídio com cianeto ao ser capturado por britânicos na Áustria, em maio de 1945.
Iniciada em março de 1942, a operação eliminou 1,7 milhão de judeus e só não foi mais eficiente pela absoluta falta de gente para matar. Ou seja, a máquina de morte nazista era tão eficiente e abominável que apresentou capacidade ociosa mais de dois anos antes do final do conflito. Porém, se tivessem vencido os soviéticos na Frente Leste, o processo certamente teria se repetido contra judeus e eslavos da Rússia, Ucrânia e Belarus. Tanto que parte dos que sobreviveram trabalharam como escravos no esforço de guerra em instalações próximas aos campos, que depois incluiria o de Majdanek.
De acordo com Lewi Stone, a rapidez impediu qualquer tentativa de resistência. “O massacre acabou antes que houvesse tempo para uma resposta organizada”, diz. Os detalhes seguem surpreendentes quando comparados com eventos recentes. O genocídio de Ruanda, em 1994, matou 800 mil pessoas em 100 dias, com média diária de 8 mil. Sobre a relevância dessa conta macabra, Stone explica que é preciso entender as causas e padrões desses mecanismos criminosos para ficarmos alertas. “Bósnia, Ruanda, Darfur, Burundi, Síria e Myanmar passaram por operações de assassínio em grande escala nos últimos 25 anos. Alguns dos quais poderiam ser evitados”, alerta.
A força dos sobreviventes

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