Em uma campanha marcada por movimentos estrategicamente planejados e 
também velados, a disputa pela presidência do Senado terá a marca do 
“anti”. Assim como ocorreu na eleição presidencial, a escolha de quem 
comandará a Casa e, por tabela, o Congresso Nacional pelos próximos dois
 anos será definida por grupos a favor e contra a chamada “velha 
política”, neste caso, representada por Renan Calheiros (MDB-AL), um dos
 poucos caciques que vão permanecer no cargo a partir de fevereiro e que
 tenta presidir a Casa pela quarta vez.
Sem o apoio do presidente Jair Bolsonaro ou do partido dele, o PSL, 
Renan acompanha, nos bastidores, a pretensão de Tasso Jereissati 
(PSDB-CE) de firmar uma espécie de acordo tácito com a base aliada para 
derrotar o emedebista, mesmo que numa votação apertada e secreta. Assim 
como Renan, o tucano não se colocou oficialmente como candidato, mas 
busca líderes de outros partidos para avaliar suas chances de vitória.
“Ele não vai entrar nesse jogo para perder. Mas espera um sinal dos 
senadores para se colocar publicamente. Tasso é o único que pode 
derrotar Renan”, disse Ataídes Oliveira (PSDB-TO), que não se reelegeu, 
mas faz parte do grupo de sustentação à campanha de Tasso.
 
Segundo a reportagem apurou, apesar da discrição, o tucano já se 
reuniu com líderes do DEM, do PSD e do Podemos e tem marcada para o dia 
28 uma reunião com o governador de São Paulo, João Doria, para tratar de
 eleição. Doria tem ocupado espaço no PSDB depois que o presidente da 
sigla, Geraldo Alckmin, se afastou do dia a dia partidário, ainda que 
extraoficialmente.
A entrada de Doria na campanha de Tasso é considerada essencial para 
atrair o apoio de Bolsonaro e convencer o senador eleito Major Olímpio 
(PSL-SP) a se retirar da disputa, já que ainda não conseguiu agregar 
apoio. É esperada uma declaração pública do governador após a reunião – 
assim como fez com o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que já o visitou em
 busca de apoio para sua reeleição.
Nesta quarta-feira, 16, no Twitter, a deputada eleita Joice 
Hasselmann (PSL-SP), aliada de Doria e próxima de Bolsonaro, chamou 
Renan de “coroné do Senado” e disse esperar que ele seja mandado “para a
 cadeia”. Em resposta, o senador a bloqueou na rede social.
Frente
 
Tasso tenta ainda ser o nome de um bloco que se forma no Senado com a
 participação de diversos partidos. “Pedi para ir ao gabinete do Tasso. 
Saímos da eleição totalmente divididos. Candidatos a presidente, 
governador, tudo diferente. Tem sido assim há dez anos. Coloquei que o 
nome dele é um nome, mas existem outros”, disse o senador eleito Cid 
Gomes (PDT-CE).
Cid articula um bloco com PSB, Rede e PPS que teria 15 senadores e 
seria, na opinião dele, capaz de atrair outras forças como PSDB, PP, PSD
 e DEM. Com isso, se formaria uma “espinha dorsal” no Senado que 
garantiria a eleição do presidente e os principais postos da Mesa 
Diretora.
A proposta de Cid é apresentar um manifesto que defenda mudanças no 
regimento da Casa e uma direção que não seja “nem situação automática 
nem oposição sistemática”, mantendo independência em relação ao governo.
 Pela proposta, a escolha do nome a presidente seria o último passo do 
processo. “Tasso concordou com isso”, disse Cid, que afirma considerar o
 tucano um “nome forte”.
Enquanto isso, o movimento anti-Renan tem crescido nas redes sociais.
 O Movimento Brasil Livre (MBL) lançou vaquinha online para arrecadar R$
 30 mil e custear manifestações contra a candidatura do emedebista. O 
grupo batizou a ofensiva como “Operação Fora, Renan” e a ideia é 
“organizar piquetes” em endereços de senadores que apoiam o alagoano, 
além de comícios em alguns Estados e ações na Justiça.
Na terça-feira, o MBL protocolou ação popular no Supremo Tribunal 
Federal com pedido de liminar para impedir que Renan se candidate. O 
argumento é de que eventual eleição do senador iria contra o princípio 
da moralidade pública, já que o emedebista é alvo de inquéritos no STF 
por lavagem de dinheiro, corrupção e organização criminosa.
‘Plano B’
Se enfrenta dificuldades para atrair aliados de Bolsonaro, como o 
MBL, Renan tem apoios assegurados por colegas do seu MDB, passando pelo 
PT ao PSD, que deve dar cinco de seus oito votos ao alagoano. Mas, por 
receio de que a candidatura de Renan sofra algum abalo até fevereiro, o 
MDB vai manter a senadora Simone Tebet (MDB-MS) como “plano B” até às 
vésperas da eleição.
Atual líder da bancada do MDB no Senado, Simone queria anunciar à 
imprensa, ainda antes do recesso, em dezembro, que não seria candidata. 
Ela, porém, foi demovida pela direção do partido. A justificativa usada 
pelos dirigentes foi de que a sigla ainda “desconfia” de que Renan 
conseguirá ter condições para vencer a eleição interna e que a 
desistência dela serviria às candidaturas alternativas.
Apesar de o senador alagoano ser o candidato que desponta como 
favorito, há um receio no próprio MDB de que a pressão da opinião 
pública vai aumentar na próxima semana e, por causa disso, alguns 
parlamentares podem mudar de posição.
Diante desse cenário, Renan atua para garantir que a bancada decida 
por seu nome somente no último dia antes da eleição, 31 de janeiro, e 
busca se aproximar do governo. Já jantou com o ministro da Economia, 
Paulo Guedes, e prometeu aprovar a reforma da Previdência.
O senador enfatiza que o partido só definirá se ele é candidato ou 
não na véspera da data da eleição. Para o MDB, quanto mais tarde vier a 
confirmação de que Renan será candidato, menor será o tempo para reação 
de setores contrários ao seu nome. As informações são do jornal 
O Estado de S. Paulo.