Os três são ex-ministros de sua “santidade”. Dois deles, Ciro e Marina, do Norte-Nordeste como ele. Mas quem o PT quer colocar lá é o professor paulistano. Quem será o ungido da esquerda?
A pouco mais de um mês das eleições, no entanto, ele ainda percorre as ruas do País quase como um desconhecido. Diante da insistência do PT em esticar ao máximo a candidatura de Lula mesmo sabendo que ela é ilegal e será interrompida antes de chegar às urnas eletrônicas, Haddad carrega todos os ônus da estratégia. Como não é o candidato à Presidência, mas a vice, ele não participa de debates e não entra nos noticiários no momento de divulgação das agendas. Vira, assim, apenas mais um, hoje em desvantagem, a disputar o espólio da expressiva votação de Lula. Se Haddad é o herdeiro oficial ainda não oficializado, Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) apostam na capacidade de atraírem eleitores de Lula por encarnarem perfis igualmente de esquerda. Ambos foram ministros dos governos de Lula. Ciro tem a seu favor o fato de ter sido, até o PT resolver abandoná-lo, um ferrenho defensor de Lula. Marina conta com o fato de ser uma fundadora do PT, aliada do ambientalista e líder político Chico Mendes. E possuir uma trajetória parecida com a de Lula – a de uma liderança forjada na pobreza que ascendeu.
Votos sub judice
” Não adianta querer vesti-lo de Lula. Ele (Haddad) não é Lula” Jaques Wagner (PT), ex-governador da Bahia
O campo principal da batalha no qual Ciro, Marina e Haddad travarão pelos votos de Lula é o eixo Norte-Nordeste. Berço da desigualdade social mais profunda, o Nordeste tornou-se um divisor de águas nas últimas eleições e é lá onde reside a maior parte dos eleitores do Lula. Justamente por conta disso, a região tem recebido nos últimos dias uma verdadeira romaria de candidatos. Na semana passada, Marina Silva (Rede) esteve em dois estados nordestinos. Visitou Fortaleza, capital do Ceará, na segunda-feira 20 e Recife, capital de Pernambuco, no dia seguinte. Para se viabilizar como desaguadouro dos votos da esquerda, Marina trabalha para desfazer a imagem de mulher frágil, cultivada em terrenos férteis há quase uma década, com uma importante contribuição dela própria. Agora, ela tenta demonstrar personalidade – quer personificar uma árvore típica de sua região: a biorana. “Experimenta bater com o machado: sai faísca e não verga”, repete Marina em vídeos que circulam na internet. A estratégia percorreu o debate RedeTV!/IstoÉ na sexta-feira 18. Em dado momento da refrega, a candidata do Acre partiu para cima de Bolsonaro deixando-o sem ação. “Você acha que resolve tudo no grito”, reagiu diante de uma pergunta mais áspera do candidato do PSL. Pesquisas internas revelam que a postura a levou a amealhar votos femininos. A mudança no perfil da candidata envolve aspectos visuais e estéticos. Nos últimos dias, Marina promoveu sutis mudanças no seu figurino, reduzindo o uso de ornamentos amazônicos. Para manter-se em alta com as mulheres, Marina promete inseri-las no processo produtivo. Se eleita, ele promete investir em creches e escola de tempo integral e dará apoio ao empreendedorismo feminino. A candidata da Rede também acena viabilizar o acesso de mulheres ao microcrédito e oferecer assistência técnica para que elas possam abrir o próprio negócio.
“Cirinho”
Para seduzir o eleitorado do Nordeste, Ciro Gomes aposta na sua origem. Embora seja paulista, nascido na mesma Pindamonhangaba de Geraldo Alckmin, Ciro mudou-se criança para a cidade de Sobral, no Ceará. Sua fala carrega forte sotaque cearense. A teórica vantagem pode ser um problema para Ciro. Explica-se: no Ceará, ele tem convivência pacífica com o PT do governador Camilo Santana, candidato à reeleição. Em outros estados nordestinos, no entanto, a máquina petista trabalhou forte contra ele. Um caso notório é Pernambuco, ponto central da intervenção feita pelo PT para evitar que o PSB virasse aliado de Ciro, robustecendo a sua candidatura. Assim, integrantes da campanha do pedetista acreditam que ele terá mais dificuldade justamente nos Estados em que o PT tem maior protagonismo, como Bahia e Piauí.
Precisa ter um perfil próprio colocado para o eleitor. “Não adianta querer vesti-lo de Lula. Ele (Haddad) não é o Lula”, afirmou. Há outro elemento importante pouco levado em consideração. A tragédia do poste 1 – Dilma Rousseff – permanece vivíssima na memória do eleitor. O eleitorado lulista arriscaria votar de novo num preposto dele, o poste 2, diante da profunda crise legada pelo poste 1? Para o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília, Haddad pode até ser mesmo o maior beneficiário do capital político de Lula. Mas não numa parcela suficiente alçá-lo ao segundo turno. “Pelo tempo curto, a força de Lula não será tão grande como foi em 2010, quando ele elegeu Dilma Rousseff”, analisa. Para quem quer atrair o eleitorado lulista, Fleischer recomenda sola de sapato. “As campanhas de rua serão importantes porque os telejornais locais vão cobrir. É uma oportunidade”, salienta Fleischer. Em jogo, a tão acalentada vaga no segundo turno.
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