PM, Polícia Civil e
Forças Armadas estão nos morros do São Carlos, Zinco, Querosene e
Mineira desde o início da manhã desta sexta-feira
Rafael Nascimento
Rio
- As forças de segurança realizam, na manhã desta sexta-feira, uma
operação contra o tráfico de drogas nos morros do São Carlos, Zinco,
Querosene e Mineira, no Centro do Rio. Militares das Forças Armadas, a
PM e a Polícia Civil chegaram ao local por volta das 4h. Um efetivo de
dois mil, entre militares e agentes, participa da ação. Até às 7h45, um
homem foi preso com drogas, munição e dinheiro. Exército também atua no Morro do São Carlos
Reprodução TV Globo
De acordo com a Secretaria de Segurança, as Forças
Armadas são responsáveis por fazer o cerco nas favelas em pontos
estratégicos. Houve tiroteio no momento em que os militares chegaram ao
local, mas depois a situação ficou normalizada. Desde cedo, equipes se
posicionaram na Rua Frei Caneca, onde há entradas para o São Carlos.
Motoristas que entram e saem da favela estão sendo revistados.
As
equipes cumprem mandados de prisão contra traficantes que seriam do
bando de Antônio Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha. Entre os procurados
estão Alex Correia dos Santos, conhecido como '2G', envolvido no tráfico
do São Carlos; Leonardo Miranda da Silva, o 'Léo Empada', apontado como
gerente geral do tráfico de drogas da favela; Marcelo Bernardino
Fonseca, o 'Limão do 40', chefe do tráfico da comunidade; e Alex Marques
de Melo, o 'Leo Serrote'.
A secretaria destacou que o
espaço aéreo está controlado, com restrições a aeronaves civis, nas
áreas de atuação dos militares. O Centro de Operações Rio informou que,
por causa da ação, algumas vias podem ser interditadas ao longo do dia.
Todos os colégios da região não abriram. Um morador,
que preferiu não se identificar, tentou ainda levar a sua filha na
Escola Municipal Estados Unidos, que fica em frente ao Morro do São
Carlos, mas estava fechada. "Mesmo com essa operação, estamos tentando
seguir com a nossa vida. Morro aqui desde criança e até que é um lugar
razoável de sobreviver", contou o pedreiro, de 42 anos.
A menina,
de 10 anos, contou que, quando há tiroteios na comunidade, as
professoras pedem para os alunos se abaixarem. "Na última vez, estávamos
na quadra e a professora pediu para a gente formar uma fila e nos
escondermos atrás do colégio", disse.
No Centro Integrado de
Comando e Controle (CICC), na Cidade Nova, representantes das forças de
segurança acompanha, em tempo integral, os desdobramentos da operação.
Ligações do republicano com a Rússia foram alvo de um relatório que a equipe da campanha da democrata encomendou
Pessoas ligadas à democrata Hillary Clinton foram citadas em uma
investigação sobre a interferência da Rússia na última eleição
presidencial dos EUA
( Foto: AFP )
Washington. A campanha da democrata Hillary Clinton à
Presidência dos EUA pagou parte da pesquisa de um dossiê sobre a ligação
do atual presidente, Donald Trump, com a Rússia, informou, ontem, o
jornal "The Washington Post".
O relatório, revelado em janeiro, continha encontros de membros da
campanha de Trump com pessoas relacionadas ao líder russo, Vladimir
Putin, e informações comprometedoras, como uma suposta orgia do hoje
presidente com prostitutas.
Segundo a publicação, os recursos foram pagos por Marc Elias, advogado
da campanha de Hillary e do Comitê Nacional Democrata, a uma empresa
chamada Fusion GPS, que contratou o ex-agente de inteligência
Christopher Steele.
Anteriormente a pesquisa havia sido financiada por um cliente
republicano ainda desconhecido. Membros da empresa dizem que os
democratas mantiveram os pagamentos até o final de outubro de 2016, dias
antes da eleição. Além do relatório de Steele, Elias recebeu outros
documentos, cujos detalhes não foram divulgados. Também não se sabe se
os comandos da campanha e do partido estavam a par do contrato de Marc
Elias com a Fusion.
Outra informação desconhecida é o montante pago. Elias recebeu em
honorários US$ 5,6 milhões da campanha e US$ 3,6 milhões do comitê
democrata entre junho de 2015 e dezembro de 2016 -suspeita-se que parte
do dinheiro possa ter sido usada para pagar a pesquisa.
O dossiê foi um dos primeiros documentos que levantaram as suspeitas do
elo da equipe de Trump com os russos. Nas semanas seguintes à posse,
agentes de inteligência vazaram que vários membros do governo eram
investigados.
O "Washington Post" afirma que os agentes confirmaram parte da
informação do dossiê, mas não as partes mais comprometedoras. Trump nega
qualquer envolvimento de sua equipe com os russos e afirma ser vítima
de uma "caça às bruxas". Porém, as suspeitas cresceram depois que o
presidente demitiu em maio o então diretor do FBI, James Comey. Hoje a
interferência russa na eleição é investigada por uma comissão
independente e no Senado. Na terça (24), o Twitter, uma das empresas sob
escrutínio dos parlamentares, anunciou que passará a colocar etiquetas
em anúncios relacionados a eleições e quais são seus compradores, medida
similar à tomada pelo Facebook.
As duas redes e o Google foram os principais meios usados pelos russos em 2016.
A oposição venezuelana sofreu nesta terça-feira (24) um baque
depois da saída de um de seus maiores líderes, uma crise que consolida o
governo de Nicolás Maduro, visando as próximas eleições municipais e as
presidenciais de 2018.
O ex-candidato presidencial Henrique Capriles anunciou sua saída da
coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), em protesto contra
a posse de quatro governadores oposicionistas perante a Assembleia
Constituinte dominada por governistas.
Capriles condicionou seu retorno à retirada de Henry Ramos Allup,
veterano líder da Ação Democrática (AD), à qual pertencem os quatro
governadores.
“Quando se está doente é preciso operar e tirar o tumor. Na Unidade é
preciso fazer o necessário”, afirmou Capriles, que considerou que a MUD
deve se “reorganizar”.
Após as eleições de 15 de outubro, quando os chavistas de Maduro
conquistaram 18 dos 23 governos estaduais, a MUD revelou suas fissuras, e
na segunda-feira quatro de seus cinco governadores eleitos juraram
perante a Constituinte, apesar da coalizão ter reiterado que não cederia
à “chantagem” do governo.
Ramos Allup assegurou nesta terça que os quatro “se autoexcluíram” da
AD, partido que dominou a política venezuelana até a chegada de Hugo
Chávez ao poder, em 1999.
Mas Capriles, do Primeiro Justiça (PJ), onde milita o único
governador opositor que não se subordinou à Constituinte, acusou Ramos
Allup de “lavar as mãos”, pois na AD “não se move uma folha” sem o seu
aval.
Maduro, que ameaçou destituir os cinco governadores opositores,
celebrou a posse como um reconhecimento da Constituinte, considerada
“fraudulenta” pela MUD e desconhecida por 12 governos latino-americanos,
União Europeia, Estados Unidos e Canadá.
“É o cenário perfeito para o chavismo, que avança em sua estratégia
de conquistar a legitimidade da Constituinte”, assegurou à AFP o
analista Eugenio Martínez.
– Implosão opositora –
Apesar de 80% dos venezuelanos rejeitarem a sua gestão pela grave
crise econômica, Maduro se mostra triunfante, e pediu para que seu
partido se prepare para vencer as próximas eleições municipais, ainda
sem data, e as presidenciais de 2018.
“Enquanto eles andam com suas disputas, divisionismo e ardendo de
ódio, nós trabalhamos (…) Para ganhar mais uma vez”, disse nesta
terça-feira o presidente, que se reuniu com os governadores da polêmica.
A decisão de participar ou não nas eleições municipais será outra
fonte de divisão. O outro partido majoritário da MUD, Vontade Popular
(VP), do líder Leopoldo López, em prisão domiciliar, já adiantou que não
participará.
“A MUD perdeu a sua utilidade para a Venezuela”. “Tem que reformular
uma nova aliança” que consiga “a saída da ditadura”, disse Freddy
Guevara, porta-voz do VP.
Martínez acredita que o chavismo vai aproveitar esse momento para “se
radicalizar ainda mais e chegar em 2018 a eleições que domine
amplamente ante um adversário dividido”.
“O maior êxito do governo seria a fissura total da oposição. Não
precisa de muito mais”, advertiu o analista Luis Vicente León,
destacando que, fraturada, a MUD não tem opções de sucesso.
“O governo está cumprindo o seu plano de se apropriar do poder
indefinidamente, o que implica destruir o seu principal inimigo
político. A MUD pode estar implodindo”, declarou à AFP o cientista
político Luis Salamanca.
– O custo político –
No olho do furacão, os governadores opositores de Táchira (oeste),
Anzoátegui (nordeste), Mérida (oeste) e Nueva Esparta (norte) defenderam
sua decisão nesta terça.
“Assumimos o custo político para defender o voto de nossos
eleitores”, justificou a governadora de Táchira, Laidy Gómez, em
coletiva ocorrida em um hotel, pois o Parlamento, controlado pela MUD,
proibiu de usarem sua sede.
O analista Benigno Alarcón opina que “a incoerência (…) nunca paga em política”.
Já Martínez considera que a MUD se distancia ainda mais de seus
seguidores, desanimados depois de não conseguir tirar Maduro do poder
com quatro meses de protestos, que deixaram 125 mortos.
“Que maneira de desencantar milhões de pessoas que estavam esperando
resistência. É a sua morte política”, declarou Margarita García,
comerciante de 52 anos, em San Cristóbal, capital de Táchira.
Gendrick Parra, vendedor de 38 anos, considerou que o quinto
governador opositor, Juan Pablo Guanipa, de Zulia (noroeste), devia
juramentar pois disputou as eleições sob as regras do chavismo.
A Constituinte decidirá se irá convocar novas eleições em Zulia.
“O governo ganha mais terreno a cada dia fazendo com que as pessoas
se decepcionem e não queiram sair para votar”, acrescentou Parra, em
Maracaibo, capital de Zulia.
Mas Evelinda Villalobos, corretora de seguros em Maracaibo, de 55
anos, acredita que Guanipa foi o único que teve as “vontades bem
colocadas”
Com mais de 120 milhões de usuários no Brasil, o WhatsApp tem
se tornado um canal cada vez mais comum para aplicação de golpes. Uma
das fraudes mais recentes a se espalhar usa a figura do jogador de
futebol Neymar para induzir o usuário a contratar um serviço adicionai
sem prévia autorização ou informações sobre os custos. Golpe usa imagem do jogador Neymar como isca
No golpe, a pessoa recebe uma mensagem para baixar um aplicativo para
“escalar Neymar” em um time internacional e mudar a tela de fundo do
Whatsapp.
Quando o usuário baixa o app, ele coloca o número do celular para
finalizar o processo. O golpe é finalizado e o consumidor, sem saber,
acaba de contratar um serviço adicional semanal de R$ 3,99 da Mobsfun,
empresa controlada pela Interract2media, com sede em Cingapura.
Outro golpe recente praticado por fraudadores envolve a empresa de
cosméticos Boticário. Mais de 1 milhão de pessoas caíram no golpe que
prometia um vale-presente no valor de R$ 150, segundo a empresa de
segurança digital Psafe.00 Cobrança é feita pelas operadoras
Para que o usuário efetivamente pague ao cair no golpe, é necessário
que as operadoras de telefonia móvel autorizem e firmem um contrato com
companhias de serviços adicionais. Na maioria das vezes, o serviço
contratado é legal. Mas, em alguns casos, os criminosos se aproveitam do
sistema de pagamento das operadoras para aplicar golpes milionários nos
usuários.
Para Rafael Zanatta, advogado e pesquisador em telecomunicações do
Instituto de defesa do consumidor (IDEC), as operadoras deveriam ter uma
verificação mais rigorosa para evitar que esse sistema de pagamento
fosse usado por empresas ilícitas. “ O problema é a falta de regras, não
há uma forte investigação para descobrir quem são os terceiros que
exploram o consumidor. Muitas vezes, a operadora tem sua própria
legislação, é um mercado completamente desregulamentado”, diz. Como se prevenir
Checar a origem da promoção e conversar com outras pessoas sobre a
veracidade das campanhas das marcas pode ser uma boa saída para evitar
esses fraudes, como explica Emílio Simoni, diretor do laboratório de
segurança da PSafe. “ Os hackers são muito oportunistas. Mesmo que o
usuário receba esse tipo de mensagem de algum familiar, deve desconfiar.
Pesquise a origem dessas promoções, ligue no SAC da empresa, vá a uma
loja física e instale um antivírus capaz de reconhecer páginas falsas”.
É possível reaver o dinheiro perdido em golpes pela internet. O
consumidor pode pedir o estorno para a própria operadora, que tem a
obrigação de ressarci-lo em dobro, em até dez dias, de acordo com
Zanatta. Caso a empresa se recuse a fazer a restituição, o consumidor
pode entrar em contato com a Anatel e explicar o ocorrido. Se, ainda
assim, não seja resolvido pela Agência, a indicação é procurar o Procon
da cidade em que ele mora e fazer uma reclamação diretamente na área de
serviços adicionais.
A Istoé entrou em contato com as operadoras Vivo, Claro, Oi e TIM. As
operadoras informaram que adotam políticas de segurança rigorosas para
cadastro de empresas parceiras.
A revisão das tarifas ainda depende de aprovação pelo Ministério das ComunicaçõesMarcello Casal Jr/Agência Brasil
O Ministério da Fazenda autorizou, pela segunda vez este ano, o
aumento das tarifas cobradas pelos Correios. Na edição de hoje (18) do Diário Oficial da União,
o governo autoriza o reajuste “sob forma de recomposição” das tarifas
dos serviços postais e telégraficos nacionais e internacionais. O
reajuste ocorre em duas parcelas: a primeira de 6,121% será por prazo
indeterminado e a segunda, de 4,094% vai vigorar por 64 meses.
A revisão das tarifas ainda depende de publicação de aprovação pelo
Ministério das Comunicações, de acordo com o Diário Oficial. Com o
aumento, a carta comercial de até 20 gramas passará a custar R$ 1,83.
Anteriormente, o valor era R$ 1,23.
Em abril,
o Ministério da Fazenda havia autorizado aumento de 7,485% nas tarifas
dos serviços postais e telegráficos prestados pelos Correios. Na época, a
empresa explicou que os serviços da estatal são reajustados todos os
anos, com base na recomposição dos custos, como aumento dos preços dos
combustíveis, contratos de aluguel, transportes, vigilância, limpeza e
salários dos empregados. As tarifas são atualizadas com base no Índice
de Serviços Postais, indicador formado a partir de uma cesta de índices,
como INPC, IPCA, e IGP-M.
Cidade-símbolo das atrocidades do EI voltou a ser controlada pela aliança curdo-árabe apoiada pelos EUA
Rojda Felat, uma das comandantes das Forças Democráticas Sírias,
andava com a bandeira de seu grupo no local onde extremistas realizavam
execuções
( Foto: AFP )
Raqa. A cidade de Raqa, ex-capital do grupo extremista
Estado Islâmico (EI) na Síria, foi completamente tomada, ontem, pela
aliança de combatentes curdos e árabes apoiada pelos EUA após vários
meses de combate.
A queda de Raqa, anunciada por um porta-voz das Forças Democráticas
Sírias (FDS), representa uma grande derrota para o grupo ultrarradical,
que tem visto seu "califado" desmoronar na Síria e no Iraque em razão
das muitas ofensivas para expulsá-lo das regiões conquistadas a partir
de 2014. "As operações militares em Raqa terminaram (...) a cidade está
sob controle total das FDS", afirmou o porta-voz da aliança, Talal
Sello.
"Agora começam as operações de rastreamento para eliminar as células
dormentes, se encontrarmos, e para retirar as minas terrestres na
cidade".
Ontem, as forças curdo-árabes tomaram o hospital e o estádio municipal
no centro de Raqa, os dois últimos redutos onde dezenas de jihadistas
estrangeiros estavam entrincheirados. Raqa se tornou o símbolo das
atrocidades cometidas pelo grupo. Nesta cidade teriam sido planejados
atentados contra vários países, sobretudo na Europa.
Segunda-feira à noite, as FDS anunciaram a "libertação total" do
tristemente famoso cruzamento de Al-Naïm, onde o EI realizava suas
execuções quando controlava a cidade.
"Há semanas os jihadistas se retiraram deste cruzamento, mas as FDS não
conseguiram controlá-lo antes em razão das muitas minas terrestres",
segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). Ao redor, a
paisagem é de desolação: edifícios em ruínas e ruas cheias de escombros.
Em mais de quatro meses de combates, 3.250 pessoas, incluindo 1.130
civis, morreram, segundo o OSDH.
Desde 5 de junho, "1.130 civis, incluindo 270 crianças e de 2.120
combatentes" do EI e das forças apoiadas pelos EUA morreram, indicou o
OSDH.
Nos últimos dias, em virtude de um acordo negociado pelos líderes
locais e representantes tribais, os últimos civis que estavam presos na
cidade puderam ser evacuados e os extremistas sírios foram autorizados a
deixar a cidade, segundo as FDS. Alívio
Cerca de 275 jihadistas sírios e suas famílias foram evacuados. Não há
informações ainda se eles foram autorizados a ir para outras regiões
ainda nas mãos do EI. A coalizão internacional liderada por Washington
reiterou em diversas ocasiões que os estrangeiros não seriam autorizados
a deixar Raqa.
Para Um Abdallah, que fugiu da cidade há três anos, a "felicidade é
indescritível". "Quando minha irmã anunciou a libertação, começou a
chorar e eu também", disse o homem de 40 anos, atualmente em Kobane.
O regulador de segurança
informática do governo dos Estados Unidos advertiu sobre uma falha de
segurança no protocolo de criptografia de Wi-Fi - GETTY/AFP/Arquivos
O regulador de segurança informática do governo dos Estados
Unidos advertiu nesta segunda-feira sobre uma falha de segurança no
protocolo de criptografia de Wi-Fi que poderia permitir espiar ou roubar
informações confidenciais por meio das redes wireless.
A Equipe de Resposta ante Emergências Informáticas (CERT, em inglês)
assinalou que devido a este problema hackers podem invadir ou tomar o
controle de milhões de dispositivos que usam Wi-Fi.
A CERT, que faz parte do Departamento de Segurança Nacional, disse
que a falha foi encontrada por pesquisadores da universidade belga KU
Leuven.
De acordo com o site de notícias Ars Technica, a descoberta foi
mantida em segredo durante semanas para permitir que os sistemas Wi-Fi
desenvolvessem trechos de segurança.
Os hackers poderiam aproveitar essa falha no WPA2, como é chamado o
protocolo criptografado, “para ler informações que anteriormente
acreditava-se estarem criptografadas de forma segura”, indicou um blog
dos pesquisadores da KU Leuven.
“Podem se aproveitar disto para roubar informação confidencial como
números de cartões de crédito, senhas, mensagens, e-mails, fotos. O
ataque pode acontecer em toda as redes de Wi-Fi protegidas modernas”,
apontou.
“Dependendo da configuração da rede, também é possível enviar e
manipular dados. Por exemplo, um hacker poderia injetar um ransomware ou
outro malware em sites”, explicou.
Esta falha foi batizada de KRACK, acrônimo de Key Reinstallation
AttaCK, porque permite aos hackers inserir uma nova senha em uma conexão
Wi-Fi que mantém os dados particulares.
Especialistas em segurança informática observaram que esta falha é
grave pela larga presença de redes Wi-Fi e pela dificuldade de corrigir
milhões de pontos de acesso.
“Todo mundo tem que ter medo”, disse Rob Graham, da Errata Security,
em uma publicação de blog. “Isso significa que na prática os hackers
podem decifrar uma grande quantidade de tráfego de Wi-Fi”.
O Wi-Fi Alliance, grupo que fixa as normas para as conexões wireless, pediu aos usuários que não entrem em pânico.
“Não há provas de que esta vulnerabilidade tenha sido aproveitada de
forma maliciosa e o Wi-Fi Alliance tomou medidas imediatas para garantir
que os usuários possam continuar contando com Wi-Fi com fortes
proteções de segurança”, declarou em comunicado.
Projeções de vendas e contratação de
temporários mostram que as festas de fim de ano vão marcar o fim da
crise. É o presente que o País precisava
Bárbara Libório
Istockphoto
No auge da crise econômica, quando a inflação era estratosférica, os
preços pareciam inalcançáveis e os juros estavam acima de dois dígitos,
os presentes colocados pelas famílias aos pés das árvores de Natal
minguaram. A queda no consumo fez com que o comércio varejista amargasse
nos últimos dois anos recessão e queda nas vendas. A geração de vagas
de empregos temporários, muitas vezes a porta de entrada de jovens para o
mercado de trabalho, também caiu, em um claro reflexo da recessão
econômica que massacrava o País. O ano de 2017, no entanto, deve colocar
fim aos tempos árduos. O setor varejista prevê que o Natal será o
melhor desde 2013, ajudando a aliviar perdas e alavancar negócios. LOTADO Shopping em São Paulo: vendas em alta são bom indicador para 2018 (Crédito:ERNESTO RODRIGUES/AE)
De acordo com dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens,
Serviços e Turismo (CNC), as festas de fim de ano devem registrar
aumento tanto nas vendas quanto na abertura de vagas temporárias. Serão
R$ 34,3 bilhões movimentados até dezembro, um avanço de 4,3% nos
negócios no varejo. “É uma notícia que se insere no contexto de
recuperação do consumo: baixa inflação, queda de juros, recuperação do
mercado de trabalho e da confiança do consumidor, que está menos receoso
de comprar e assumir prestações”, afirma Fabio Bentes, economista da
CNC.
O comércio vai movimentar R$ 34,3 bilhões até dezembro,
um sinal de que os consumidores estão otimistas
Com o aumento nas vendas, o comércio já começa a se preparar para
receber o maior fluxo de consumidores nas lojas. Para suprir a demanda,
entre e setembro e dezembro deste ano devem ser contratados cerca de
73,1 mil trabalhadores temporários, um avanço de 10% em relação aos 66,7
mil postos criados no ano passado. “À medida em que temos a
flexibilização na legislação, isso também pode estimular o empresário a
arriscar e contratar um pouco mais”, diz Otto Nogami, professor de
economia do Insper. O otimismo do setor deve fazer aumentar também a
taxa de efetivação dos trabalhadores temporários. Segundo a CNC, a taxa,
que se manteve na média de 15% nos últimos dois anos, deve chegar a 27%
depois do Natal deste ano. “Essa é uma boa notícia principalmente para o
trabalhador jovem, que é o mais castigado pela crise”, diz Fabio
Bentes, economista da CNC. Os setores que mais devem empregar são os de
vestuário (48,9 mil vagas) e o de hiper e supermercados (10,4 mil
vagas). Juntos, eles costumam responder por 60% das vendas natalinas. Os
maiores salários, no entanto, deverão se concentrar no ramo de artigos
farmacêuticos, perfumarias e cosméticos (R$ 1.446), seguidos pelas lojas
especializadas na venda de produtos de informática e comunicação (R$
1.391). INDÚSTRIA
As encomendas para a data também já elevaram produção da indústria,
em mais um sinal de que as vendas crescerão. No período em que os
pedidos de Natal costumam ser feitos, entre junho e agosto, o segmento
de eletrônicos registrou alta de 20,4% na produção, um resultado
extraordinário diante da queda de 5,4% no mesmo período do ano passado. O
setor de vestuário também reagiu: cresceu 6,7% em 2017, enquanto em
2016 havia caído 1,1%. “A gente deve ver uma recuperação maior da
indústria, embora esse seja um setor que geralmente demora mais para se
reerguer da crise”, diz Joelson Sampaio, professor da FGV EESP.
Uma das medidas que deve impulsionar o consumo das famílias é a
liberação de R$ 15,9 bilhões de contas inativas do PIS/Pasep. Estima-se
que o comércio varejista irá embolsar R$ 4 bilhões desse montante. “É um
dinheiro que entra em uma época do ano em que, por mais que as pessoas
se contenham, partem para o consumo quando têm dinheiro no bolso”, diz
Nogami. A expectativa de um Natal melhor é um indicador positivo para
2018. “Os dados de agora são antecedentes de um 2018 melhor que 2017,
que já foi bem melhor que 2016”, afirma Sampaio. “Podemos dizer que
saímos da crise.” Um bom presente de Natal para o País.
Por sua vez,
o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, considera que a Corte
agiu de forma acertada
Para o procurador, que coordena a força-tarefa da Operação
Lava-Jato no Paraná, sentença do Supremo Tribunal Federal criou 'escudo'
para ilicitudes
( Foto: Kid Júnior )
Curitiba/Aparecida. Em publicação nas redes sociais, o
procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava-Jato
em Curitiba, criticou a decisão tomada na quarta-feira (11) pelo Supremo
Tribunal Federal (STF), que determinou que medidas cautelares contra
parlamentares devem receber aval do poder Legislativo.
"Não surpreende que anos depois da Lava-Jato os parlamentares continuem
praticando crimes: estão sob suprema proteção. Parlamentares têm foro
privilegiado, imunidades contra prisão e agora uma nova proteção: um
escudo contra decisões do STF, dado pelo próprio STF", escreveu. O
principal beneficiado da decisão do Supremo é o senador Aécio Neves
(PSDB-MG), alvo de uma decisão da Primeira Turma do tribunal que impôs a
ele um recolhimento domiciliar noturno. A decisão foi recebida por
revolta no Senado Federal, que ameaçou desobedecer a decisão e votar
contra seu cumprimento no Plenário. Os senadores, no entanto, decidiram
esperar o julgamento no plenário do STF. Após um empate entre os
ministros, o voto decisivo foi dado pela presidente do Supremo, Cármen
Lúcia.
Em sua publicação, Deltan Dallagnol elogiou dois ministros que, segundo
ele, consistentemente têm tomado decisões de combate à corrupção.
"Fica o reconhecimento à minoria que vem adotando posturas consistentes
e coerentes contra a corrupção, especialmente (ministros Luiz Edson)
Fachin e (Luís Roberto) Barroso", escreveu. Outro procurador da
Lava-Jato, Carlos Fernando dos Santos Lima, também usou as redes sociais
para criticar a decisão do Supremo Tribunal Federal.
"Hoje tivemos a submissão do STF ao Congresso. Podemos chamá-lo ex-Supremo", escreveu. Alckmin apoia Supremo
O governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) classificou ontem como
acertada a decisão do STF. A fala aconteceu em conversa com jornalistas
após a celebração dos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora
Aparecida, no interior de São Paulo. "Os Três Poderes são independentes e
devem ser harmônicos. Acho que a decisão foi correta no sentido de se
evitar uma crise institucional. Decisão do Supremo se respeita e se
cumpre", afirmou o governador. Redução de cautelares
Apesar de o Supremo Tribunal Federal (STF) ter decidido, por 10 votos a
1, que são aplicáveis medidas cautelares contra parlamentares, os
ministros Marco Aurélio Mello e Gilmar Mendes entendem que a decisão do
plenário de quarta-feira, deverá inibir a Corte de impor novas medidas
que interfiram no exercício do mandato. Como foi a votação
Edson Fachin, relator: Improcedente
Alexandre Moraes: Parcialmente procedente
Luis Roberto Barroso: Improcedente
Rosa Weber: Improcedente
Luiz Fux: Improcedente
Dias Toffoli: Parcialmente procedente
Ricardo Lewandowski: Parcialmente procedente
Gilmar Mendes: Procedente
Marco Aurélio: Procedente
Celso de Mello, Decano: Improcedente
Cármen Lúcia, Presidente Parcialmente procedente
Apesar dos 181 anos de condenação e ao
menos 48 estupros, o médico-monstro Roger Abdelmassih vai levar uma vida
de conforto em sua casa por determinação da Suprema Corte. O que isso
diz sobre nossa Justiça?
Fabíola Perez
Ernesto Rodrigues/Folhapress/Cotidiano
Antes mesmo de receber a notícia de que havia sido beneficiado pela
sétima vez — em menos de três meses — por um habeas corpus que lhe
permite cumprir prisão domiciliar, o ex-médico e estuprador Roger
Abdelmassih, 74 anos, já desfrutava de regalias que milhares de
brasileiros em liberdade jamais conseguirão experimentar. No domingo 1,
dois dias após a decisão concedida por Ricardo Lewandowski, ministro do
Supremo Tribunal Federal, um veículo repleto de compras de supermercado
estacionava na rua Ibiapinópolis, no bairro de alto padrão Jardim
Paulistano, em São Paulo. As sacolas abasteceram o apartamento do 12º
andar onde vivem a esposa de Roger, Larissa Maria Sacco, que é
procuradora licenciada, e os filhos gêmeos do casal. Na lista de
compras, alguns dos produtos que Abdelmassih sentia falta: iogurtes, pão
sírio e mussarela de búfala. Na segunda-feira 2, o homem condenado a
181 anos por ter cometido ao menos 48 estupros em 37 mulheres chegou ao
condomínio em outro automóvel. Carregado por um dos funcionários do
prédio e acomodado em uma cadeira de rodas, ele retornava ao conforto da
vida domiciliar. 04/10/2017 Apartamento de Roger Abdelmassih. (Crédito:Claudio Gatti)
O apartamento recebeu uma coleção de tapetes persas. Um dos
funcionários do prédio diz ter ficado com dores nas costas de tanto carregá-los
“Se fosse pobre estaria preso”
Um dos quartos do aconchegante apartamento de 272 metros quadrados
foi adaptado para servir de unidade de terapia semi-intensiva, com maca
de hospital, suporte para pendurar soro, remédios, cilindros de oxigênio
e uma cama king size. Na sala de quase 65 metros quadrados, além de um
imenso sofá, há objetos decorativos em estilo árabe e tapetes persas que
chegaram recentemente de uma das fazendas vendidas pela família
Abdelmassih. Do lado de fora do apartamento avaliado em cerca de R$ 5
milhões, as cortinas quase sempre fechadas escondem o dia a dia do
ex-médico — e sempre monstro. Desde 21 de junho, quando a 1ª Vara de
Execuções Criminais de Taubaté concedeu pela primeira vez o benefício de
prisão domiciliar em função de laudos que atestariam uma condição de
saúde debilitada de Abdelmassih, os moradores do condomínio Monte Verde
sentem-se incomodados com o vai e vem do ex-médico. “Eles perguntam até
quando esse inferno vai durar”, diz um funcionário que não quis se
identificar. Prestar assistência ao estuprador revolta quem trabalha no
prédio. “É horrível ter de carregá-lo no colo”, diz um deles. “A Justiça
é falha. Se fosse uma pessoa pobre não estaria em liberdade”, afirma,
em tom indignado, um prestador de serviço do edifício vizinho.
Dos mais de 100 anos de condenação em regime fechado, Abdelmassih
passou somente três na cadeia. Em agosto de 2014, após ser encontrado
foragido no Paraguai, ele foi levado à Penitenciária II de Tremembé.
Larissa costumava visitá-lo duas vezes por semana acompanhada pelo
motorista. Hoje, três anos depois, ela evita sair do apartamento. O
casal e as crianças vivem uma rotina de reclusão. Momentos com o pai só
são permitidos na sala do imóvel. Só têm acesso ao quarto a mulher e as
empregadas, uma cozinheira e uma faxineira. Três vezes por semana, um
carro chega para entregar os cilindros de oxigênio — Abdelmassih tem
insuficiência cardíaca crônica. O veículo da família, uma SUV blindada
de R$ 200 mil, é usado principalmente para levar os filhos à escola.
Ambos estudam em um colégio na avenida Paulista com mensalidades de R$
2,6 mil. A alegação de problemas de saúde, segundo funcionários, pode
ser fingimento. Eles relatam não haver acompanhamento médico.
Abdelmassih já foi flagrado levantando da cadeira de rodas com
facilidade. “O tratamento médico deve ser comprovado à Justiça”, afirma
Lúcio França, advogado criminalista. Relatórios mensais sobre a saúde de
Abdelmassih devem ser enviados à 1ª Vara de Execuções Criminais de
Taubaté. “Pela gravidade do caso, ele deveria ter acompanhamento diário
de enfermeiras e fisioterapeutas.” Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress; Gabriela Bilo / Estadão
Além do estado de saúde, a ruptura do contrato do governo de São
Paulo com a empresa fornecedora de tornozeleiras eletrônicas também
colaborou para a concessão do benefício ao ex-médico. Em agosto, ele foi
mandado de volta à cadeia pela falta do equipamento. Dias depois, o
advogado Antonio Celso Galdino Fraga alegou que seu cliente não poderia
sofrer as consequências de uma falha do Estado. Hoje, Abdelmassih vive
sem monitoramento, porém a Polícia Penitenciária visita o edifício e
questiona funcionários duas vezes por dia. A presença do criminoso
causou tanta revolta em alguns moradores que a síndica pediu que o
proprietário do imóvel não renovasse o contrato com o atual inquilino. O
aluguel de R$ 19 mil, que inclui o condomínio, é pago a um empresário. O
detalhe é que o contrato estaria no nome de um familiar de Larissa.
“Ela costuma omitir o sobrenome”, diz o funcionário do prédio. Falha do Estado
Embora a decisão de conceder habeas corpus tenha ocorrido dentro da
lei, a ação casou indignação em diversas esferas da sociedade. “A
justiça nem sempre é social. Trata iguais de forma desigual”, diz
França. O fato de Abdelmassih ser um médico conhecido e de alto poder
aquisitivo fez com que ele tivesse rápido acesso a determinados
benefícios. “É muito difícil uma pessoa com problemas de saúde obter o
direto à prisão domiciliar.” O benefício tem sido utilizado com mais
frequência em função da operação Lava Jato, por pessoas com boas
condições sociais e financeiras. Caso ocorra o agravamento de sua
condição de saúde ou até mesmo o óbito, Estado e juízes poderiam ser
responsabilizados por omissão, respondendo a um processo criminal e
administrativo junto ao Conselho Nacional de Justiça, caso a defesa
requeira.
“O réu ofendeu a integridade, causou danos físicos e morais a muitas
vítimas. Esse benefício só poderia ser concedido a réus em regime
aberto”, diz a promotora de Justiça do Ministério Público de São Paulo,
Fabiana Dal’Mas Rocha Paes. Para ela, a decisão de soltar Abdelmasssih
não atende ao interesse público. “Todos os presos deveriam ter acesso a
atendimento médico, independentemente da classe social. Uma falha do
Estado não justifica colocar o réu em regime domiciliar.” Segundo
Fabiana, em outros países, estupradores cumprem pena por esse tipo de
crime somente em regime fechado. Além disso, Abdelmassih tem como
agravante a fuga que organizou em janeiro de 2011, após a condenação a
278 anos. O fato se contrapõe ao argumento do ministro Lewandowski de
que ele não teria cometido nenhum ato que quebrasse a confiança do juízo
de execução penal. A decisão abre precedentes perigosos. Segundo
Fabiana, como o crime de estupro é subnotificado, uma pena
desproporcional pode servir como desestímulo às denúncias.
A volta de Abdelmassih para casa é um pesadelo também para as pessoas
traumatizadas pelos horrores praticados por ele. “A decisão do STF foi
infeliz. Abdelmassih destruiu vidas, famílias inteiras. Muitas me
procuraram pedindo ajuda psicológica, pois estão abaladas”, afirma a
psicóloga Maria do Carmo dos Santos, presidente do grupo Vítimas Unidas,
formado por mulheres atacadas pelo estuprador. “Foi desanimador porque
lutamos muito pra colocá-lo na cadeia.” Há vários casos de depressão e
síndrome do pânico entre essas mulheres, e qualquer nova notícia
envolvendo o nome de Abdelmassih é um baque para que os traumas do
passado retornem. Várias denunciantes se expuseram publicamente e temem
que o ex-médico, ainda hoje um homem influente, comece uma perseguição
contra elas. “Se alguma delas se suicidar, o STF estará com as mãos
sujas de sangue”, diz Santos.
Denúncias contra o estuprador surgem até hoje. A última foi feita no
dia 15 de setembro deste ano em uma delegacia de São Paulo. Durante o
tratamento reprodutivo em 2004, uma paciente acordou nua depois de uma
sedação com Abdelmassih fitando seu corpo e notou a vagina molhada,
situação que nada teria a ver com o procedimento em questão. “Até hoje
mulheres me escrevem para falar de alguma situação de constrangimento,
abuso ou mesmo crime que viveram na clínica”, afirma Vanuzia Lopes,
fundadora do Vítimas Unidas e uma das responsáveis por localizar
Abdelmassih no Paraguai. Além dos estupros, surgiram relatos
incriminando o ex-médico por manipulação genética. Há casais que fizeram
o tratamento com ele e, mais tarde, descobriram que os filhos que
tiveram não eram seus porque o óvulo não era da mãe ou o esperma não era
do pai. “Encaminhamos uma denúncia contra o Brasil na Organização dos
Estados Americanos, que foi aceita, por descaso em relação aos crimes
genéticos cometidos por ele e exigindo uma nova legislação para
reprodução assistida”, afirma Vanuzia. Óvulos de várias mulheres também
sumiram e até hoje pacientes e vítimas procuram pelo material genético
que teria sido deixado na clínica. No prédio em que cumpre a pena,
funcionários afirmam que ele costumava pagar para pessoas que
trabalhavam ao redor da mansão onde funcionava a clínica para obter
sêmen.
Antes de ser preso preventivamente, Abdelmassih desfrutava de uma
vida luxuosa. Costumava cobrar R$ 30 mil por três tentativas de
gravidez. O aluguel da mansão onde funcionava sua clínica era de R$ 70
mil. Com a prisão, a principal fonte de riquezas secou. Mas ele mantinha
ainda outras atividades. O ex-médico era também um dos principais
fazendeiros de Avaré, interior de São Paulo. Segundo o Ministério
Público de São Paulo, o cartório identificou à época da denúncia que,
das 17 propriedades rurais em nome da empresa agropecuária da qual ele é
sócio, duas foram vendidas e 14 repassadas a grandes bancos. Só em
terras da região, seu patrimônio era estimado em R$ 18 milhões. Desde
dezembro do ano passado, a juíza Adriana Sachsida Garcia determinou o
bloqueio dos bens do ex-médico para que possam servir de pagamento às
indenizações. O MP também pediu o congelamento do patrimônio de Larissa
Sacco e da irmã Elaine Therezinha Sacco Khouri, que teriam criado a
Agropecuária Colema para receber dinheiro das empresas que exploram os
serviços da fazenda de Avaré. Vidal Cavalcante/AE; Danilo Verpa/Folhapress
Enquanto estava foragido, foi montado um esquema financeiro para que
grandes quantidades de dinheiro em espécie, escondidos na fazenda,
cruzassem a fronteira. A operação era comandada pela cunhada Elaine e
pela irmã do ex-médico, Maria Stela. A Colamar, aberta no nome de
Larissa e controlada por Elaine, tinha como objetivo enviar recursos ao
casal. Abdelmassih ainda tem participação em três empresas no estado de
São Paulo: o Instituto do Homem, a Massih Serviços Empresariais e a
Agropecuária Sovikajumi. Não é de hoje que a história do ex-médico
desperta indignações. Ele também teria recebido recursos do ex-dono do
hospital São Luiz em São Paulo, Ruy Marco Antônio. Funcionários da
família faziam o transporte das cédulas até o Paraguai.
Duas empregadas e um motorista particular trabalham para
o ex-médico, que ainda tem participações em três empresas em SP
O promotor de Justiça de São Paulo José Reinaldo Guimarães Carneiro
lembra que as primeiras denúncias contra ele foram rejeitadas. Tempos
depois, o inquérito desapareceu do fórum criminal da Barra Funda.
Somente após a visibilidade do caso, o documento foi reencontrado em um
banheiro do prédio. Hoje, a Justiça parece tratar o caso com a mesma
indiferença. O QUE ESTÁ POR TRÁS DA PRISÃO DOMICILIAR Tipo de processo
O ex-médico está submetido a um processo de execução penal, que ocorre
quando o preso está cumprindo pena. Nele, determina-se a progressão do
regime. O juiz pode tomar decisões e os trâmites são mais rápidos Estado de saúde
Internado diversas vezes após ser preso, o ex-médico apresentou
problemas cardíacos. Com isso, advogados se dividiram ao decidir se ele
deveria ser tratado em casa ou no presídio. Um dos laudos periciais
afirmava que a doença cardíaca era grave Interpretação da lei
De acordo com a legislação, presos com doenças graves ou maiores de 70
anos que cumprem pena em regime aberto podem ter a pena revertida em
prisão domiciliar. Em alguns casos, o benefício pode ser aplicado para
presos em regime fechado Tornozeleira eletrônica
O médico usava o equipamento em casa, mas, em agosto, o governo de São
Paulo rompeu o contrato com a empresa fornecedora. A defesa alega que
ele não pode arcar com um ônus do Estado
Com Camila Brandalise, Eliane Lobato e Alan Rodrigues
A Amazon terá de devolver 250 milhões de euros (US$ 294
milhões) para Luxemburgo em impostos supostamente não pagos, segundo
decisão anunciada hoje pela Comissão Europeia, o órgão antitruste da
União Europeia.
Na visão do braço executivo da UE, Luxemburgo concedeu ao gigante do
varejo online americano ajuda estatal ilegal na forma de um favorável
acordo tributário que limitava os pagamentos de impostos da Amazon a
Luxemburgo, prejudicando concorrentes do setor.
Em resposta à decisão da UE, um porta-voz da Amazon declarou que a
empresa acredita não ter recebido “tratamento especial de Luxemburgo” e
ter pago “impostos em plena concordância com as leis tributárias de
Luxemburgo e internacionais”.
O porta-voz também informou que a Amazon irá considerar a possibilidade de apelar da decisão.
O anúncio da UE faz parte de esforços mais amplos do bloco de mirar
grandes empresas de tecnologia que estariam pagando menos impostos do
que deveriam por suas atividades na Europa. Fonte: Dow Jones Newswires.
Na noite de domingo, segundo
informações da polícia, Paddock se instalou em um quarto do 32º andar do
Hotel Cassino Mandalay Bay, no centro de Las Vegas, e disparou várias
rajadas contra a multidão que assistia a um festival de música country -
AFP
AFP
Os americanos tentavam compreender, nesta terça-feira (3), as
razões que levaram um aposentado equipado com vários fuzis a atirar
contra milhares de espectadores de um show de música country em Las
Vegas, matando 59 pessoas e ferindo 527.
Segundo o presidente Donald Trump, Stephen Paddock, de 64 anos e que
cometeu suicídio em seu quarto de hotel após o maior massacre da
história recente dos Estados Unidos, “era um homem doente. Um homem
demente, com muitos problemas”.
O atentado foi reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI), mas as
autoridade americanas ainda não estabeleceram qualquer relação entre
este americano, residente de um vilarejo tranquilo de Nevada, apostador
ávido, piloto amador e caçador, e os extremistas.
A imprensa americana começava a falar sobre a identidade das vítimas:
uma professora da Califórnia, uma enfermeira do Tennessee, uma
secretária do Novo México e assim por diante.
Na noite de domingo, segundo informações da polícia, Paddock se
instalou em um quarto do 32º andar do Hotel Cassino Mandalay Bay, no
centro de Las Vegas, e disparou várias rajadas contra a multidão que
assistia a um festival de música country. Ele cometeu suicídio antes de
ser encontrado pela polícia.
Paddock dispunha de 23 armas de diferentes calibres no quarto de onde
atirou, provavelmente transportadas em mais de 10 malas, de acordo com o
xerife da cidade, Joseph Lombardo.
Alguns fuzis tinham visor telescópico. Seu veículo continha nitrato
de amônio, um fertilizante que pode ser usado para produzir explosivos.
Em sua casa em Mesquite, a cerca de 120 km de Las Vegas, foi
encontrado um arsenal de 19 armas, milhares de munições e explosivos.
O FBI rejeitou a possibilidade de um ataque jihadista, após a
reivindicação do Estado Islâmico, que afirmou que o atirador se
converteu alguns meses atrás ao Islã e era chamado de “Abu Abdelberr, o
americano”.
“Não determinamos até agora nenhuma conexão com um grupo terrorista
internacional”, disse o agente federal Aaron Rouse em entrevista
coletiva.
– ‘Sem religião’ –
Este massacre foi o pior da história recente dos Estados Unidos, à
frente do cometido na boate gay Pulse de Orlando (Flórida), em junho de
2016 (49 mortos).
Na segunda-feira, Donald Trump não evocou a questão das armas, nem do
terrorismo. Em um breve pronunciamento na Casa Branca, afirmou que o
ato representa “o mal absoluto” e pediu que o país permaneça unido e
reze.
Pelo menos 22.000 pessoas assistiam ao show no centro de Las Vegas,
durante o festival de música country de três dias chamado “Route 91
Harvest”, quando os disparos começaram.
“Pareciam fogos de artifício”, comentou uma testemunha, Joe Pitz.
“Não sabíamos de onde vinham os tiros. Então, todo mundo corria sem
saber para onde ir”, relatou à AFP Ralph Rodriguez, um consultor de Los
Angeles.
Segundo a Polícia, Paddock não tinha antecedentes criminais nem
registro de prisão. Além de contador público, tinha uma licença de
piloto e possuía permissão para caça de animais de grande porte, válida
para o território do Alasca.
Paddock morava em uma casa junto a um campo de golfe e não tinha
afiliação política ou religiosa, de acordo com seu irmão, Eric Paddock.
Tampouco era “um cara ávido por (usar) pistolas”.
“Era apenas um cara normal. Algo se rompeu nele, algo aconteceu”, afirmou.
“É como se um asteroide tivesse atingido nossa família”, disse em outra entrevista ao jornal “Las Vegas Review-Journal”.
“Não temos ideia do que aconteceu”, completou.
O atirador chegou a seu quarto, de duas peças, em 28 de setembro, sem
que o pessoal do hotel notasse as armas. Quebrou os vidros da janela
para atirar com mais facilidade.
A companheira do atirador, uma australiana de 62 anos chamada Marilou
Danley, estava em Tóquio na segunda-feira, segundo o xerife. As forças
de ordem querem interrogá-la.
Maluf e José Dirceu já deveriam estar
atrás das grades faz tempo, mas fazem malabarismo jurídico e contam com a
condescendência da Justiça para permanecerem soltos
DIRCEU > Condenado a 20 anos por corrupção pelo juiz Sergio Moro, o TRF-4 aumentou a pena para 30 anos
> Ele já havia ficado 2 anos na cadeia e teria que
voltar ao presidio, mas apela em liberdade (Crédito: Arquivo / Agência O
Globo)
Tábata Viapiana
A situação vivida na última semana pelo deputado Paulo Maluf
(PP-SP), condenado em maio pelo STF a sete anos e nove meses de prisão, é
simbólica da impunidade ainda reinante no País, mesmo em tempos de Lava
Jato. O processo contra ele corre há um quarto de século. Mesmo assim,
teve julgamento definitivo interrompido graças a um pedido de vista
feito pelo ministro do STF, Marco Aurélio Mello. Nesse aspecto, a
história de Maluf frente aos tribunais entrelaça-se à do petista José
Dirceu. Senão vejamos. O ex-ministro José Dirceu teve sua pena ampliada
de 20 anos e 10 meses para 30 anos e nove meses pelo Tribunal Regional
Federal da 4ª Região, de Porto Alegre. Mesmo assim, e embora já tivesse
ficado preso por quase dois anos, o ex-capitão do time de Lula que
parece ter nascido para delinquir deu de ombros à decisão judicial.
Aposta que será salvo pelo STF, assim como Maluf, com a derrubada da
decisão que determina a detenção depois de julgamento em segunda
instância. Depois, dobrará a aposta: recorrerá ao próprio Supremo, onde
espera ser absolvido no mérito. MALUF – >
Foi condenado a 7 anos de prisão pelo STF. Seus advogados apelaram
>Em sessão na última segunda-feira 26, o ministro Edson Fachin
manteve a sentença. Mas desfecho da sessão foi adiada (Crédito:FLAVIO
FLORIDO/UOL/Folhapress)
A estratégia é a mesma. Condenados pelos tribunais, os políticos usam
chicanas jurídicas, a morosidade dos processos e a complacência de
juízes para se manterem fora da cadeia. A condenação de Maluf é
decorrente de uma fraude praticada pelo ex-prefeito de São Paulo em um
paraíso fiscal, Jersey, no Canal da Mancha, no Reino Unido. Motivo pelo
qual, suspeito de coação de testemunhas, ficou 41 dias preso na
Superintendência da Polícia Federal de São Paulo em 2005, juntamente com
o filho Flávio. Conhecido internacionalmente como o “senhor propina”,
Maluf já sofreu várias condenações, inclusive a de ter que devolver
cerca de R$ 25 milhões aos cofres públicos. Os Fuscas da Copa de 70, a
criação da Paulipetro e o frangogate estão relacionados ao seu nome. É
inacreditável que não esteja preso até hoje. Experimentou o infortúnio
por apenas três meses, há cinco anos.
Empresas controladas por Maluf, a Kildare e a Durant, foram
condenadas num paraíso fiscal por fraude. A corte da ilha de Jersey
mandou R$ 4,5 milhões destas empresas para o município de São Paulo. Mas
os juízes do paraíso fiscal condenaram as empresas a devolver outros
US$ 28,3 milhões (R$ 90,2 milhões). Wenderson AraujoO ministro do STF, Marco Aurélio Mello, pediu vistas ao processo que manda Maluf para a prisão O ESCÂNDALO ENGEVIX
Já Dirceu é acusado de receber R$ 11,8 milhões em propina da Engevix. A
empresa foi uma das empreiteiras que formou um cartel para ajuste prévio
de preços, fraudando as licitações da Petrobras a partir de 2005. Para
isso, a empresa teria pago propina a agentes da Petrobras em contratos
com a Unidade de Tratamento de Gás de Cacimbas (UTGC), a Refinaria
Presidente Bernardes (RPBC), a Refinaria Presidente Getúlio Vargas
(Repar) e a Refinaria Landulpho Alves (RLAM). Conforme a sentença, parte
da propina paga era redirecionada ao grupo político dirigido por José
Dirceu.
Ele havia sido condenado pelo juiz Sergio Moro em maio do ano passado
pelos crimes de corrupção passiva, organização criminosa e lavagem de
dinheiro. Inicialmente, a pena era de 23 anos e três meses de prisão.
Mas o próprio Moro reviu a sentença logo em seguida em razão de Dirceu
ter mais de 70 anos. A punição, então, ficou em 20 anos e dez meses – a
maior pena individual aplicada por Moro na Lava Jato. O ex-ministro
recorreu ao TRF4, mas foi derrotado. Segundo o relator do processo,
desembargador João Pedro Gebran Neto, os esquemas criminosos descobertos
na Lava Jato foram escancarados e teriam violado princípios norteadores
da administração pública como a legalidade, a moralidade e a
eficiência. Gebran foi quem estipulou a pena mais alta para Dirceu, de
41 anos de prisão, mas ela foi diminuída em função dos votos dos outros
dois desembargadores membros da 8ª Turma, Leandro Paulsen, que é o
revisor da Lava Jato, e Victor Laus. Gebran afirmou que a pena severa
não é resultado do rigor dos julgadores, mas da grande quantidade de
delitos cometidos pelo ex-ministro. Delitos em série, diga-se. Dirceu
posa de guerreiro do povo brasileiro, mas para a Justiça é um criminoso
contumaz: foi acusado de receber propina antes, durante e depois do
julgamento do Mensalão.
A defesa do ex-ministro pode recorrer com embargos de declaração, se
tiver alguma dúvida ou entender que há pontos obscuros no julgamento e
que precisam ser esclarecidos. É uma tática conhecida. Aos 71 anos,
Dirceu aproveita o tempo que lhe resta de liberdade. Com frequência, é
visto em convescotes e se dedica a mandar mensagens em texto ou áudio
para militantes do PT, instigando-os a “lutar pela retomada do poder”.
Só rindo. ABUSO CONDENATÓRIO E agora? Em decisão arbitrária, Aécio foi afastado do mandato (Crédito:Dida Sampaio)
Três ministros do STF decidiram, na última semana, contrariar a
Constituição e o Código de Processo Penal ao afastar o senador Aécio
Neves (PSDB-MG) do mandato, impor-lhe o recolhimento domiciliar noturno e
reter seu passaporte. Foi um arbítrio – o que não é salutar para a
democracia. Senão vejamos: segundo o Parágrafo 2º do Artigo 53 da
Constituição, um senador ou deputado só podem ser presos em flagrante
por crime inafiançável, o que não houve. Portanto, a prisão de Aécio era
inadmissível. Os ministros não votaram pela detenção, por certo. Ocorre
que também à luz da lei o STF não poderia aplicar as medidas cautelares
substitutas, que foi o que fizeram, no que constituiu uma intromissão a
outro poder.
O caso será levado ao plenário do Senado na terça-feira 3, quando a Casa
cumprindo atribuições, – estas sim em consonância com a Constituição –
poderá reverter a decisão do Supremo. O próprio PT, adversário político
de Aécio, emitiu nota defendendo que o Senado rejeite uma “violação de
sua autonomia”. É a chance de a Constituição ser reabilitada e o estado
de direito restaurado.
Vítima da letal combinação entre
falência do Estado e crescente domínio do tráfico, a Cidade Maravilhosa
se torna refém da violência
e do medo que se espalha por todas as classes sociais. Como esse inferno
foi criado e o que pode ser feito para resgatar a paz
CONTROLE
Forças Armadas entram na Rocinha para tentar conter a guerra entre
traficantes. Na última década, o governo recorreu a essa solução 12
vezes (Crédito: Leo Correa)
Eliane Lobato e Fabíola Perez
A rotina da sociedade carioca mudou completamente nas últimas
semanas. Tanques de guerra e homens vestidos para a batalha se impõem
ostensivamente, alterando as paisagens da segunda maior cidade
brasileira e cartão postal do País. Soldados com máscaras de caveira
anunciam o horror do confronto com traficantes. Marcas de bala em muros
de residências antes seguras são um termômetro da frequência dos
tiroteios. Estabelecimentos fechados interrompem o fluxo do comércio e
até a tradicional boemia associada ao estilo de vida dos cariocas tem
hora para acabar, com bares e restaurantes tradicionais de bairros como a
Lapa fechados ao escurecer para segurança da clientela. PÂNICO Crianças correm assustadas com a troca de tiros na Estrada da Gávea. (Crédito:Julio Cesar Guimarães)
Crianças impedidas de ir às aulas veem seu futuro comprometido. Refém
do crime, do medo e da inércia do poder público, a cidade agoniza em um
triste retrato da supremacia da violência. Das 1.025 comunidades da
capital, 843 estão sob domínio de traficantes ou de milicianos. Só nos
três primeiros meses deste ano, houve 1.867 vítimas de homicídios,
roubos, agressões e operações policiais. Nas últimas semanas, com a
disputa pelo controle do tráfico na Rocinha, a tensão extrapolou os
limites do morro e atingiu todas as camadas da sociedade. Sinais de que
se trata de uma guerra se alastram pela cidade que hoje, antes de fazer
jus ao título de maravilhosa, se apresenta ao mundo como devastada.
As consequências desse poderio se mostram das formas mais perversas
no dia a dia. O crime passou a controlar a circulação de carros e ônibus
nas comunidades. Na quarta-feira 27, embora sete das nove escolas da
Rocinha tivessem voltado funcionar, poucos alunos foram às aulas. Uma
massagista foi demitida do emprego em uma clínica de Ipanema por ter
faltado. “O patrão não está nem aí se eu tinha com quem deixar minha
filha pequena ou não”, disse, chorando. PÂNICO Mulheres tentam se proteger de tiros em uma operação da PM na Rocinha (Crédito:Gabriel Paiva / Agência O Globo)
Muitos coletivos não conseguiram transitar nas ruas tomadas pelo
Exército, impedindo que moradores pudessem sair para trabalhar. Um
motorista de Uber que não quis se identificar disse à ISTOÉ que
vigilantes armados identificam a luz do celular acoplado ao painel do
carro e o interceptam. “Mesmo com filtro nos vidros, eles mandam o carro
parar exigindo pagamento. Estão sempre com uma arma na cintura”, afirma
ele, que já teve de pagar R$ 50 para buscar uma passageira na zona
norte. Segundo registros em delegacias, cinco motoristas são vítimas de
extorsão por dia.
Em meio às intensas trocas de tiros, instituições de ensino próximas
às comunidades vêm tomando precauções sem esperar pelas autoridades. A
Escola Alemã Corcovado, em Botafogo, no mesmo bairro em que está
localizado o Morro Dona Marta, primeiro a receber uma UPP, providenciou
uma passagem subterrânea para os alunos caminharem do estacionamento às
salas de aulas. Trata-se de uma garagem no subsolo usada para a saída de
alunos e funcionários em situações adversas. A escola já chegou a
suspender o recreio dos alunos em função dos tiroteios. Medidas como
essas não são exageradas quando se toma por base o caso de duas crianças
e um bebê atingidos por balas perdidas em julho desse ano. Mesmo fora
das regiões de confronto, muitos cariocas deixam de sair à noite por
medo, e a vida noturna na cidade sofre um violento baque. O restaurante
Frontera, no Jardim Botânico, teve redução de 50% no movimento. Na
sexta-feira 22, o Braseiro, “point” do Baixo Gávea, no bairro homônimo,
vendeu dois barris de chope ao invés dos habituais sete. Outros pontos
que outrora ferviam na noite carioca, como a Lapa, no Centro, e a Rua
Conde de Bernadotte, no Leblon, agora sobrevivem apenas. Na Lapa, o
centenário restaurante Nova Capela passou a fechar as portas mais cedo
devido à violência da área. Ninguém do estabelecimento quis dar
entrevista. “Com o movimento em baixa e sem segurança, quem pode
aguentar?”, questiona o garçom de um bar vizinho, na região mais boêmia
do Rio. DESVIANDO DOS TIROS
Algumas iniciativas têm ajudado a população a se sentir menos
insegurança. O professor Antonio Terzi, 41 anos, não costuma sair de
casa sem consultar o aplicativo Onde Tem Tiroteio (OTT) para saber que
caminho fará de sua casa até a escola dos filhos. Quando faz o trajeto,
dependendo do dia, as crianças não usam o cinto de segurança. Isso
porque ele teme ser assaltado e não ter tempo de tirar os filhos do
veículo. “Não é fácil conviver com tanto medo e ameaças à vida. Gostaria
de circular como uma pessoa normal, mas já incorporei o hábito da
vigilância permanente”, afirma. A plataforma utilizada pelo professor
foi criada pelo analista de sistemas Dennis Coli. Hoje, o aplicativo tem
600 mil usuários e um alcance entre 3 e 4,5 milhões de pessoas. Além
desse, a ONG Anistia Internacional também criou, em julho do ano
passado, o aplicativo Fogo Cruzado, que mapeia as regiões com maior
número de tiroteios. Em um ano, a plataforma recebeu 9.174 notificações. PEDÁGIO
Motoristas do Uber são interceptados por criminosos: “tive que pagar R$
50 para buscar uma passageira na zona norte (Crédito:Marcelo Theobald)
Não à toa, muitos cariocas têm optado por deixar o Rio. O médico
Adauto Magalhães, 42 anos, foi atingido por cinco tiros em assaltos e
arrastões na Linha Vermelha, uma das vias mais afetadas pelo crime. Hoje
vive em Teresópolis, na Serra Fluminense. “O Rio se transformou em um
inferno, nossas casas de campo se tornaram residências fixas”, afirma.
“Ainda tenho de ir à cidade para trabalhar, mas estou me programando
para sair definitivamente da capital. Vivemos com medo de morrer.” Nos
morros sitiados, onde famílias inteiras são dizimadas em confrontos,
moradores são impedidos de sair para trabalhar, afetando diversos
setores da economia que dependem da mão de obra das comunidades. Os
traficantes, parcialmente asfixiados pela operação militar que colocou
quase mil homens do exército para garantir a segurança da população,
migram para outros crimes como forma de manter seus lucros ilícitos e
exercem forte dominação econômica sobre os indefesos vizinhos. Todos os
produtos que sobem o morro pagam “pedágio” para os criminosos e o preço
chega a triplicar. A FALÊNCIA DAS UPPs
Assolado por uma profunda desigualdade social, o Rio de Janeiro vive há
décadas sob violência generalizada. As mazelas sociais, a corrupção
entre governantes e as condições geográficas deram plenas condições para
que o tráfico e as milícias se fortalecessem em regiões abandonadas
pelo Estado. Desde a década de 1970, já sem o status de capital federal,
a cidade se tornou ponto de partida na rota de distribuição de cocaína
dos países andinos para a Europa. Com o apoio de “bicheiros” (os
comandantes do clandestino jogo do bicho), traficantes passaram a
abastecer a população com drogas ilícitas. Sem resistência policial à
altura de sua ousadia, o tráfico se expandiu em larga escala nas
favelas, que passaram a ser controladas por facções de criminosos e
ficaram à margem do Estado. “Há uma falta de legitimidade de poder
político e uma grave crise econômica. As UPPs, que foram vendidas como
as joias da coroa, colapsaram. Todos esses fatores interferem na
dinâmica da violência”, diz Julita Lembruger, socióloga da Universidade
Candido Mendes e ex-ouvidora de polícia. As UPPs, sigla para Unidade de
Polícia Pacificadora, foram criadas em 2008, a partir de experiências já
existentes de policiamento comunitário. Nos primeiros anos, o modelo
teve impacto positivo na redução dos índices de criminalidade e pareceu
uma panaceia para o caos da segurança no Rio. Com o tempo, as UPPs
faliram — por corrupção, falta de recursos ou mero despreparo. Das dez
comunidades onde houve mais crimes violentos no Rio em 2016, seis contam
com UPPs. Uma das razões para a ineficácia do programa é a complexidade
das favelas e a ausência de outros serviços do Estado. Afinal,
policiais não podem dar aulas, fazer partos e resolver os problemas da
comunidade.
1 de 4
DISPUTA Rogério 157 rompe com o líder do tráfico Nem, torna-se
chefe da Rocinha, mas segue procurado por traficantes e pela polícia
2 de 4
Nem está reso em Bangu 1
3 de 4
Policiais encontram a casa luxuosa que pertencia a Rogério
4 de 4
Sala da casa de Rogério 157 na Rocinha
“Não aprendemos nada com os erros do passado”, afirma Cecília
Oliveria, especialista em segurança pública e pesquisadora do livro “O
Dono do Morro”, que conta a história de Antônio Francisco Bonfim Lopes, o
Nem, líder do tráfico na Rocinha. No dia 17 de agosto, Nem deu ordens
de dentro do presídio federal de Rondônia, onde está preso, para que
Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, que lhe sucedeu no posto de
chefe do tráfico, deixasse a favela. Rogério resistiu e atacou homens de
confiança de Nem, que pertence à facção Amigos dos Amigos (ADA).
Começava uma intensa troca de tiros para expulsar Rogério, que obrigou
o governo do estado a solicitar ajuda das Forças Armadas. Na
sexta-feira 22, 950 homens das Forças Armadas ocuparam a Rocinha. Uma
semana depois, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, determinou que os
militares deixassem a comunidade, por entender que a situação estaria
estabilizada. Durante a ocupação, 24 pessoas foram presas e 25 fuzis
apreendidos. “O que agrava a violência no Rio é a movimentação entre os
comandos, a sobreposição de facções e as alianças”, diz Silvia Ramos,
pesquisadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da
Universidade Candido Mendes.
Pelo menos três facções controlam diferentes territórios: o Comando
Vermelho, o Terceiro Comando Puro e os Amigos dos Amigos. Em algumas
regiões, esses grupos se aliam ao Primeiro Comando da Capital, de São
Paulo, e em outras convivem com as milícias. O poder de fogo desses
grupos cresceu nos últimos anos. De acordo com um estudo do Instituto
Sou da Paz, munições de calibre restrito, das quais fazem parte os
fuzis, representam hoje 70% do total de apreensões de armas no Estado do
Rio. Em 2014, eram 59%. “Os fuzis se tornaram uma espécie de símbolo de
poder e ofensividade”, diz Silvia. EXÉRCITO
A atuação das Forças Armadas na Rocinha teve duração de oito dias.
Segundo o ministro da Defesa, Raul Jungmann, a favela está estabilizada
(Crédito:Bruno Itan / Parceiro / Agência O Globo)FORÇAS ARMADAS
Ao longo da última década, o governo do estado do Rio recorreu 12 vezes a
intervenções das Forças Armadas. “A situação mostra uma crise periódica
e permanente. Faz-se uso de um modelo militarizado que não resolve o
problema”, diz Ignácio Cano, sociólogo e coordenador do Laboratório de
Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. “A
presença dos militares tem um custo muito alto e não representa uma
mudança de cenário no longo prazo.” Entre 2014 e 2015, a presença de
soldados no Complexo da Maré por 15 meses custou aos cofres públicos R$
600 milhões e a favela até hoje sofre com os mesmos problemas. Por trás
da falência no combate ao crime está também a falta de investimento.
Contas do governo estadual revelaram que gastos com “informação e
inteligência”, fundamentais para o combate ao crime, foram reduzidos a
zero no ano passado, quando a despesa com a segurança pública consumiu
R$ 9,1 bilhões. Do total, R$ 7,68 bilhões foram destinados à
administração geral, ou seja, pagamento de salários. “Policiais
acreditam que o trabalho se restringe à lógica de confronto e dão pouca
importância à inteligência”, diz Silvia. Para ela, com a entrada massiva
de fuzis nas favelas, houve uma “bopetização” da polícia, neologismo
que se refere à atuação do Batalhão de Operações Policiais Especiais
(BOPE), famoso pelos métodos violentos. Os policiais que usam máscaras
de caveira ao subir o morro são prova. MASCARADOS
Soldados utilizaram bataclavas com imagens de caveira: política de
confronto se sobrepõe aos investimentos em inteligência
(Crédito:Fernando Frazão/Agência Brasil)
A predominância de fuzis no arsenal dos traficantes de drogas revela o
quanto o comércio de armas avançou no Rio. Em junho desse ano,
policiais apreenderam 60 fuzis de guerra no Aeroporto Internacional Tom
Jobim, o Galeão. “Isso mostra que as armas estão entrando pela porta da
frente do País”, afirma Bruno Langeani, gerente de Sistemas de Justiça e
Segurança Pública do Instituto Sou da Paz. “O aumento de munições
apreendidas de calibre restrito, armas de maior poder de fogo, não tem
comparação com nenhum outro estado brasileiro.” Segundo ele, a grande
parte dos fuzis é vendida legalmente dos Estados Unidos para países como
Bolívia e Paraguai e contrabandeadas para o Brasil. Um dado revelado
pelo relatório é que 42% das munições apreendidas em 2014 são de uma
fabricante nacional. “Isso expõe as fragilidades no controle das
munições brasileiras”, diz. Com uma média de 430 munições apreendidas
por dia, é possível imaginar a disponibilidade bélica dos grupos de
criminosos. Mais que uma reserva de balas para sustentar intensos
tiroteios, eles dão demonstrações de seu poder de fogo disparando
rajadas de tiros. Estima-se que cada bala de fuzil chegue a custar R$
50. Para reverter esse cenário seria necessário aumentar a fiscalização
da Polícia Rodoviária Federal, evitar que armas e munições fiquem por
muito tempo nas delegacias e monitorar seus deslocamentos para acabar
com canais de desvio. Gastos com “informação e inteligência” foram reduzidos a zero no ano passado, quando a despesa com a segurança pública no rio somou R$ 9,1 bilhões
Na quinta-feira 28, mesmo dia em que o ministro da Defesa Raul
Jungmann anunciou que as tropas sairiam da Rocinha, as escolas reabriram
e os alunos voltaram às aulas. As Clínicas de Família também
funcionaram. Foram feitos reparos nos postes e limpeza de lixo nas ruas.
O prefeito Marcelo Crivella afirmou que pretende investir R$ 15 milhões
em serviços, incluindo a reforma de casas que estão cravadas de balas. É
um sinal de que a cidade, ainda que devastada, poderá retomar sua
rotina, ainda que com as marcas da violência escancaradas. Mas enquanto
as autoridades forem negligentes e adotarem táticas ultrapassadas, o Rio
continuará perdendo todas as batalhas para o crime. O RIO SEM COMANDO
Há um vácuo no poder que agrava a violência em todo o Rio de Janeiro.
O diagnóstico da socióloga do Centro de Estudos de Segurança e
Cidadania da Universidade Cândido Mendes, Julita Lembruger, explica-se
pela ausência de declarações e ações efetivas do governador Luiz
Fernando Pezão e do prefeito Marcelo Crivella diante do caos que dominou
a favela da Rocinha nas últimas semanas. No dia 22, no estopim da
crise, enquanto moradores viviam momentos de pânicos com o confronto
entre traficantes e homens das Forças Federais, o prefeito demorou
quinze horas para se manifestar por meio de nota. Limitou-se a pedir que
as pessoas evitassem áreas onde estivessem ocorrendo ações militares.
Na quarta-feira 27, dez dias após o início dos conflitos, aos gritos de
“sumido”, o prefeito visitou a Rocinha. O governador Pezão também se
pronunciou apenas para dizer que sabia da invasão de traficantes, mas
por cautela, desautorizou qualquer ação da polícia. “São afirmações
inócuas, sem projetos, sem ideias. As favelas vivem um verdadeiro
apagão”, diz Silvia Ramos, cientista social.