A Polícia Federal (PF) está se deparando com um novo tipo de crime na Amazônia. Além da biopirataria e do narcotráfico — principais delitos nas fronteiras — a PF vem combatendo o contrabando de peixes brasileiros para a Colômbia e o Peru. O destino final são os Estados Unidos(1) e a Europa, onde chegam como se não fossem de origem brasileira. Além dos peixes comuns, são retirados dos rios amazônicos espécimes considerados ornamentais, como o aruanã, cujo exemplar chega a ser comercializado por R$ 14 no mercado asiático.
As autoridades brasileiras não sabem estimar a quantidade de peixe que deixa o território nacional e segue para o exterior de forma ilegal. Mas as investigações da Polícia Federal indicam que os contrabandistas têm um alvo preferencial. “São as espécies sem escamas, como o surubim e a pirarara, entre outros. Os chamados peixes lisos”, afirma o superintendente da PF no Amazonas, delegado Sérgio Fontes. Além disso, os agentes descobriram que os grupos atuam entre o Médio e o Alto Solimões, mais precisamente nas regiões de Tefé e Tabatinga, na fronteira com Letícia, na Colômbia, para onde os peixes são enviados — e de onde são exportados como produto colombiano.
Só em abril deste ano, a polícia impediu, durante a Operação Macaco D’Água, o comércio ilegal de quase cinco mil alevinos de aruanã. Os métodos de captura utilizados pelos criminosos são altamente predatórios. Como os filhotes se protegem na boca do peixe adulto macho, os contrabandistas tentam forçar a expulsão deles jogando explosivos na água, o que provoca a mortandade de diversas outras espécies naquele trecho do rio. Na ação da PF, que teve a presença do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), foram presas 13 pessoas, inclusive mulheres.
As espécies ornamentais são altamente valorizadas nos EUA, onde o preço final é algo em torno de R$ 13, a unidade. Na extremidade dessa cadeia produtiva trabalham os ribeirinhos, que repassam o alevino por não mais que R$ 1. Quando este chega em Letícia ou em Santa Rosa, no Peru, já está custando R$ 2,5. Daí em diante, a cotação é em dólar. O lucro exponencial é o principal estímulo dessa modalidade de tráfico.
No ano passado, o Ibama realizou, nas Ilhas Anavilhanas, no Amazonas, a apreensão de sete mil exemplares, que seriam levados para Manacapuru, também no estado. De lá, os peixes partiriam para a Colômbia e, posteriormente, para a Ásia. Em alguns países do continente, muitos negociantes mantêm grandes aquários com espécimes ornamentais por pura superstição — eles acreditam que os peixes atraem prosperidade e riqueza. A legislação brasileira, no entanto, proibe a exportação do aruanã — o mais visado pelos criminosos —, que só é encontrado na Amazônia.
A preocupação das autoridades brasileiras não é apenas com os peixes ornamentais, mas também com o pescado. Diariamente, navios colombianos deixam os cais de Letícia e de Santa Rosa rumo a outros portos do país, de onde as espécies seguem para o exterior. Para obter os peixes, os traficantes utilizam vários artifícios, mas o principal deles é cooptar a população que vive às margens dos rios Solimões e Javari. Os infratores conquistam a confiança dos ribeirinhos com todo tipo de favor, o que inclui até doação de eletrodomésticos.
O Amazonas não é o único estado vítima desse problema. O Ibama já realizou diversas apreensões em outras regiões, a maior parte delas no Norte do país. No Aeroporto Internacional em Belém, o instituto conseguiu impedir a exportação ilegal de dezenas de peixes ornamentais, que seguiriam para a Suécia. Além disso, produtos da fauna marinha também são alvo dos contrabandistas. Em maio deste ano, também no Pará, foram apreendidas 3,3 toneladas de barbatana de tubarão, que tinham como destino a Europa.
1 - Grande importador
Os Estados Unidos são os principais importadores legais de peixes do Brasil. Segundo Boletim Estatístico de Pesca do Ibama, de 2007, outros 83 países negociam com o nosso país, que ganhou, nos últimos anos, pelo menos 15 novos mercados. Além dos EUA; França, Espanha e Argentina são os principais clientes da indústria de pescado brasileira. Japão e Portugal estão entre os 10 principais importadores desse tipo de produto.
Rota do crime
A retirada dos peixes normalmente é feita no Rio Solimões, apesar de as autoridades policiais e ambientais terem apreendido espécimes em outras localidades da Amazônia. As investigações já identificaram a rota, mas os responsáveis finais do contrabando ainda são desconhecidos.
Forma de agir dos contrabandistas:
1- Os pescadores matam as espécies adultas para retirar os alevinos da boca dos machos, que guardam a cria após o nascimento. Em alguns casos, bombas são jogadas no rio para pegar pequenos cardumes de alevinos.
2- Os peixes são comprados nas regiões ribeirinhas do Alto e Médio Solimões, no Amazonas, onde estão espécies como o aruanã. Os contrabandistas oferecem utensílios aos pescadores, ou pagam diretamente em dinheiro.
3- Muitas vezes, os contrabandistas negociam diretamente com os pescadores, principalmente quando se trata de alevinos. O pescado é recolhido por barcos, que descarregam nos portos de Letícia, na Colômbia, e em Santa Rosa, no Peru.
4- O pescado é enviado para Colômbia e Peru, de onde seguem para os Estados Unidos, enquanto que o alevino é contrabandeado para a Ásia, onde são vendidos como peixes ornamentais.
As autoridades brasileiras não sabem estimar a quantidade de peixe que deixa o território nacional e segue para o exterior de forma ilegal. Mas as investigações da Polícia Federal indicam que os contrabandistas têm um alvo preferencial. “São as espécies sem escamas, como o surubim e a pirarara, entre outros. Os chamados peixes lisos”, afirma o superintendente da PF no Amazonas, delegado Sérgio Fontes. Além disso, os agentes descobriram que os grupos atuam entre o Médio e o Alto Solimões, mais precisamente nas regiões de Tefé e Tabatinga, na fronteira com Letícia, na Colômbia, para onde os peixes são enviados — e de onde são exportados como produto colombiano.
Só em abril deste ano, a polícia impediu, durante a Operação Macaco D’Água, o comércio ilegal de quase cinco mil alevinos de aruanã. Os métodos de captura utilizados pelos criminosos são altamente predatórios. Como os filhotes se protegem na boca do peixe adulto macho, os contrabandistas tentam forçar a expulsão deles jogando explosivos na água, o que provoca a mortandade de diversas outras espécies naquele trecho do rio. Na ação da PF, que teve a presença do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), foram presas 13 pessoas, inclusive mulheres.
As espécies ornamentais são altamente valorizadas nos EUA, onde o preço final é algo em torno de R$ 13, a unidade. Na extremidade dessa cadeia produtiva trabalham os ribeirinhos, que repassam o alevino por não mais que R$ 1. Quando este chega em Letícia ou em Santa Rosa, no Peru, já está custando R$ 2,5. Daí em diante, a cotação é em dólar. O lucro exponencial é o principal estímulo dessa modalidade de tráfico.
No ano passado, o Ibama realizou, nas Ilhas Anavilhanas, no Amazonas, a apreensão de sete mil exemplares, que seriam levados para Manacapuru, também no estado. De lá, os peixes partiriam para a Colômbia e, posteriormente, para a Ásia. Em alguns países do continente, muitos negociantes mantêm grandes aquários com espécimes ornamentais por pura superstição — eles acreditam que os peixes atraem prosperidade e riqueza. A legislação brasileira, no entanto, proibe a exportação do aruanã — o mais visado pelos criminosos —, que só é encontrado na Amazônia.
A preocupação das autoridades brasileiras não é apenas com os peixes ornamentais, mas também com o pescado. Diariamente, navios colombianos deixam os cais de Letícia e de Santa Rosa rumo a outros portos do país, de onde as espécies seguem para o exterior. Para obter os peixes, os traficantes utilizam vários artifícios, mas o principal deles é cooptar a população que vive às margens dos rios Solimões e Javari. Os infratores conquistam a confiança dos ribeirinhos com todo tipo de favor, o que inclui até doação de eletrodomésticos.
O Amazonas não é o único estado vítima desse problema. O Ibama já realizou diversas apreensões em outras regiões, a maior parte delas no Norte do país. No Aeroporto Internacional em Belém, o instituto conseguiu impedir a exportação ilegal de dezenas de peixes ornamentais, que seguiriam para a Suécia. Além disso, produtos da fauna marinha também são alvo dos contrabandistas. Em maio deste ano, também no Pará, foram apreendidas 3,3 toneladas de barbatana de tubarão, que tinham como destino a Europa.
1 - Grande importador
Os Estados Unidos são os principais importadores legais de peixes do Brasil. Segundo Boletim Estatístico de Pesca do Ibama, de 2007, outros 83 países negociam com o nosso país, que ganhou, nos últimos anos, pelo menos 15 novos mercados. Além dos EUA; França, Espanha e Argentina são os principais clientes da indústria de pescado brasileira. Japão e Portugal estão entre os 10 principais importadores desse tipo de produto.
Rota do crime
A retirada dos peixes normalmente é feita no Rio Solimões, apesar de as autoridades policiais e ambientais terem apreendido espécimes em outras localidades da Amazônia. As investigações já identificaram a rota, mas os responsáveis finais do contrabando ainda são desconhecidos.
Forma de agir dos contrabandistas:
1- Os pescadores matam as espécies adultas para retirar os alevinos da boca dos machos, que guardam a cria após o nascimento. Em alguns casos, bombas são jogadas no rio para pegar pequenos cardumes de alevinos.
2- Os peixes são comprados nas regiões ribeirinhas do Alto e Médio Solimões, no Amazonas, onde estão espécies como o aruanã. Os contrabandistas oferecem utensílios aos pescadores, ou pagam diretamente em dinheiro.
3- Muitas vezes, os contrabandistas negociam diretamente com os pescadores, principalmente quando se trata de alevinos. O pescado é recolhido por barcos, que descarregam nos portos de Letícia, na Colômbia, e em Santa Rosa, no Peru.
4- O pescado é enviado para Colômbia e Peru, de onde seguem para os Estados Unidos, enquanto que o alevino é contrabandeado para a Ásia, onde são vendidos como peixes ornamentais.
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