Antes de se encontrar com Bolsonaro no Rio de Janeiro, Bolton, conselheiro de Trump, deixou claro que o que não falta é afinidade entre seu chefe e o brasileiro
Como se vê, o que não faltam são afinidades para fazer prosperar as relações Bolsonaro-Trump. E se existe uma coisa que Trump aprecia é descobrir alguém que concorda com ele. Ambos têm uma predileção por se comunicar diretamente com os cidadãos, sem intermediação da imprensa. Ambos, também, desprezam o sistema político multilateral que atualmente rege a ordem mundial.
As recentes declarações de Bolton, dadas antes de seu embarque para o Brasil, foram calibradas para realçar essas semelhanças. Ele falou, por exemplo, de uma certa “troika da tirania”, “esse triângulo de terror que se estende de Havana (Cuba) a Caracas (Venezuela) e a Manágua (Nicarágua), é a causa do imenso sofrimento humano, motivo de enorme instabilidade regional e a origem de um sórdido berço do comunismo no hemisfério ocidental”. Bolton deixou claro que a Casa Branca considera a eleição de Bolsonaro um passo positivo no sentido de fazer essa “troika desmoronar”. As afirmações certamente deixaram lisonjeada a equipe de Bolsonaro, cujo indicado para o Ministério das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que também estava presente no encontro com Bolton, na semana passada anunciou que pretende “extirpar” o “marxismo cultural” do Itamaraty.
Em tempo: a referência ao cheiro de pólvora no início desse artigo remete à fama militarista que John Bolton adquiriu quando trabalhou para o ex-presidente americano George W. Bush. Ele foi um dos principais protagonistas da invasão do Iraque, em 2003, que depôs o ditador Saddan Hussein. À época, justificava a intervenção com o argumento de que o Iraque tinha armas de destruição em massa, o que nunca se confirmou. Na gestão Trump, Bolton tem mantido uma postura bem menos intervencionista, obedecendo à promessa do chefe de não imiscuir-se em problemas militares dos outros. Não seja por isso: Bolton também é um grande defensor do direito de cidadãos comuns portarem armas. Quanta semelhança.
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