Em débito com a população, que não recebeu moradias e os radares meteorológicos prometidos, governador e seu vice anunciam 'patrulha de limpeza' e 'gabinete de crise'. Estado tem 83.000 pessoas em áreas de risco
Daniel Haidar, do Rio de Janeiro
Sérgio Cabral convocou reunião com prefeitos dos municípios da Baixada Fluminense
(Alexandre Vieira/Agência O Dia)
A tal “patrulha de limpeza”, criada a partir de uma sugestão do prefeito de Duque de Caxias, Alexandre Cardoso, até agora carece de explicação mais precisa. Acredita-se, pelo que se afirmou após a reunião, que seja o poder público fazendo depois da tragédia o que não fez antes do temporal: limpar locais de risco e evitar que ruas, rios e redes de drenagem – quando existentes – fiquem entupidos e alaguem as casas. Como têm feito nos últimos anos, Cabral, Pezão e seus pares responderam à tragédia com um fato político, um pedido de verbas ao governo federal e nenhuma explicação sobre o que foi prometido e não executado. A principal lacuna, como sempre, é o investimento em habitação, em remoção de pessoas de áreas perigosas e a criação de moradias populares longe das áreas com risco de inundação ou deslizamentos de terra.
Fora alguns representantes da Defesa Civil, o encontro para resolver a
questão dos desabrigados não previa a participação de quadros técnicos,
era o reino dos políticos. “São decisões para atravessar um momento
emergencial com a menor perda política possível. O mais grave é que
apontam para uma continuidade de uma cultura de emergência”, diz o
geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, ex-diretor do Instituto de
Pesquisas Tecnológicas (IPT).
Governos federal e estadual ainda estão em débito com as vítimas da
chuva de 2011, quando desapareceram na lama algo entre 900 e 1.000
moradores da Região Serrana do Rio. O repertório de medidas inclui os
“gabinetes de crise”, as “forças tarefa” e as expressões do gênero. Os
anúncios se assemelham aos “factoides” criados pelo ex-prefeito Cesar
Maia, que se especializou em cunhar termos e anunciar projetos de alto
impacto na opinião pública – nem sempre exequíveis ou desenvolvidos de
fato.Para evitar mais mortes e perdas para as famílias em risco, o básico não foi feito: uma cerimônia com participação da presidente Dilma Rousseff anunciou, logo depois da tragédia da serra, 8.000 residências para as vítimas da chuva e famílias em situação de risco. Só 500 foram entregues, e o número total foi revisto para cerca de 4.000, como mostrou reportagem do site de VEJA. Também foram prometidos dois radares meteorológicos que, depois de um adiamento, tinham previsão de funcionamento já neste verão – ficaram para o próximo.
Pessoas formam fila em uma lotérica em Nova Iguaçu, após fortes chuvas atingirem o Rio de Janeiro - Douglas Viana/Futura Press
Capital – As respostas emergenciais com factoides também serviram ao prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB). Na capital fluminense, as chuvas da semana passada inundaram residências e paralisaram o tráfego em vias importantes como a Avenida Brasil e a Radial Oeste. Foi alagada até a Via Binário, inaugurada há um mês, na Zona Portuária, para suprir a demanda do tráfego da Perimetral. Como se fosse algo acessório, Paes revelou que diversas obras de drenagem da Via Binário não foram concluídas e, sem esclarecer como, prometeu multar a concessionária Porto Novo, responsável pelas obras de revitalização da Zona Portuária.
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