Possível retorno de Cristina Kirchner ao poder preocupa o governo Bolsonaro, que pode tê-la como contraponto político e cuja ascensão mudará a correlação de forças no continente

RETORNOEx-presidente deve lançar candidatura em maio (Crédito: Victor R. Caivano)

Pesquisas recentes apontam chances reais de a ex-presidente voltar ao poder. Em abril, levantamento da consultoria Isonomía a colocou nove pontos percentuais à frente no segundo turno, com 45% de intenções, contra apenas 36% de Maurício Macri – no primeiro turno, ambos estariam em empate técnico, com cerca de 30% dos votos. O retorno de Kirchner representaria o surgimento de uma nova correlação de forças na América Latina. Atualmente, poucos países vizinhos – como Cuba, México e Bolívia – apoiam Maduro. Um governo de esquerda na terceira maior economia da região enfraqueceria a aliança internacional – majoritária localmente – que busca substituir Maduro e enterrar de vez as pretensões bolivarianas no continente. O risco é a volta do populismo de esquerda que levou a Venezuela ao colapso. Países que lideram o movimento pela normalização democrática venezuelana, como Chile, Colômbia e Peru, conseguiram manter crescimento econômico sólido nos últimos anos com políticas pró-mercado e responsabilidade fiscal. Além disso, o retorno do kirchnerismo significaria um contraponto ao papel de liderança que Bolsonaro gostaria de exercer na região, com o apoio de Donald Trump. É uma má notícia para as pretensões de um governo que, em quase cinco meses de mandato, ainda não conseguiu estabelecer uma política externa coerente, sólida e influente.
Presidente Mauricio Macri luta pela reeleição em cenário adverso, com uma grave crise econômica que se prolonga no país

Guerra de pesquisas
Mesmo com o alto contingente de indecisos (20%), os números do levantamento divulgado em abril provocaram uma tempestade política e abriram uma crise no governo Macri. Na segunda semana de maio, a mesma empresa concluiu um novo levantamento, com números menos favoráveis a Kirchner. Mesmo assim, ela ainda seguia na dianteira – 41% a 37%. O voo solo de Kirchner, no entanto, não segue apenas em céu de brigadeiro. Ela, que pode oficializar a candidatura até o dia 22 de junho, enfrenta vários processos por corrupção e deverá enfrentar um julgamento no dia 21 de maio sob a acusação de desvio e lavagem de dinheiro por meio de hotéis que pertencem à sua família na Patagônia. Senadora, ela se beneficia de foro privilegiado e, numa eventual condenação, só poderia ser presa com autorização do Congresso. Sua situação é delicada.
Impedida de sair do país, ela teve que pedir autorização da Justiça para visitar a filha Florencia em Cuba, que está em tratamento médico e também está implicada na ação. Ou seja, há intempéries no horizonte da ex-presidente – para o deleite de Jair Bolsonaro.
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