5 de dez. de 2014

PF apura indícios de lavagem de dinheiro nas doações a partidos também nas eleições de 2014

Empresário disse a procuradores e policiais da Operação Lava Jato que o PT recebeu parte da propina cobrada de fornecedores da estatal na forma de doação oficial ao partido - o "caixa 1" de campanha, conforme antecipou ISTOÉ

Sérgio Pardellas
Em um dos depoimentos mais graves e reveladores até agora em relação ao esquema de desvios de recursos da Petrobras, o empresário Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, executivo do grupo Toyo Setal, disse a procuradores e policiais da Operação Lava Jato que o PT recebeu parte da propina cobrada de fornecedores da estatal na forma de doação oficial ao partido – o “caixa 1” de campanha. A declaração confirma reportagem de capa da ISTOÉ (abaixo) publicada há duas semanas, faz com que oposição eleve o tom contra o governo e deixa o Palácio do Planalto em sinal de alerta, pois é exatamente o caixa oficial do PT que hoje se encontra submetido à análise do ministro do STF, Gilmar Mendes, responsável por julgar a contabilidade de campanha à reeleição de Dilma Rousseff. Conforme antecipou ISTOÉ na edição 2348, não só o PT, como o PMDB, o PP e o PTB usaram a contabilidade oficial, o caixa 1 das campanhas eleitorais, para receber milhões de reais desviados da Petrobras. Para chegar a essa conclusão, os delegados e procuradores vasculharam centenas de movimentações bancárias no Brasil e no exterior e analisaram documentos que vêm sendo apreendidos desde março. “Estamos diante de um crime gravíssimo que transforma os partidos políticos em autênticas lavanderias de dinheiro ilegal”, disse à ISTOÉ uma das autoridades com acesso a toda investigação. “A situação (investigação) coloca em xeque inclusive as doações eleitorais legalmente registradas, que podem indicar uma forma estruturada de lavagem de dinheiro”, atesta um relatório analítico da Polícia Federal, elaborado pela Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros ao qual ISTOÉ teve acesso.
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Reportagem de capa da edição 2348 de ISTOÉ antecipou
denúncias de financiamento de campanha com dinheiro de propina
Embora o relato de Mendonça Neto se refira à campanha de 2010, há um temor no Planalto de que, na devassa promovida nas contas de Dilma de 2014, sejam encontradas conexões do mesmo esquema. Para investigadores da Lava Jato já há indícios da reprodução do modus operandi adotado em 2010 nas eleições deste ano. Se irregularidades graves forem encontradas na contabilidade da campanha, os ministros podem – em último caso – até impedir a diplomação da presidente, apesar desta hipótese ainda depender do prazo a ser exercido por Gilmar Mendes para concluir seu parecer. O que mais preocupa o governo neste momento é a afirmação do executivo da Toyo Setal segundo a qual, apenas num único contrato, celebrado pela Petrobras com o consórcio Interpar – composto pelas construtoras Mendes Júnior, SOG Óleo e Gás e MPE Engenharia – foram depositados R$ 4 milhões nas contas do PT. Os depósitos teriam sido efetuados pelas empresas PEM Engenharia, SOG e Setec Tecnologia entre 2008 e 2011. A propina era cobrada por Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras. Duque era o elo entre as fornecedoras e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.

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O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto
A oposição, até então cautelosa, já fala em “ilegitimidade” da presidente reeleita. “Estou estarrecido. Se isso (o depoimento do executivo da Toyo Setal) for verdadeiro, temos um governo ilegítimo no Brasil. É a denúncia mais grave que surgiu até aqui”, afirmou o presidente do PSDB, Aécio Neves. Para o líder do partido no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), ainda não há condições jurídicas e políticas para um pedido de impeachment, mas elas “podem vir a se verificar”. “Se houve uso do petrolão em 2010 e o esquema continuou operando até agora, é necessário apurar se a fonte não irrigou também a campanha de 2014. Temos uma presidente sob suspeita”, fez coro o líder do PSDB na Câmara, Antônio Imbassahy (BA).

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