2 de mar. de 2010

Ferro-velho de Itaboraí já havia sido interditado


Ferro-velho de Itaboraí já havia sido interditado Depósito com peças e veículos extraviados do Exército foi esvaziado após denúncia.
POR MAHOMED SAIGG

Rio - Policiais da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) interditaram ontem um dos ferros-velhos especializados no comércio de viaturas militares em Itaboraí denunciados por O DIA. No local, peças e veículos extraviados do Exército Brasileiro eram vendidos por até R$ 30 mil. As provas do crime, no entanto, não foram encontradas pelos agentes, que se surpreenderam ao chegar ao endereço. Os três depósitos que até a semana passada estavam abarrotados de objetos militares foram encontrados praticamente vazios na tarde de ontem.

Em menos de uma semana, depósito foi esvaziado. Foto: Carlo Wrede | Agência O Dia De acordo com o dono do ferro-velho, o material foi retirado por equipes do Exército que estiveram no local na semana passada. “Eles chegaram aqui e só disseram que iriam levar tudo de volta para o quartel”, contou o comerciante, que não soube explicar por que autorizou a retirada dos veículos, já que garantiu tê-los comprado por meio de licitação.

O Comando Militar do Leste (CML), por sua vez, nega a versão de que tenha enviado uma equipe para retirar as viaturas do ferro-velho. Segundo o Exército, o próprio comerciante teria ido até o Parque Regional de Manutenção da 1ª Região Militar, em Magalhães Bastos — de onde o material havia sido extraviado —, para devolver tudo.

De qualquer forma, nos terrenos onde até ontem funcionavam os três depósitos do ferro-velho, no município de Itaboraí, Região Metropolitana, restaram apenas algumas carcaças de veículos militares. Estes, sim, comprados legalmente da Força. Todos os outros, fotografados e filmados por O DIA ao longo de um mês, desapareceram de lá. Segundo as informações passadas à polícia pelo dono do ferro-velho, a retirada dos veículos do local ocorreu logo após O DIA acionar o CML, em busca de explicações para o esquema. As peças só chegaram ao parque por volta das 13h de ontem.

O extravio de viaturas do Exército de quartéis localizados na Região Metropolitana do Rio está sendo investigado em um Inquérito Policial Militar (IPM). O inquérito foi instaurado após a conclusão de sindicância que confirmou a entrada de pessoas não autorizadas — civis e militares — em áreas restritas.

Apesar de estarem sendo mantidas em extremo sigilo, as primeiras informações obtidas pelos oficiais que coordenam as investigações indicam que o grupo — formado inclusive por oficiais do Exército — já teria faturado R$ 600 mil com o esquema.

Entre os veículos mais cobiçados pelo bando está o caminhão REO. Usado pelas tropas americanas na Guerra da Coreia, no início da década de 50, eles chegavam a ser vendidos por R$ 30 mil, só com a lataria. Os principais clientes são colecionadores de vários estados do Brasil, que disputam este tipo de mercadoria, cada vez mais escassa no mercado. A venda de peças também garante a rentabilidade do negócio ilegal.

SEM AUTORIZAÇÃO: Estabelecimento já havia sido interditado

Esta foi a segunda vez que o ferro-velho de Itaboraí foi interditado pela polícia. Ano passado, agentes da mesma delegacia já haviam fechado o estabelecimento por falta de autorização para funcionar. O proprietário, no entanto, ignorou a punição e reabriu as portas.

Após a denúncia de O DIA, mostrando envolvimento do dono do negócio com extravio de viaturas do Exército, o delegado Márcio Mendonça Dubragás, da DRFA, instaurou procedimento para investigar a participação dele no desvio das peças. “Vamos encaminhar um ofício ao Exército, solicitando cópia do Inquérito Policial Militar, para saber se ele sabia que o material que vendia aqui era roubado”, disse o delegado.

O comerciante já responde por violação de interdição e pode pegar de 3 meses a 1 ano de detenção. Caso seja comprovada a participação, ele vai responder também por receptação de material roubado do Exército.


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