Irrelevante no Congresso, mas estridente nas redes sociais, o deputado quer disputar a Presidência – mas bravatas, como o elogio a um torturador, o deixam quase sem chances de vitória
FLÁVIA TAVARES
Depois do passeio, Bolsonaro voltou para a Câmara e para sua insignificância parlamentar. Bolsonaro não é consultado por próceres dos partidos, nunca teve influência nas legendas por que passou. Entre os parlamentares, é mero folclore – odiado como um degenerado por uns, afagado como um mascote por outros. Mas a irrelevância de Bolsonaro na realpolitik do Congresso não é o que transparece para parte da população. A mais recente pesquisa Datafolha o mostra com 8% das intenções de voto em 2018. Bolsonaro está tecnicamente empatado com o tucano Geraldo Alckmin e com o neopedetista Ciro Gomes. Com declarações como o apoio a Ustra, o deputado que “não tem problema em perder apoio” tem chances remotas de vitória no pleito.
Uma parcela dos eleitores, no entanto, se identifica com o histrionismo de Bolsonaro. Releva sua superficialidade e se apega ao ruído. “Ele é polêmico, mas está lutando por um Brasil mais honesto e sério”, diz, depois de um selfie com o deputado, um servidor da Agência Brasileira de Inteligência que não quis se identificar. Não incomoda a denúncia de que o irmão dele, Renato, era funcionário-fantasma da Assembleia Legislativa de São Paulo e recebia R$ 17 mil por mês sem trabalhar? “Não.” Simples assim.
Esse simplismo de quem simpatiza com Bolsonaro é o que torna o deputado algo mais que uma piada sem graça. Na carência de saídas políticas sólidas, na onda de descrédito dos políticos, Bolsonaro prospera com um jeito apolítico. Nos Estados Unidos, isso foi um trunfo para o desastroso Donald Trump passar de bufão a ameaça real. Bolsonaro é um meme de si mesmo. Ecoa as convicções dos brasileiros mais reacionários. Exagera no barulho para disfarçar o oco. O lado externo de seu gabinete, contíguo ao do filho, parece uma página de boatos na internet. Ao lado da bandeira do Brasil e do Hino Nacional, há cartazes ridicularizando a Comissão da Verdade, que apurou crimes da ditadura militar. A notoriedade de Bolsonaro no plano nacional teve início quando ele começou a fazer discursos agressivos contra o “kit gay” e a educação sexual nas escolas, em 2011. Não foi uma ascensão acidental. Foi estratégia.
Bolsonaro tem 61 anos. Nasceu em Campinas, mas foi criado em Eldorado, interior de São Paulo. Ingressou na Academia Militar Agulhas Negras, no Rio, formando-se em 1977. Fez sua carreira por lá. Chegou a capitão da reserva. Em 1986, comandou um protesto contra os baixos salários dos militares. Foi preso por 15 dias. Dois anos depois, foi absolvido no Superior Tribunal Militar. Virou herói dos praças. Mas nunca conquistou a simpatia dos oficiais de alta patente. No mesmo ano de sua absolvição, candidatou-se a vereador no Rio, pelo Partido Democrata Cristão, o PDC. Foi eleito. Mais dois anos e Bolsonaro seguiria para o Congresso, elegendo-se deputado federal por sete mandatos consecutivos, por PPR, PPB, PTB, PFL e PP.
O que o deputado ganha, então, ao parecer tão raivoso? A empatia de uma população que está, ela própria, desinformada e com raiva. Na quarta-feira passada, Bolsonaro tinha, no Facebook, quase 2.905.000 seguidores – mais que a presidente Dilma e a presidenciável da Rede, Marina Silva. Entre janeiro e março deste ano, período de maior acirramento na disputa política, Bolsonaro ganhou mais de 760 mil seguidores. Muita gente está ali para criticá-lo, muitos são seguidores fabricados. Mas outros muitos encontram guarida em sua estridência. Ela faz Bolsonaro parecer mais popular do que de fato é. E essa aparência tem a consequência de empolgar pessoas que, sozinhas, não admitiriam simpatia por ele.
Com essa filosofia e com a dedicação a alguns poucos temas polêmicos, Bolsonaro saltou, de 2010 para 2014, de 121 mil votos para 464 mil. Foi o deputado mais votado no Estado do Rio de Janeiro. “Dei muita entrevista para rádios do interior. O interior é o meu forte, o pessoal deixa eu falar à vontade, me dá uma hora no ar”, diz Bolsonaro. Ele conseguiu também eleger Eduardo, com 82 mil votos em São Paulo, gastando pouco mais que R$ 50 mil. Outros dois filhos entraram na política com discurso similar ao do pai: Flávio é deputado estadual no Rio (e trocou tiros com bandidos que tentaram assaltar seu carro na Barra da Tijuca) e Carlos vereador no Rio, ambos pelo PP.
A principal ambição política de Bolsonaro no momento é gozar do palanque que uma campanha presidencial oferece. Desta vez, não só para causar com suas posições. “A minha missão é estar na mesa nos debates presidenciais. Nas últimas eleições, só discutiam Pronatec e Bolsa Família. Temos de discutir as reservas minerais, a biodiversidade, o comércio com o mundo todo, turismo, quilombola, agronegócio, pecuária, malha ferroviária do Brasil, malha hidroviária”, diz o deputado, com a fluência de quem tem quase três décadas de Congresso. Na esperança de se tornar mais que um fenômeno na internet, Bolsonaro tem viajado pelo país. Diz que vai com o dinheiro do partido e com sua verba de parlamentar. “Faço algumas palestras. Mas o importante é a recepção nos aeroportos, que chega a ter 1.000 pessoas. Fica legal nos videozinhos pro Facebook!”
2 comentários:
Falando da "irrelevância" do deputado, de um blog que não tinha um único comentário sequer, em 18 dias de publicação. Cômico...
Irrelevante é esse blogue!!!
#BOLSONAROPRESIDENTE
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