O agravamento da disputa comercial entre EUA e China deve frear a economia mundial – e complicar a situação do Brasil
AÇÃO Donald Trump impôs novas tarifas
a produtos chineses: acusação de que os asiáticos frustraram negociações em curso
REAÇÃO
Sob comando de Xi Jimping, a China depreciou o yuan: exportações mais competitivas (Crédito: REUTERS/Kevin Lamarque)
Marcos Strecker
O acirramento da guerra comercial dos EUA com a China, que atingiu
seu ápice na última semana, agora traz o temor de uma recessão global. O
presidente Donald Trump anunciou que imporá novas taxas de 10% sobre
mais de US$ 300 bilhões em produtos e serviços a partir de 1 de
setembro. Como resposta, o banco central chinês desvalorizou sua moeda
para o menor patamar desde 2008 — acima da barreira simbólica dos 7
yuans por dólar. Com isso, seus produtos ficam mais competitivos. Outra
medida foi interromper a compra de produtos agrícolas dos EUA. Como
resposta, Trump acusou a China de “manipulação cambial”. O banco central
chinês, por outro lado, divulgou uma advertência: “A China aconselhou
os EUA a frear antes do precipício, a reconhecer seus erros e a voltar
atrás nessa trajetória equivocada”. Diminuiu o tom, no entanto, ao
declarar que não deseja entrar numa disputa cambial, e tomou medidas
para conter a desvalorização, o que acalmou os mercados.
O recrudescimento da disputa entre as duas maiores economias do mundo
teve efeito imediato e destrutivo: as bolsas mundiais despencaram. A
desestabilização de mercados financeiros prosseguiu quando Índia, Nova
Zelândia e Tailândia também depreciaram suas moedas. Os investidores
retiraram dinheiro da China e de países emergentes procurando proteção –
movimento que atingiu também o Brasil. Guerra prolongada
A iniciativa da China significa que o país prevê um confronto
prolongado com os EUA. É uma má notícia. O conflito deve frear o
crescimento da economia mundial. Os bancos centrais não têm espaço para
diminuir as taxas de juros e estimular a economia em diversos países, já
que esses índices estão em níveis extremamente baixos.
O aumento das tensões cria um desafio ainda maior para o Brasil. A
soja nacional valorizou em um primeiro momento e itens na pauta de
exportações podem se beneficiar. Mas não há razão para otimismo. Os
efeitos deletérios da disputa entre os dois gigantes são globais e
atingem outros parceiros que também comercializam com o Brasil.
A depreciação de commodities como minério de ferro e petróleo vai
atingir a economia. Além disso, os investidores se retrairão, em busca
de segurança. Esse cenário internacional adverso será um novo obstáculo à
retomada econômica do País, que se arrasta com reformas morosas ou
paralisadas.
Na luta pela reeleição em 2020 Trump deve procurar cada vez mais
agradar o eleitor médio buscando inimigos internos e externos, e a
ascensão chinesa é seu alvo preferencial. O Brasil não deveria continuar
planejando uma agenda para o futuro, quando o presente está na esquina.
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