Mesmo afastada da Presidência pelo Senado, Dilma Rousseff pretende usufruir das benesses do poder. Quem paga a conta é você
Na quarta-feira 11, o Senado deverá
afastar Dilma Rousseff da Presidência da República por até 180 dias,
período em que será julgado o processo de impeachment. Apesar de, já na
quinta-feira 12, não ser mais a chefe da Nação, Dilma quer continuar
usufruindo das benesses do poder. Nos últimos dias, ela dedicou parte de
seu tempo preparando uma lista de exigências endereçadas a Renan
Calheiros, presidente do Senado e responsável por atender ou não aos
pedidos. Eles não são poucos. Dilma vai solicitar, para uso pessoal, uma
frota de dez automóveis oficiais e cinco motos, além de helicópteros e
aviões da FAB para viagens no Brasil e no exterior (os custos com
hospedagem, combustível e tripulação serão, portanto, bancados pelos
contribuintes). Não é só. A petista exige uma equipe de 20 assessores
diretos, e uma verba para alugar uma casa de luxo em Brasília para
abrigar o que chama de “governo paralelo”. Dilma já declarou a pessoas
próximas que, por ora, não vai arredar pé do Palácio do Alvorada, a
residência oficial da Presidência, enquanto o Senado não concluir o
julgamento do impeachment. Significa que terá, ao seu dispor, os cerca
de 80 funcionários do Palácio, entre cozinheiros, jardineiros,
motoristas e seguranças. Ela também está incomodada com o corte do
salário pela metade, conforme prevê a legislação. Em um encontro recente
com Renan, Dilma pediu que os rendimentos sejam mantidos integralmente.
Em 1992, afastado pelo impeachment, o ex-presidente Fernando Collor fez
reivindicações semelhantes. Todas recusadas (leia box).
As reivindicações exageradas de Dilma são
ainda mais inadequadas em um momento em que toda a sociedade discute – e
exige – austeridade com os gastos públicos. Basta um olhar atento às
manifestações dos últimos tempos para entender como os brasileiros não
suportam mais políticos que desrespeitam o Erário. Qual é o sentido de
continuar voando em aeronaves da FAB se ela não será mais a presidente
em exercício? O que justifica o apoio de 20 assessores diretos se, no
período em que estiver afastada, Dilma não terá a caneta presidencial?
Mais grave ainda: a petista declarou mais de uma vez que, enquanto o
Senado não julgar o impeachment, ela se dedicará a atazanar o governo
Temer. Ou seja, o sagrado dinheiro dos contribuintes será gasto em
projetos que não atendem aos interesses do País, mas aos propósitos de
uma pessoa em particular.
O tema tem provocado debates no meio
jurídico. “Dilma estará suspensa das funções de presidente caso o
processo seja admitido pelo Senado. Administrativamente, não terá
direito a qualquer estrutura”, afirma o constitucionalista Ives Gandra
Martins. “Uma vez que a lei é omissa, ela teria direito exclusivamente
aos privilégios de um ex-presidente, com o acréscimo de poder receber
metade dos vencimentos.” O especialista também questiona o uso do
Palácio do Alvorada por Dilma, caso o afastamento seja confirmado. “O
Alvorada é a residência oficial do presidente da República e, no período
de afastamento, quem responderá pelas funções é o vice Michel Temer.
Então, ele deveria deixar o Palácio do Jaburu e se instalar no
Alvorada.” Professor de Direito do Mackenzie, Gustavo Rene Nicolau pensa
diferente. “Até o julgamento final, Dilma continuará sendo a
presidente. Como a lei não define as prerrogativas válidas para tal
período, é razoável que ela continue ocupando o Palácio do Alvorada.”
Além de garantir mordomias para si própria,
Dilma trabalha em prol dos ministros mais próximos. O governo estuda uma
maneira legal de garantir salário e imunidade ao primeiro escalão
durante o período que durar o processo no Senado. A lei não deixa claro
se deve haver remuneração oficial nesse período, mas Dilma diz que vai
lutar por isso. A ideia da petista é montar o que chama de “tropa de
choque” contra o governo Temer. Farão parte desse grupo a ministra do
Desenvolvimento Social, Tereza Campello, responsável pelo programa Bolsa
Família e pelas políticas de combate à miséria, o ministro da Aviação
Civil, Carlos Gabas, que comandou a pasta da Previdência, e a presidente
da Caixa, Miriam Belchior, que comandou o Planejamento. Também integram
a turma os assessores especiais Giles Azevedo e Marco Aurélio Garcia,
peça importante para manter viva no exterior a tese degolpe encampada
pelo PT. Jaques Wagner e Aloizio Mercadante deverão atuar como
conselheiros, mas sem função pública em Brasília. O advogado-geral da
União, José Eduardo Cardozo, tentará autorização para continuar
defendendo a petista no processo de impeachment, mas sem remuneração.
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