21 de set. de 2013

Mortes em família

Em menos de dois meses, quatro tragédias familiares ocorreram na Grande São Paulo. Como explicar esses homicídios?

Natália Mestre e Andres Vera
Em um período de menos de dois meses, a região metropolitana de São Paulo foi palco da morte de quatro famílias inteiras. Além do assassinato dos Pesseghini, os PMs que teriam sido executados pelo filho de 13 anos, outras duas tragédias chocam pela brutalidade que é um pai ou uma mãe ser capaz de tirar a vida do próprio rebento. No início do mês, na cidade de Cotia, o cabeleireiro Claudinei Pedrotti Júnior, 39 anos, envenenou a mulher, Suelen da Silva, os filhos de 7 e 2 anos e a si próprio. No sábado 14, a polícia se deparou com os corpos das adolescentes Paola Knorr Victorazzo, 13 anos, e Giovanna Knorr Victorazzo, 14, em uma casa no bairro do Butantã, na zona oeste. A mãe delas estava deitada no chão da sala. Muito abalada, Mary Knorr, 53 anos, dizia que havia matado as filhas e que queria morrer. Ela foi levada ao Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP), onde permanece internada. “Para a investigação não resta dúvida: foi a mãe que assassinou as meninas”, diz o delegado responsável, Gilmar Contrera. “Policiais e médicos ouviram a confissão dela.” As meninas morreram asfixiadas. O último caso segue em aberto. A auxiliar de enfermagem Diná Vieira Lopes da Silva, 43 anos, e seus quatro filhos foram encontrados sem vida em casa, na terça-feira 17, em Ferraz de Vasconcelos, na Grande São Paulo. Há três linhas de investigação: assassinato cometido pelo namorado de Diná, envenenamento e vazamento de gás no apartamento.
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É inevitável tentar entender o que motivou tantas mortes de pessoas da mesma família em um período tão curto de tempo. Embora não haja uma resposta única, alguns paralelos podem ser traçados, segundo especialistas. “A psiquiatria é taxativa. Não se pode admitir que essas pessoas eram sãs. Eram insanos mentais. Quem comete esse tipo de crime costuma ter pré-disposição a atos violentos”, diz o psiquiatra forense Guido Palomba. “Existem, sim, elementos comuns a todos os casos. Há um padrão de frustração extrema, incapacidade de tomar decisões e, finalmente, fuga”, completa Suely Guimarães, doutora em psicologia da Universidade de Brasília (UnB). Os casos espantam porque os possíveis distúrbios mentais não foram detectados por quem convivia com esses assassinos. Na tragédia dos Pesseghini, por exemplo, até hoje os parentes dos PMs não acreditam que o menino seja o autor dos crimes. No caso do Butantã, o pai das adolescentes disse que sua ex-mulher sempre tratou muito bem as filhas. A diarista da família também descreveu Mary como “uma mãe perfeita” e se diz completamente surpresa com os assassinatos.
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A maioria dos especialistas defende a ideia de que os autores dos crimes são pessoas que já possuem transtornos – nem sempre diagnosticados – e, influenciados por algum fenômeno externo, como problemas financeiros ou até mesmo uma briga no trânsito, acabam entrando numa espécie de surto. Nos casos do Butantã e de Cotia, a falta de dinheiro pode ter sido o gatilho. Segundo a polícia, Mary tem quatro passagens por estelionato e deve cerca de R$ 200 mil. Já o cabeleireiro Claudinei era procurado por roubo e, de acordo com o delegado Andreas Schiffmann, estava endividado. O aluguel da casa onde a família morava estava atrasado e a energia elétrica cortada por falta de pagamento. Segundo o Boletim de Ocorrência, um primo relatou à polícia que Claudinei teria dito a uma parente que ia matar a família. Na parede da cozinha da casa, a polícia encontrou escrita com lápis de cor a seguinte frase: “Deus que me perdoe, não consegui cuidar dos meus filhos”, que acredita ser um desabafo do pai. “Esses dois casos são exemplo de quando o provedor da família que, em um momento de desespero, somado a algum tipo de problema mental ou depressão, resolve desistir de tudo e levar consigo os seus dependentes”, explica Guaracy Mingardi, doutor em ciência política pela USP e ex-investigador de polícia.
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É possível ainda que haja algum contágio, quando um determinado caso estimula a ocorrência de outro, especialmente se associado a problemas psiquiátricos prévios. “Pessoas com tendência depressiva, em grau variado, são suscetíveis a mensagens de crime e suicídio. Elas não são determinantes, mas funcionam como gatilho para ações violentas”, diz Suely Guimarães, da UnB. “Cada caso segue sua lógica independente. Os crimes teriam ocorrido de qualquer maneira. Mas a psiquiatria reconhece que pode haver um efeito cascata. Nesse caso, a notícia de um crime pode, sim, influenciar a pessoa a colocar em prática um ato violento latente”, conclui Palomba.
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