31 de jan. de 2015

As digitais do tesoureiro

Investigações se aproximam de João Vaccari Neto a partir da inclusão da empreiteira Schahin no inquérito da Lava Jato. O petista seria o elo com a empresa suspeita de ter integrado o esquema de desvio de recursos da Petrobras para irrigar os cofres do PT

Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br)
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O CERCO SE FECHA
Ligação do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, com empreiteira
investigada no esquema da Petrobras complica ainda mais sua situação
Na terça-feira 27, a Polícia Federal abriu dez novos inquéritos contra empreiteiras citadas no Petrolão. São suspeitas de conluio em licitações e pagamento de propina a políticos e executivos. Dentre elas, atrai especialmente a atenção da força-tarefa da Operação Lava Jato o grupo Schahin. Fundado pelos imigrantes sírios Salim e Milton Taufic Schahin, o grupo se originou numa corretora de valores, evoluiu para empreendimentos imobiliários e hoje atua em todos os setores estratégicos da economia, como telecomunicações, produção e transmissão de energia, infraestrutura portuária e até exploração de petróleo do pré-sal.
Uma das estrelas petistas mais próximas dos irmãos Schahin é o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que, agora, corre sério risco de virar réu na Justiça Federal do Paraná. Com base na recente delação do ex-gerente de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco e em depoimentos de outros investigados, como o ex-diretor internacional da estatal Nestor Cerveró, que foi preso no início do mês, a PF suspeita que o grupo Schahin tenha integrado o esquema de desvio de recursos da Petrobras e de outras obras públicas para encher os cofres do PT. Os contratos da Petrobras com o grupo empresarial preveem o arrrendamento de plataformas e navios-sonda de exploração em águas ultraprofundas. No total, a Schahin teria recebido US$ 15 bilhões pelos contratos. Indícios levantados pela PF sugerem que o dinheiro desviado percorreu uma rota internacional complexa, escoando por meio de mais de uma centena de contas bancárias distribuídas em quase 50 offshores em uma dezena de diferentes paraísos fiscais, como Panamá, Suíça, Ilhas Virgens Britânicas, Ilhas Marshal, Cayman e Luxemburgo. “A engenharia financeira criada pelo grupo Schahin para os contratos com a Petrobras é uma espécie de cebola, com várias camadas até o seu núcleo.
Para chegarmos aos verdadeiros controladores, precisamos descascá-la camada por camada”, afirma um dos delegados envolvidos na investigação. Só no Panamá, o grupo Schahin criou ao menos nove offshores. Uma delas é a Turasoria S.A., proprietária do navio-sonda SC Lancer, arrendado à Petrobras. No contrato social da Lancer, são indicados como sócios José Jannarelli, Lilian de Muschett e Kenji Otsuki. Em 2013, o nome de Muschett apareceu no escândalo envolvendo o premiê da Espanha, Mariano Rajoy. Ela figurava em empresas fantasmas criadas pelo ex-tesoureiro do PP espanhol Luis Bárcenas para lavar dinheiro de corrupção. Otsuki, por sua vez, já foi citado como “homem da propina do Banco Schahin” pelo corretor Lucio Bolonha Funaro, também citado no caso do mensalão.
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Em Dellaware, nos EUA, o grupo Schahin mantém outras duas offshores, a Soratu Drilling LLC e a Baerfield Drilling LLC, controladoras de outras sondas arrendadas à Petrobras. Extratos bancários, obtidos por ISTOÉ, revelam que essas empresas receberam recursos da conta nº 232222-04 que o Banco Schahin mantinha no Clariden, na Suíça. Em 2011, a entidade financeira foi vendida pelo grupo ao BMG. Posteriormente, uma investigação sigilosa do Banco Central apontou que a Schahin desviou US$ 110 milhões de contas dos clientes para o banco Clariden e que os recursos desapareceram. Agora, suspeita-se que o dinheiro foi usado para alavancar empréstimo de US$ 1 bilhão dos Schahin junto ao Deutsche Bank para o arrendamento dos navios-sonda para a Petrobras.
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ELES JÁ SABIAM
Segundo o ex-gerente de serviços da Petrobras Pedro Barusco (acima),
o tesoureiro do PT, João Vaccari, tinha uma boa relação com o grupo Schahin.
Pivô do mensalão, Marcos Valério (abaixo) contou ao MP que um empréstimo de R$ 6 milhões
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Funaro, que possui uma antiga disputa judicial com o grupo Schahin, promete arrolar a Petrobras numa ação contra o grupo em Nova York. Na CPI que investigou a Petrobras em 2009, ele também denunciou a “relação umbilical” dos Schahin com Vaccari e os fundos de pensão Previ, Petros e Funcef. A oposição tentou investigar o caso, mas não conseguiu. Na última Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar crimes contra a Petrobras, no ano passado, deputados do PPS e do PMDB mineiro apresentaram requerimentos para audiências sobre os contratos da Schahin com a estatal. Mas os requerimentos foram sumariamente engavetados pelos governistas. A blindagem sobre os negócios da Schahin também impediu que avançassem todas as tentativas de denúncias recentes, inclusive de gente ligada ao PT.
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No final de 2012, o publicitário Marcos Valério procurou um acordo tardio de delação premiada para tentar reduzir sua condenação no processo do mensalão. Ofereceu ao MPF denúncia-bomba de que a cúpula do PT teria recorrido a um empréstimo de R$ 6 milhões do Banco Schahin para comprar o silêncio de um empresário de Santo André que ameaçava envolver Lula, José Dirceu e Gilberto Carvalho na morte do ex-prefeito Celso Daniel. Segundo Valério, a ajuda de Schahin rendeu ao grupo os gordos contratos de arrendamento de sondas à Petrobras. Em abril do ano passado, para tentar preservar o mandato parlamentar e evitar a expulsão do PT, o então deputado federal André Vargas envolveu o nome da Schahin com o casal Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann em negociatas na hidrelétrica de Itaipu. Coincidência ou não, Gleisi foi tesoureira da usina e até dias atrás Vaccari tinha assento no conselho de administração.
Além das sondas e plataformas, a Schahin também faturou
com obras de gasoduto e até da reforma do Centro de Pesquisas da Petrobras
Mesmo execrado do partido e sem mandato, Vargas ainda guarda o que sabe para usar num eventual processo. Cerveró, por exemplo, entregou só uma ponta do iceberg de segredos da relação PT-Schahin-Petrobras. Contou que a estatal começou a negociar com a empresa a partir de 2006, para suprir a demanda por plataformas FPSOs e navios-sonda de exploração em águas ultraprofundas. Explicou que a primeira parceria foi firmada com a japonesa Mitsui e que a Schahin entrou como “investidora”. A PF e o MPF querem entender por que uma empresa líder mundial do setor precisaria se associar a um grupo brasileiro sem expertise e em situação financeira precária. A suspeita dos investigadores é de que a Schahin tenha entrado como intermediária para viabilizar o pagamento de propina ao PT.
De 2006 até hoje, os contratos de arrendamento se multiplicaram. Em 2008, foram adquiridos dois navios-sonda, e outro no ano seguinte. Em 2011, a estatal arrendou mais duas plataformas e, em 2012, fechou negócio para mais três navios-sonda. A maioria desses contratos, obtidos por ISTOÉ, é remunerada por hora, mesmo quando os navios não estão em uso. Além das sondas e plataformas, a Schahin também faturou com obras de gasoduto e até da reforma do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes). Esta obra foi citada pelo ex-gerente Pedro Barusco como exemplo da “boa relação” entre Vaccari e o grupo Schahin. Na delação premiada, Barusco revelou uma “troca de propinas” com o tesoureiro do PT. Disse que precisava receber um “crédito” dos Schahin pela obra do Cenpes e, como devia para Vaccari, resolveu fazer uma permuta, pela qual o tesoureiro herdaria a propina do ex-gerente. Procurada, a Schahin se limitou a responder que “desconhece os termos do noticiado inquérito”.
AS OFFSHORES DA SCHAHIN PELO MUNDO 
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Fotos: Paulo Araújo/Agencia O Dia/AE; MARCELO PRATES/HOJE EM DIA/AE

30 de jan. de 2015

Neve cancela voos domésticos e afeta sistema ferroviário no Japão

Quase 50 decolagens dentro do país foram suspensas nesta quinta-feira.
Tráfego metroviário foi prejudicado no horário de pico em Tóquio.

Da France Presse
Visitantes caminha no Palácio Imperial em Tóquio durante queda de neve nesta sexta-feira (30) (Foto: Yuya Shino/Reuters)Visitantes caminha no Palácio Imperial em Tóquio durante queda de neve nesta sexta-feira (30) (Foto: Yuya Shino/Reuters)
As fortes nevadas em Tóquio nesta quinta-feira (29) forçaram as companhias aéreas a anular dezenas de voos domésticos, e a situação pode se agravar ainda mais.
A companhia ANA cancelou 47 voos, e a Japan Airlines (JAL), 18, com partida, ou chegada a Tóquio-Haneda, um dos aeroportos da capital e o mais perto do centro. Já no de Tóquio-Narita, mais afastado e usado para voos internacionais, o tráfego era normal.
O tráfego ferroviário, muito intenso nos horários de pico, também estava prejudicado. A neve atingia intensamente desde a noite anterior a região de Kanto (leste), onde fica a capital.
Pelo menos 20 pessoas morreram desde dezembro em acidentes provocados pela neve, no norte e no oeste do Japão.
Pedestres caminham sobre a neve em estação de trem em Tóquio nesta sexta-feira (30) (Foto: YOSHIKAZU TSUNO/AFP)Pedestres caminham sobre a neve em estação de trem em Tóquio nesta sexta-feira (30) (Foto: YOSHIKAZU TSUNO/AFP)
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Neve cobre veículos em Tóquio nesta sexta-feira (30) e intensidade deve aumentar nos próximos dias (Foto: YOSHIKAZU TSUNO/AFP)Neve cobre veículos em Tóquio nesta sexta-feira (30) e intensidade deve aumentar nos próximos dias (Foto: YOSHIKAZU TSUNO/AFP)

29 de jan. de 2015

3D sem óculos

Pesquisadores austríacos criam tecnologia à base de microespelhos e raio laser para permitir que imagens em três dimensões possam ser vistas sem nenhum dispositivo diante dos olhos

Cesar Soto (cesar.soto@istoe.com.br)
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A tecnologia dos televisores 3D é muito mais antiga do que imagina a maior parte dos consumidores. Os primeiros aparelhos a apresentar imagens em três dimensões datam do final dos anos 20 do século passado. Eram equipamentos rudimentares, pouco semelhantes aos televisores modernos de hoje, mas que também careciam de óculos especiais para que as imagens em três dimensões pudessem ser vistas pelos espectadores.
Hoje, quase 100 anos após a criação da primeira televisão 3D, os óculos ainda são parte essencial para se viver a experiência de assistir a imagens em três dimensões. Mas não por muito tempo, garante um grupo de pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Viena, na Áustria. De acordo com eles, já a partir de 2016, imagens 3D de alta definição poderão ser assistidas por centenas de pessoas, ao mesmo tempo, sem a necessidade de nenhum tipo de equipamento diante dos olhos.
Tudo graças a uma tecnologia desenvolvida com a TriLite Technologies, uma empresa especializada em monitores, que em 2013 teve a ideia de criar um telão que projeta a luz diretamente para os olhos do espectador. Segundo Jörg Reitterer, pesquisador da empresa e doutorando da universidade, o protótipo construído pela parceria resolve todos os principais problemas que a exibição em 3D enfrenta para se popularizar, como a redução da qualidade e da claridade da imagem e, principalmente, os óculos.
A base do projeto é o chamado trixel, aparelho milimétrico que utiliza lasers e um microespelho móvel para projetar imagens diferentes diretamente em cada olho do observador, criando a ilusão de tridimensionalidade sem a necessidade de óculos ou algo parecido. Além disso, ao contrário de um cinema 3D ou de um televisor do tipo, a nova tecnologia consegue gerar diversas imagens ao mesmo tempo, que variam conforme o ângulo em que são observadas.
Ou seja, o trixel não apenas resolve o problema do número limitado de óculos de uma TV, mas também apresenta novas possibilidades para a tecnologia. “Uma pessoa sentada em uma cafeteria vê uma propaganda para um café de sua mesa, enquanto um cliente próximo à vitrine, olhando exatamente a mesma tela, pode enxergar a tabela de preços do local, por exemplo”, conta Reitterer.
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27 de jan. de 2015

Defesa de Cerveró recua e retira Dilma do rol de testemunhas



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Menos de duas horas depois de solicitar à Justiça Federal do Paraná que intime a presidente Dilma Rousseff (PT) como testemunha de defesa na ação penal contra o ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, a defesa do executivo recua e pede a substituição do nome da petista no rol de interrogados.

Em nova petição apresentada na tarde desta segunda-feira, 26, o advogado Edson Ribeiro, que defende o ex-diretor, pede que Dilma seja substituída por Ishiro Inagaki, de Tóquio.

Na defesa prévia apresentada no início da tarde, Ribeiro alegava a incompetência do juiz Sérgio Moro para julgar a ação. "A denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal narra fatos e condutas pretensamente ocorridos na Cidade do Rio de Janeiro, Estado do Rio de Janeiro, evidenciando-se a manifesta incompetência desse MM. Juízo para processar e julgar a presente demanda", afirma o defensor no documento.

Além disso, ele afirmava que houve cerceamento da defesa, pois até hoje não teve acesso à íntegra da delação premiada de Paulo Roberto Costa, e pedia a absolvição sumária do réu e a rejeição da denúncia "em razão da inexistência de suporte probatório mínimo com consequente extinção do processo sem resolução do mérito". Por fim, o defensor afirmava que "caso não se entenda pela extinção do processo, com ou sem resolução do mérito, requer sejam intimadas as testemunhas indicadas no rol em anexo".

No rol original de testemunhas constavam a presidente e os ex-presidentes da Petrobras José Sergio Gabrielli e José Carlos de Lucca, que dirigiu a estatal na década de 1990 e atualmente é presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP).

25 de jan. de 2015

RN tenta superar obstáculos para explorar potencial da energia eólica

Produção do RN responde por 30% da geração de energia eólica no país.
Infraestrutura para expansão tem avanços, porém, enfrenta problemas.

Felipe Gibson e Fred Carvalho Do G1 RN
Em São Miguel do Gostoso, a praia divide o cenário com os aerogeradores (Foto: Felipe Gibson/G1)Em São Miguel do Gostoso, a praia divide o cenário com os aerogeradores (Foto: Felipe Gibson/G1)
Posicionado na chamada "esquina do continente", o Rio Grande do Norte é responsável pela maior produção de energia eólica do Brasil, pouco mais de 30% do total, mas ainda patina nas tentativas de aproveitar todo o seu potencial e colocar a eletricidade gerada a partir dos ventos como alternativa real no país -- uma oportunidade reforçada após o apagão da última semana.
 
Investidores do setor alegam que o atraso na construção de linhas de transmissão e uma estrutura melhor no porto de Natal para escoar equipamentos que compõem os parques eólicos são empecilhos para o desenvolvimento.

O RN possui 67 parques eólicos, que produzem comercialmente 1,79 gigawatts de energia, segundo levantamento do Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energias Renováveis (Cerne). Dos mais de 130 gigawatts produzidos no país, a imensa maioria vem de hidrelétricas e termelétricas. Os parques eólicos no Brasil inteiro ainda respondem por uma parcela de 3,5%, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Na Dinamarca - país tido como referência no setor - esse índice chega a 43%. A meta do país, de acordo com a Agência de Energia Dinamarquesa, é chegar a 2050 produzindo somente energia e calor limpos, eliminando as emissões de dióxido de carbono. Lá, o problema das linhas de transmissão foi resolvido com a construção de cabos subterrâneos.
O Brasil planeja aumentar a produção de energia por fontes renováveis. Segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia 2023, do Ministério de Minas e Energia, as energias eólica e solar devem registrar crescimento de 8% nos próximos anos.
Vantagens ambientais
Hugo Alexandre, diretor executivo da Bioconsultants, empresa que presta consultoria ambiental para empresas de energia eólica, diz que termelétricas e hidrelétricas de fato geram mais eletricidade. Mas o diferencial da energia gerada a partir dos ventos está atrelado aos impactos ambientais.
"Toda e qualquer atividade vai gerar impacto, principalmente se for na geração de energia. O importante é sempre tentar casar a geração de energia com a nova política mundial colocada, que é a política da sustentabilidade", afirma Hugo Alexandre. Com base nessa ideia, ele compara a geração de energia eólica com as demais fontes da matriz energética.
Alexandre detalha que os parque eólicos ocupam uma média de 30% a 40% das terras em que são instalados, não geram resíduos e causam pouco desmatamento se comparado às demais fontes da matriz energética. "A eólica convive com outras atividades como pecuária, agricultura e preservação do meio ambiente. É comum você ter em cima as torres gerando em cima e as plantações embaixo. A comunidade e o proprietário da terra podem utilizar a área tranquilamente", conta.
Bacia dos ventos
A vocação natural do RN se explica pela localização na "esquina do continente". O diretor-presidente do Cerne, Jean-Paul Prates, explica que o estado fica no caminho de uma bacia de ventos e é provavelmente um dos melhores lugares do mundo para a energia eólica. "É uma formação regular de ventos que vêm do Atlântico Sul, batem na costa africana e acabam na ponta do Brasil, onde o RN está", observa.
Especializada em energias renováveis, a empresa francesa Voltalia foi uma das que aterrissou no Rio Grande do Norte para explorar os ventos. Com 15 projetos contratados por meio de leilões organizados pelo governo federal, o diretor geral da empresa, Robert Klein, afirma que os investimentos não devem parar por aí.
"Já investimos cerca de R$ 400 milhões e no conjunto de todos os projetos devemos chegar a um valor entre R$ 1,8 bilhão e R$ 2 bilhões. Queremos ampliar os parques e estamos estudando participar de novos leilões", afirma.
Voltalia iniciou operação do parque eólico de Areia Branca no fim do ano passado (Foto: Divulgação/Voltalia)Voltalia iniciou operação do parque eólico de Areia Branca no fim do ano passado (Foto: Divulgação/Voltalia)
A Voltalia iniciou em novembro deste ano a operação comercial de um dos três projetos do complexo eólico de Areia Branca, no litoral Norte potiguar. A empresa já começou a construção de oito parques nos municípios de Serra do Mel e São Miguel do Gostoso, também no litoral Norte. Outras quatro usinas estão contratadas para serem implantadas em Serra do Mel.
Visual nas margens das estradas é repleto de
aerogeradores (Foto: Felipe Gibson/G1)
Visual nas margens das estradas traz aerogeradores no RN (Foto: Felipe Gibson/G1)Expansão
As empresas que atuam no Rio Grande do Norte planejam se expandir no estado. Levando em conta a operação de todos os projetos, está prevista para os próximos anos a geração de mais de 4 gigawatts, segundo previsão da Aneel.

Atualmente, o destaque fica por conta da região do Mato Grande, onde estão os municípios de João Câmara e Parazinho, cidades com a maior parte dos projetos funcionando comercialmente, além dos parques em construção e contratados.
Fora as regiões localizadas no litoral ou próximas dele, o estado também possui projetos em construção em regiões serranas, onde a força e constância dos ventos são influenciadas não pela proximidade do mar, mas sim pela altitude. A região chamada de Serra de Santana, onde estão as cidades de Lagoa Nova, Bodó, Santana do Matos, Florânia e Tenente Laurentino Cruz, também aparece no mapa eólico do estado.
O processo
Toda a energia produzida, independente da fonte, vai para as redes do Sistema Interligado Nacional. O diretor de Energia Eólica do Cerne, Milton Pinto, costuma fazer uma analogia para explicar a distribuição da energia no país.
"É semelhante a uma grande piscina em que as fontes jogam água. Cada uma joga um tipo de água. A água da piscina será um mistura de cores que representa energia elétrica consumida no final", diz.
O processo de geração de energia eólica começa quando o vento atinge o aerogerador. De acordo com o professor Alexandro Vladno, coordenador do curso de energias renováveis do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), o fluxo de ar faz as pás girarem, gerando um movimento mecânico.
Rocha acrescenta que um gerador transforma a energia mecânica em elétrica. A eletricidade então segue para o transformador e é adequada para entrar na rede elétrica. Na subestação, o nível de tensão é adaptado para chegar ao consumidor.

Atrasos em linhas de transmissão
Dono da maior potência eólica instalada em todo o país, o Rio Grande do Norte tem como principais concorrentes para atrair projetos os estados da Bahia, Ceará e Rio Grande do Sul. A presidente da Associação Brasileira Energia Eólica, Elbia Melo, explica que os leilões têm se tornado cada vez mais competitivos e que a questão da infraestrutura tem pesado.
Atrasos nas linhas de transmissão deixaram
projetos parados (Foto: Felipe Gibson/G1)
Atrasos nas linhas de transmissão deixaram projetos parados no RN (Foto: Felipe Gibson/G1) No caso do RN, a perda de espaço em alguns leilões tem uma causa específica apontada por especialistas: o atraso na entrega das linhas de transmissão – responsáveis por levar a energia gerada nas usinas para as redes distribuidoras da eletricidade.
Embora acredite que a demora na entrega das linhas tenha sido um fator de desequilíbrio em leilões pontuais, a presidente da Abeeólica não acha que os dados sejam tão relevantes.
"Os leilões estão extremamente competitivos. Vencem os que possuem melhores condicões de infraesturura, onde entram as linhas de transmissão. Esse atraso colocou o Rio Grande do Sul um pouco a frente dos estados do Nordeste em alguns leilões porque lá as linhas de transmissão já estavam construídas", analisa Elbia Melo.

Logística
A infraestrutura do Rio Grande do Norte para receber os projetos também é um dos alvos de questionamentos nas discussões sobre energia eólica. O material usado na construção dos parques chega em navios e é transportado em carretas, que acompanhadas pela escolta de batedores, chegam até os empreendimento para serem montados. Por serem equipamentos pesados, as torres e pás usadas nos aerogeradores precisam de espaço para serem escoados. É aí onde, segundo investidores, reside um dos problemas.
Por estar localizado em um bairro de ruas estreitas como a Ribeira, na Zona Leste da capital, o porto de Natal exige uma logística mais complexa para o transporte dos equipamentos.
"É um porto confinado por terra", afirma o diretor geral do Cerne, Jean-Paul Prates. A falta de espaço também impede o desenvolvimento da cadeia produtiva no entorno, como acontece nos portos de Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco, constantemente escolhidos como pontos de transporte de carga dos parques eólicos instalados no RN.
Para a presidente da Abeeólica, Elbia Melo, a questão portuária é o que falta para um salto ainda maior do Rio Grande do Norte no setor. "Não é um porto adequado para este tipo de operação. São máquinas grandes, pesadas e que requerem um cuidado especial. A logística é um ponto muito importante. Tanto que os portos maiores atraem muitos fabricantes de equipamento. O porto de Natal não tem condições físicas para receber o tipo de carga que um empreendimento eólico movimenta", opina.

23 de jan. de 2015

Haiti pode 'se deteriorar rapidamente', diz brasileiro comandante de missão

Protestos, disputa de áreas por gangues e instabilidade política preocupam.
Brasil lidera desde 2004 missão de paz da ONU no país caribenho.

Tahiane Stochero Do G1, em São Paulo
General Jaborandy (à frente) inspeciona operação em área violenta e pobre do Haiti (Foto: UN)General Jaborandy (à frente) inspeciona operação em área violenta e pobre do Haiti (Foto: UN)
Protestos violentos, disputas de território entre gangues e incertezas políticas estão entre as principais preocupações do general do Exército brasileiro José Luiz Jaborandy Júnior, comandante militar da missão da ONU no Haiti. O país vive uma crise derivada da renúncia do premiê e da dissolução do Parlamento.

Desde 2004, quando uma crise institucional culminou com a queda do então presidente Jean Bertrand-Aristides, o Brasil comanda a operação de paz no país caribenho, trocando a cada seis meses mais de 1.000 soldados que mantém lá.
“A situação atual do Haiti, em função da instabilidade política, está frágil e volátil, podendo se deteriorar rapidamente. Há manifestações por todo o país e por razões distintas, como melhoria das condições de ensino e aumento salarial para os professores, falta de energia elétrica, falta de água, carência na assistência médico-hospitalar, dentre outras”, afirmou o general em entrevista exclusiva ao G1 a partir de Porto Príncipe.
Na capital haitiana, ele lidera mais de 5.000 militares da missão da ONU para estabilização do Haiti (Minustah). “Temos que admitir que realmente a situação política está passando por um momento de instabilidade e a comunidade internacional está acompanhando de perto”, acrescentou.
Em dezembro, o então primeiro-ministro Laurent Lamothe renunciou em meio a um período de agitação liderado pela oposição, que reivindica também a renúncia do presidente Michel Martelly, acusado de corrupção e de realizar prisões arbitrárias de opositores.
general jaborandy (Foto: Divulgação)
No início de janeiro, o Parlamento foi dissolvido após o fracasso das negociações para estender o mandato dos seus membros. País mais pobre das Américas e com metade da população analfabeta, o Haiti não tem eleições legislativas ou municipais há três anos, devido a diversos adiamentos. A falta de um Parlamento efetivo faz com que o presidente na prática governe por decreto.
“Na capital, a população tem se mobilizado nas ruas em demonstrações tanto pró como contra o governo. Em sua maioria apresentam um viés político e, normalmente, começam de maneira pacífica mas, por vezes, tornam-se violentas, sendo necessária a intervenção do poder público haitiano por meio da Polícia Nacional do Haiti (PNH)”, afirma o general brasileiro.
Cerca de 70% da população do país não possui emprego formal, segundo dados da ONU.
“Quanto aos riscos políticos, posso dizer que sempre existirão e que fazem parte do amadurecimento do processo democrático. A Minustah existe exatamente para auxiliar nesse processo", diz.

"Do ponto de vista das operações militares, o que mais nos preocupa é o incremento da violência entre gangues rivais na disputa de áreas de influência. Temos tomado as medidas cabíveis”, afirma. "Temos conseguido manter a segurança no país, mesmo com este cenário de instabilidade política".
Protestos tomam ruas do Haiti contra falta de água, luz e baixos salários (Foto: HECTOR RETAMAL / AFP)Protestos tomam ruas do Haiti contra falta de água, luz e baixos salários (Foto: Hector Retamal/AFP)
Antes de comandar a tropa no Haiti, o general esteve à frente da região militar responsável pela defesa do Pará e atuou em duas operações das Nações Unidas na América Central.
Questionado sobre se há temores de excesso de autoritarismo e ameaças à democracia, diante do cenário frágil, o oficial respondeu que era “difícil dizer”, mas que “acreditava que não”.

“Tanto a comunidade internacional, como a própria oposição, estão bastante vigilantes quanto a isso. Penso que qualquer indício poderá comprometer os investimentos e o aporte financeiro internacional”, entende o general Jaborandy.
Redução do efetivo da ONU
Segundo o brasileiro, o Conselho de Segurança da ONU deve votar em março o prosseguimento do cronograma de redução das tropas internacionais do país, que poderá cair a quase metade do efetivo atual e ficar em apenas 2.370 soldados. Logo após o terremoto que devastou o país em 2010, a ONU chegar a ter mais de 14 mil militares no Haiti.
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Manifestantes protestam contra suspeitas de corrupção do governo haitiano; polícia do Haiti e a ONU são responsáveis por cuidar da situação (Foto: HECTOR RETAMAL / AFP)Manifestantes protestam contra suspeitas de corrupção do governo haitiano; polícia do Haiti e a ONU são responsáveis por cuidar da situação (Foto: HECTOR RETAMAL / AFP)
O general diz que não se pode afirmar categoricamente se a ONU vai ou não manter o planejado, diante da situação atual.
“Qualquer que seja a decisão do Conselho de Segurança da ONU, estaremos prontos para executar. Temos plena confiança que nossa tropa saberá dar continuidade ao legado dos seus antecessores e que as forças haitianas saberão conduzir seus próprios destinos”, acredita Jaborandy.
Em 2 de janeiro deste ano, um soldado brasileiro de 21 anos foi baleado na perna em Cité Soleil, a maior e mais violenta favela de Porto Príncipe, pacificada pela tropa brasileira em 2007. O suspeito de acertar o brasileiro estava escondido e fugiu. A situação de segurança no local voltou a se deteriorar após esse processo.

“Cité Soleil é a região mais desfavorecida socialmente da capital do Haiti. A maior parte de seus habitantes são pessoas simples e humildes. Pessoas de bem. Porém, a marginalidade que existe em toda grande cidade, se esconde nas vielas das favelas de Cité Soleil”, explica o general, salientando que o soldado está em recuperação e deve voltar às atividades em algumas semanas.

22 de jan. de 2015

Brasil importa energia da Argentina um dia após apagão

Medida foi tomada pela primeira vez no governo Dilma para complementar o atendimento da demanda durante pico de consumo, de acordo com o ONS

Brasil não recorria a países vizinhos para comprar energia desde 2010
Brasil não recorria a países vizinhos para comprar energia desde 2010 (Reinaldo Canato/VEJA)
(Atualizado às 21h30)
Um dia após o apagão que atingiu 11 Estados e o Distrito Federal (DF), o Brasil importou energia da Argentina pela primeira vez no governo Dilma para complementar o atendimento da demanda no período de pico de consumo, de acordo com o informativo preliminar diário do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), divulgado nesta quarta-feira. A medida mostra que a entidade busca alternativas para atender o crescimento do consumo de energia no país, já que o Brasil não recorria a países vizinhos desde 2010.
Segudo o ONS, o intercâmbio de eletricidade ocorreu na terça-feira a pedido do próprio operador e foi equivalente a 165 MW (megawatts), o que corresponde a apenas 0,22% do total da energia consumida no país naquele dia (74.094 MW). A importação realizada ocorreu por meio das interligações de Garabi, no município de Garruchos (RS).
Em nota, o ONS explicou que o procedimento faz parte de um acordo operacional assinado em 2006 entre Brasil e Argentina, que permite que um país possa solicitar ao outro o envio de um volume determinado de energia em "ocasiões especiais". Ainda de acordo com a entidade,  "a troca de energia, nos dois sentidos, foi adotada em diversos momentos ao longo da vigência do acordo".
Questionado sobre as razões de não ter informado que houve importação de energia durante a entrevista coletiva realizada depois do apagão, o Ministério de Minas e Energia (MME) não se pronunciou até o fechamento desta reportagem. Durante a entrevista, o governo anunciou um plano de medidas emergenciais para atender a demanda por energia. O ministro da pasta, Eduardo Braga, garantiu na terça-feira que não há falta de energia no país.
(Com Estadão Conteúdo)

21 de jan. de 2015

Dólar fecha no menor nível desde 10 de dezembro com pacote de medidas de Levy

Moeda americana encerrou a terça-feira cotada em R$ 2,61

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O dólar terminou nesta terça-feira, 20, na menor cotação de fechamento desde o dia 10 de dezembro, após o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, anunciar um pacote de medidas na noite de ontem para aumentar a arrecadação do governo. O recuo do dólar também foi resultado de um movimento de ajuste depois de a moeda ter acentuado os ganhos no fim da tarde da segunda-feira, em meio à notícia de um corte de energia que atingiu vários Estados brasileiros.
No fim da sessão, o dólar terminou com baixa de 1,28%, aos R$ 2,6160. O volume de negócios totalizava cerca US$ 1 bilhão, perto das 16h30. No mercado futuro, o dólar para fevereiro perdia 1,37%, para R$ 2,6260.
 
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, anunciou, na noite de ontem, que o governo decidiu dobrar a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), de 1,5% para 3%, a partir de 1º de fevereiro. Além disso, informou o retorno da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) - R$ 0,22 por litro de gasolina -; o aumento do PIS/Cofins sobre a gasolina e o diesel; a alteração da cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para o setor de cosméticos; e o aumento da alíquota do PIS/Cofins sobre importados.
 
As medidas provocaram queda do dólar ante o real desde o início dos negócios, apesar de a moeda norte-americana subir ante outras divisas no exterior. Profissionais do mercado disseram, pela manhã, que o dólar foi pressionado no mercado doméstico por um fluxo de entrada de investidores estrangeiros. As expectativas em torno de um aumento de juros no Brasil, amanhã, e um anúncio de um programa de relaxamento monetário na Europa, na quinta-feira, atraem investidores interessados em aproveitar o diferencial dos rendimentos no âmbito doméstico e no exterior.
 
Durante a tarde, o dólar renovou mínimas na sessão, ainda sob o impacto do pacote de aumento de impostos e um movimento de ajuste, após os fortes ganhos registrados perto do fechamento dos negócios no balcão ontem. A moeda acelerou a alta no fim da tarde da segunda-feira após a notícia de que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) tinha ordenado a empresas do setor que cortassem o fornecimento de energia.
 
O ONS estava reunido nesta tarde para discutir as razões que levaram ao apagão que atingiu dez estados e o Distrito Federal na tarde de ontem. O encontro, que acontece no Rio, é presidido pelo diretor da ONS, Hermes Chipp. A reunião não tem prazo para apresentar conclusões sobre as causas do apagão. Há também a possibilidade de o encontro ser interrompido no final da tarde e continuar amanhã.
 
O ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, disse na tarde de hoje que não houve falta de energia ontem, mas falha técnica na transmissão da energia. Segundo ele, o ONS irá adotar novas manobras para oferecer energia com tranquilidade à população.
 

20 de jan. de 2015

Alta de impostos de combustível será repassada a refinarias, diz Petrobras

Governo anunciou aumento de impostos para gasolina e diesel.
Petrobras informou que o valor será embutido em seu preço de venda.

Do G1, em São Paulo
Em Itapetininga, preço da gasolina varia de R$ 2,75 a R$ 2,99 (Foto: Reprodução/ TV TEM)Preço da gasolina irá subir
(Foto: Reprodução/ TV TEM)
A Petrobras informou na noite desta segunda-feira (19) que o preço líquido para a empresa na venda de combustíveis ficará inalterado, após o anúncio do Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, sobre o aumento do PIS, a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre a gasolina e o diesel.
Isso significa que a Petrobras irá acrescer o valor desses dois impostos nas vendas das refinarias para as distribuidoras. O aumento do preço nas bombas para o consumidor depende de determinação dos postos.

O aumento
O ministro da Fazenda anunciou nesta segunda a elevação do PIS, da Cofins e da Cide sobre os combustíveis. Segundo Levy, o impacto será de R$ 0,22 para a gasolina e de R$ 0,15 para o diesel. O PIS e a Cofins terão alta imediata, mas o aumento da Cide só terá validade daqui a 90 dias. A expectativa do governo é arrecadar R$ 12,18 bilhões com esta medida em 2015.

"Daqui a três meses [quando começar a valer o aumento da Cide], temos intenção de reduzir o PIS e a Cofins", declarou ele. Questionado sobre qual será o impacto no preço dos produtos para o consumidor, o ministro informou que "isso vai depender da evolução do mercado e da politica de preços da Petrobras".

O presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis), Paulo Miranda, afirmou nesta segunda que o repasse do retorno da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre os combustíveis no preço pago pelos consumidores nos postos é uma "tendência natural".

Ele defende a redução dos preços cobrados pela Petrobras nas refinarias para evitar que o novo custo seja repassado às bombas.

Cide teve sua alíquota zerara em 2012 justamente para atenuar nos últimos anos o impacto do aumento do preços preços cobrados pela Petrobras.

Agora, com a queda do preço do petróleo e dos combustíveis no mercado internacional, a Fecombustíveis avalia que a Petrobras tem margem para reduzir os seus preços. "Seria o mais inteligente para não impactar o consumidor e compensar a cobrança da Cide", afirmou Miranda.

A compensação, segundo ele, será defendida em reunião do Ministério de Minas e Energia com representantes do setor de combustíveis marcada para a quinta-feira (22).

Ao ser questionado nesta segunda-feira sobre o impacto no preço dos produtos para o consumidor, Levy afirmou que isso dependeria "da evolução do mercado e da política de preços da Petrobras".

Preço da gasolina está quase 70% acima do internacional
Com a queda do preço do petróleo, a Petrobras passou a vender os combustíveis com um prêmio expressivo em relação a valores internacionais. O preço da gasolina nas refinarias do Brasil já está quase 70% acima do preço da referência internacional do combustível, segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

Trata-se da maior diferença desde o final de outubro do ano passado quando os preços dos combustíveis no Brasil deixaram de estar defasados em relação ao mercado internacional.

19 de jan. de 2015

Como são formados os jihadistas

A trajetória de radicalização dos irmãos Kouachi, responsáveis pelo atentado terrorista em Paris, é comum a muitos outros extremistas: começa num ambiente de pobreza e discriminação e se intensifica na cadeia, onde os muçulmanos são maioria

Mariana Queiroz Barboza e Bruna Estevanin
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ESCOLA DO TERROR
Apesar de representarem menos de 10% da
população francesa, 60% dos quase 70 mil presos
nas cadeias do país são muçulmanos
Cherif Kouachi tinha vinte e poucos anos e um subemprego como entregador de pizzas quando, em 2003, no auge da “Guerra ao Terror”, os Estados Unidos invadiram o Iraque. Filho de argelinos, o francês morava na periferia de Paris e tinha pouco apego ao islã até conhecer o grupo liderado por Farid Benyettou, uma espécie de guru de uma mesquita próxima. Os rapazes de famílias pobres, desestruturadas e de baixa escolaridade se uniram em torno de Benyettou para conversar sobre jihad, a guerra sagrada, e os abusos do Exército americano no Iraque. Alguns foram para a guerra lutar contra o inimigo ocidental. Cherif estava a caminho do Oriente quando, em janeiro de 2005, foi preso pela polícia francesa. De acordo com o jornal britânico “The Guardian”, ele foi descrito pelos advogados responsáveis pelo caso como um “jovem frágil com poucas ideias políticas reais, psicologicamente manipulado por uma seita.” Na época, Cherif disse ao júri: “Eu queria voltar atrás, mas estava com medo de parecer um covarde”.
É na prisão de Fleury-Mérogis, no sul de Paris, para onde Cherif foi mandado, que sua trajetória rumo ao extremismo encontra seu lugar, num caminho sem volta. Há duas semanas, ele ficou conhecido como um dos terroristas que invadiram a redação do jornal satírico “Charlie Hebdo”, em Paris, matando 12 pessoas. O outro era seu irmão, Said. Os dois foram mortos pela polícia na sexta-feira 9. No período em que ficou preso, até 2008, Cherif conheceu Amedy Coulibaly, morto depois de assassinar quatro reféns e um policial num supermercado judaico no leste de Paris, dois dias depois do atentado ao “Charlie”. A ação foi coordenada com os irmãos Kouachi. Coulibaly também estava preso em Fleury-Mérogis por assalto à mão armada. Lá eles conheceram Djamel Beghal, recrutador da rede terrorista Al-Qaeda. Naquele ano, Beghal foi preso na França por conspirar um ataque à Embaixada dos Estados Unidos em Paris. Como os Kouachi, ele também tem origem argelina.
Até o dia 7 de janeiro, esses quatro personagens faziam parte de um roteiro cada vez mais comum nos guetos muçulmanos de Paris e das outras grandes cidades europeias. Suas histórias, seus fracassos, seus encontros na prisão e a conversão para um tipo de islamismo cada vez mais radical não são exceção. São, cada vez mais, a regra entre jovens fracassados no processo de integração cultural e ascensão social, que encontram na religião e nos ensinamentos distorcidos do “Corão” a válvula de escape para suas frustrações.
Como acontece com os negros no Brasil e nos Estados Unidos, os muçulmanos são super-representados no sistema prisional francês: correspondem a 60% do total de 66 mil presos, mas não são nem 10% da população geral. Na semana passada, o governo francês informou que 1,4 mil de seus prisioneiros têm tendências extremistas, 152 são considerados islâmicos totalmente radicais e, entre eles, 87 integram organizações terroristas. A ministra da Justiça, Christiane Taubira, aproveitou a ocasião para anunciar um plano de contenção do radicalismo nas penitenciárias. A ideia é isolar os extremistas e treinar os clérigos que visitam as cadeias para ter um discurso mais moderado. A escassez desses religiosos, aliás, é um dos fatores que transformam as prisões em campo fértil para a leitura do “Corão” ao pé da letra. Na França, há 182 clérigos muçulmanos e cerca de 700 cristãos, segundo a agência Reuters.
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O contexto por trás do encarceramento envolve uma parte da população que, apesar de ter nascido na França e possuir a cidadania europeia, não se vê integrada à sociedade ocidental. Obrigados a viver nas habitações populares dos “banlieues”, nos subúrbios de Paris, onde a média de desemprego é maior que o dobro do índice nacional, esses franceses são, em geral, filhos ou netos de imigrantes – a maioria vem de antigas colônias como Argélia, Marrocos e Tunísia. O fluxo migratório do início do século XX levava mão de obra da África para a Europa. “Havia um entendimento entre os europeus de que essas pessoas só iriam trabalhar, a intenção nunca foi de uma ocupação permanente”, disse à ISTOÉ Demetrios Papademetriou, presidente do Instituto para Política Migratória (MPI, na sigla em inglês), na Europa, de Bruxelas. “Mas os trabalhadores naturalmente levaram suas famílias e seus costumes. Quanto mais eles se sentiam isolados, agredidos, sem as mesmas oportunidades, mais eles se fechavam em suas comunidades e desafiavam a maioria.” Segundo o MPI, para muitos franceses, os bairros com alta concentração de islâmicos e escolas segregadas funcionam como “sociedades paralelas.
"A integração fracassou”, diz Mohammed ElHajji, professor de comunicação e especialista em questões migratórias e culturais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Nos anos 80 e 90, os imigrantes recorreram às antenas parabólicas para manter os laços com sua terra de origem. Agora a internet cumpre esse papel”, diz ele, um marroquino radicado no Brasil. Há dez anos vivendo em Paris, o tunisiano Nassim Touns, 31 anos, se sente ainda mais discriminado depois do atentado ao “Charlie Hebdo”. “É como se fôssemos cidadãos de segunda classe”, disse à ISTOÉ. Formado em comércio internacional e economia em seu país, Touns trabalha hoje como pintor de uma empresa subcontratada pelo Grupo Carrefour para reformar as lojas da rede varejista. Ele diz que não sai de Paris porque tem dois filhos – franceses – e que até na Tunísia é difícil encontrar emprego. “Eles preferem ‘francês-francês’.”
Na França, essa “preferência” já foi medida. Um estudo de 2011 da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, concluiu que um cidadão cristão de origem africana tem 2,5 vezes mais chances de ser chamado para uma entrevista de emprego do que um muçulmano igualmente qualificado. Nesses casos, as pessoas com nomes tipicamente franceses têm vantagens sobre quem carrega um nome que soa islâmico. Outras pesquisas já mostraram dificuldades semelhantes para os muçulmanos em aluguéis de imóveis e vendas de carros.
Numa sociedade em que a laicidade, que implica a separação total entre Estado e Igreja, é um valor inegociável, o sentimento de discriminação se espalhou quando, em 2011, a França proibiu o uso do véu islâmico e outros símbolos religiosos em locais públicos. Para Ariel Finguerut, pesquisador do Grupo de Pesquisas Oriente Médio e Mundo Muçulmano da Universidade de São Paulo, esses elementos sociais só reforçam “o estigma do islã como vítima de um Ocidente opressor.”
Desse ambiente, os irmãos Kouachi e seu cúmplice, Amedy Coulibaly, não conseguiram fugir. Eles não precisaram sair da França para se converter ao extremismo. Como acontece com milhares de jovens que vivem nas mesmas condições de vulnerabilidade, o discurso radical lhes ofereceu, enfim, reconhecimento e um propósito de vida. Mohammed Merah, o jovem que matou quatro judeus e três soldados em Toulouse, no sul do país, em 2012, também era um deles. Ciente disso, o governo francês está diante do desafio de repensar a maneira como lida com os fundamentalistas em seu próprio território, a começar pelas políticas de integração das diversas comunidades que ali coexistem.
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Fotos: Medyan Dairieh/ZUMA Wire/ZUMAPRESS; MEHDI FEDOUACH/AFP PHOTO

17 de jan. de 2015

Família visita brasileiro na Indonésia e preparativos para execução continuam


O brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira sentado em uma cela na corte de Tangerang, perto de Jacarta. Um tribunal indonésio condenou Moreira à morte por tráfico de drogas - 08/06/2004
O brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira sentado em uma cela na corte de Tangerang, perto de Jacarta. Um tribunal indonésio condenou Moreira à morte por tráfico de drogas - 08/06/2004 - Beawiharta BEA/TW/Reuters
Atualizada às 14h34
O Itamaraty confirmou que a execução de Marco Archer Cardoso Moreira acontecerá entre 15h e 16h deste sábado (horário de Brasília). As autoridades indonésias estão terminando os preparativos para o fuzilamento de seis condenados à morte por tráfico de drogas, entre eles o brasileiro de 53 anos, que recebeu a visita de familiares neste sábado.Os outros condenados são um holandês, dois nigerianos, um vietnamita e um indonésio. A morte de Archer será confirmada oficialmente algumas horas após a execução, segundo o Itamaraty. Advogados e familiares do brasileiro receberam das autoridades indonésias um relatório sobre o fuzilamento.
Marco e outros quatro prisioneiros foram banhados e conduzidos a uma área especial de isolamento na penitenciária de Nusakambangan. O sexto condenado está na prisão de Boyolali. Os dois prédios se encontram na Ilha de Java. Atenção religiosa foi posta à disposição dos presos, conforme a crença de cada um. Seis pelotões de fuzilamento estão a postos para as execuções. Segundo informa a imprensa indonésia neste sábado, ambulâncias e caixões já foram enviados aos locais onde os fuzilamentos devem ocorrer. 
Marco Archer foi preso ao tentar entrar na Indonésia, em 2004, com 13 quilos de cocaína escondidos nos tubos de uma asa delta. A droga foi descoberta pelo raio-x, no Aeroporto Internacional de Jacarta. Ele conseguiu fugir do aeroporto, mas foi capturado duas semanas mais tarde. Além de Marco Archer, outro brasileiro, Rodrigo Gularte, de 42 anos, também pode ser executado nas próximas semanas por ter transportado drogas para a Indonésia. O tráfico de entorpecentes é um crime passível de pena de morte naquele país. 
O governo brasileiro tenta interceder em favor dos brasileiros. Na sexta-feira, o presidente Joko Widodo negou um apelo pessoal da presidente Dilma Rousseff. Em conversa telefônica, a presidente “ressaltou ter consciência da gravidade dos crimes cometidos pelos brasileiros e disse respeitar a soberania da Indonésia e do seu sistema judiciário”, informou o Palácio do Planalto. O apelo foi feito “como chefe de Estado e como mãe, por razões eminentemente humanitárias”. “A presidente recordou que o ordenamento jurídico brasileiro não comporta a pena de morte e que seu enfático apelo pessoal expressava o sentimento da sociedade brasileira”.
Na sexta-feira, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviou uma carta ao chefe do Ministério Público da Indonésia pedindo o adiamento da execução. A intenção é promover um diálogo entre as procuradorias no sentido de que a condenação à pena de morte por tráfico de drogas seja reconsiderada. Janot demonstrou respeito pelos esforços da Indonésia para combater essa prática criminosa e disse que não pretende questionar a soberania do país nem pedir anistia aos condenados, apenas solicitar que outras formas de punição sejam implementadas. "Apesar de seus atos ilícitos, devemos considerar a situação extrema de ser sentenciado à morte em uma terra estrangeira. Tal circunstância produz uma sensação de solidão e abandono", argumentou.
Tolerância zero – O atual governante do país, Joko Widodo, assumiu a presidência em outubro e implantou uma política de tolerância zero para traficantes, prometendo executar os condenados por esse tipo de crime. Ele tem apoio da população, amplamente favorável à pena de morte. "Mandamos uma mensagem clara para os membros dos cartéis do narcotráfico. Não há clemência para os traficantes", relatou à imprensa local Muhammad Prasetyo, procurador-geral da Indonésia, sobre as execuções. A posição do governante indonésio é criticada pela Anistia Internacional (AI). “Só 10% dos países recorrem a execuções e a tendência é decrescente desde o fim da II Guerra Mundial. É inaceitável que o governo da Indonésia manipule a vida de dois brasileiros para fins de propaganda de sua política de segurança pública”, disse Atila Roque, diretor-executivo da AI.

16 de jan. de 2015

Operação antiterror na Bélgica deixa vários mortos, diz imprensa local

Governo belga informou que ação está "vinculada ao jihadismo"

AFP
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A polícia da Bélgica lançou, nesta quinta-feira, uma operação antiterrorista em Verviers (leste do país), que teria deixado, segundo a imprensa belga, várias vítimas.

"Há uma operação em curso", informou à AFP a prefeitura de Verviers. Fontes do governo belga indicaram que há uma operação em curso, que "está vinculada ao jihadismo".

A operação foi realizada em uma antiga padaria pela polícia antiterrorista. Segundo o jornal "De Standaard", um grupo jihadista se preparava para cometer um ataque.
Três jovens que partiram para combater na Síria e que retornaram à Bélgica há uma semana tiveram seus telefones grampeados pela polícia, que decidiu agir rapidamente. As escutas indicavam que eles se preparavam para cometer atos terroristas, segundo o canal de televisão belga RTBF.
Outras operações estariam em curso também em Bruxelas. A prefeita de Molenbeek-Saint-Jean, Françoise Schepmans, informou que buscas estavam sendo realizadas na região, que possui uma grande comunidade de imigrantes.
Em Verviers, vários tiros e explosões foram ouvidos no centro da cidade por volta das 18h (15h de Brasília), no bairro da estação de trem, segundo testemunhas.
A área foi isolada e ambulâncias estavam no local. Os moradores foram instruídos pela polícia a permanecer em suas casas.
A RTL-TVI reportou três mortes, e a televisão pública RTBF, duas. Nenhum balanço foi confirmado por fontes oficiais. De acordo com a RTBF, não há agentes feridos, e a polícia fez várias detenções.
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15 de jan. de 2015

Ex-diretor da Petrobras deve prestar depoimento à PF nesta quinta-feira

Nestor Cerveró foi preso na madrugada de quarta (14) no Rio de Janeiro.
Depois da prisão, ele foi encaminhado para a Polícia Federal, em Curitiba.

Do G1 PR
O ex-diretor da área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró chega ao IML de Curitiba (PR), para exame de corpo delito. Nestor foi preso durante a madrugada no Rio de Janeiro (Foto: Vagner Rosário/Futura Press/Estadão Conteúdo)Nestor Cerveró fez exames no IML de
Curitiba na manhã de quarta-feira (14)
(Foto: Vagner Rosário/Futura Press/Estadão
Conteúdo)
O ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró deve prestar depoimento à Polícia Federal (PF), em Curitiba, na manhã desta quinta-feira (15). A informação foi confirmada pelo advogado Edson Ribeiro no fim da tarde de quarta-feira (14).
"Eu conversei com o delegado e o que vai ser perguntado é justamente sobre a movimentação financeira e a movimentação imobiliária. Se as duas tivessem acontecido, seriam totalmente legais. Não havia qualquer restrição naquele momento, como não há até hoje", afirmou o advogado, após sair da superintendência da PF.
Inicialmente, o advogado havia dito que o cliente iria ficar calado, pois ainda não tinha conhecimento das razões do Ministério Público Federal para pedir a prisão de Cerveró. Contudo, depois, ele confirmou ter tido acesso aos documentos, o que pode sinalizar uma mudança no comportamento da defesa.
Cerveró foi preso na madrugada de quarta-feira no Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), no Rio Janeiro, por ser suspeito de envolvimento em crimes investigados pela Operação Lava Jato. Pela manhã, ele foi levado para a carceragem da Polícia Federal em Curitiba, onde tramitam os inquéritos e ações penais oriundos da operação. Na cidade, fez exames de corpo de delito no Instituto Médico-Legal (IML).
Nestor Cerveró chega ao IML para fazer exames médicos (Foto: Adriana Justi/G1)Logo após ser preso, Cerveró fez exame de
corpo de delito (Foto: Adriana Justi/G1)
O ex-diretor da Petrobras voltava de uma viagem a Londres quando foi detido pela PF. Ele já é réu em uma das ações da Lava Jato por ser suspeito de cometer crimes como corrupção e lavagem de dinheiro entre 2006 e 2012. Agora, ele foi preso preventivamente a pedido do Ministério Público Federal (MPF). Por meio de nota, o MPF informou que foi cumprido um mandado de prisão preventiva, já que "há indícios de que o ex-diretor continua a praticar crimes e se ocultará da Justiça".

O delegado da Polícia Federal Igor Romário de Paula afirmou que negociações financeiras feitas por Cerveró indicam que o suspeito tentava obter liquidez do patrimônio com rapidez. Em uma dessas transações, disse o delegado, Cerveró chegou a perder R$ 200 mil. Este patrimônio negociado, também conforme a PF, pode ter origem ilícita e ser resultado de crimes cometidos por Cerveró enquanto estava à frente da diretoria Internacional da Petrobras.

Cerveró na Lava Jato
Cerveró foi diretor da área Internacional da Petrobras de 2003 a 2008, durante o governo do presidente Lula. Já no governo da presidente Dilma Rousseff, assumiu a diretoria financeira da BR Distribuidora, onde permaneceu até ser demitido do cargo, em março de 2014.

Segundo o MPF, o ex-diretor recebeu propina em dois contratos firmados pela Petrobras, para construção de navios sonda, usados em perfurações em águas profundas. O pagamento, no valor total de 40 milhões de dólares, foi relatado pelo executivo Júlio Carmago, da Toyo Setal, que fez acordo de delação premiada no decorrer das investigações.
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, também réu da Lava Jato, citou Cerveró no acordo de delação premiada. Em depoimento à Justiça Federal (JF) do Paraná, em outubro de 2014, Paulo Roberto disse que Cerveró recebeu propina na compra da refinaria da Pasadena, nos Estados Unidos. Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), o negócio gerou prejuízos de 790 milhões de dólares à Petrobras.

A compra de Pasadena foi aprovada, em 2006, pelo Conselho de Administração da Petrobras, que à época era presidido por Dilma Rousseff. Segundo a presidente, o resumo executivo que orientou o Conselho, e que foi produzido por Cerveró, era falho. Em julho, o TCU responsabilizou Cerveró e outros nove diretores e ex-diretores da Petrobras pelos prejuízos na compra.

Os argumentos do MPF
Por meio de nota, o Ministério Público Federal informou que foi cumprido um mandado de prisão preventiva, já que "há indícios de que o ex-diretor continua a praticar crimes e se ocultará da Justiça".
A custódia cautelar é necessária [...] diante da dimensão dos crimes e de sua continuidade até o presente momento"
Nota do MPF
O MPF relatou que na terça-feira (13) foram cumpridos mandados de busca e apreensão em quatro endereços residenciais ligados a Cerveró, "em função de seu envolvimento em novos fatos ilícitos relacionados os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro que foram denunciados recentemente".
De acordo com o MPF, conforme o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), logo após o recebimento da denúncia e durante o recesso do Judiciário, o ex-diretor tentou transferir para a filha R$ 500 mil - mesmo considerando que com tal operação haveria uma perda de mais de 20% da aplicação financeira. O ex-diretor, ainda segundo o MPF, também teria transferido recentemente três apartamentos adquiridos com recursos de origem duvidosa, em valores menores do que eles valeriam, de R$ 7 milhões por R$ 560 mil.
"A custódia cautelar é necessária, também, para resguardar as ordens pública e econômica, diante da dimensão dos crimes e de sua continuidade até o presente momento, o que tem amparo em circunstâncias e provas concretas do caso", encerra o MPF.

Defesa
O advogado de defesa Nestor Cerveró, Edson Ribeiro, disse que o pedido de prisão preventiva não tem fundamento. Segundo ele, não havia restrição judicial ou administrativa para que os bens fossem transferidos à família do cliente. "A movimentação financeira e a movimentação imobiliária são atos normais da vida civil. Não há nenhuma ilegalidade nisso. A filha dele é doente. O Nestor estava indo para a Inglaterra passar Natal e Réveillon com a família. Ia disponibilizar esse dinheiro que estava aplicado para alguma eventualidade. Não chegou nem a fazer isso", disse.
Não há ilegalidade. Quem está errado, ao meu modo de ver, é o Ministério Público Federal, que levou o juiz de plantão a erro"
Edson Ribeiro, advogado de Nestor Cerveró
Segundo Edson Ribeiro, Cerveró decidiu fazer uma antecipação de herança aos familiares, ao passar imóveis para os nomes de parentes. Ele comparou o ato ao que a presidente da Petrobras, Graça Foster, fez em 2014 e veio a público durante as investigações da Lava Jato. "A Graça Foster também movimentou seus imóveis. Em um período em que não havia qualquer restrição, seja administrativa ou judicial. Inclusive, até hoje não há essa restrição", afirmou.
Para o advogado, essas movimentações levaram o juiz federal de plantão que mandou prender Cerveró a erro. "Ele está desempregado desde março de 2014. Ele tem R$ 10 mil de aposentadoria por mês. Não há ilegalidade. Quem está errado, ao meu modo de ver, é o Ministério Público Federal, que levou o juiz de plantão a erro”, disse.
O advogado reforça que o cliente sempre se colocou à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos. "No dia 1º de abril [de 2014], eu coloquei o Nestor Cerveró à disposição de todas as autoridades, da Polícia Federal, MPF em Brasília. E até hoje ninguém quis ouvir o Nestor Cerveró. Ele, sem ser convocado, se apresentou espontaneamente para falar dos seus atos à frente da Diretoria Internacional da Petrobras", pontuou.
Ainda de acordo com o advogado, Cerveró havia informado ao MPF-RJ e à Justiça Federal que faria uma viagem para Londres, inclusive fornecendo o endereço de onde ficaria, e estava com depoimento marcado para esta quinta-feira no Rio de Janeiro.

13 de jan. de 2015

Dilma desiste de participar do Fórum Econômico Mundial


Em Brasília, a presidente Dilma Rousseff recebe cumprimentos do presidente da Bolívia, Evo Morales, Palácio do Planalto, após tomar posse no seu segundo mandato à frente da Presidência da República
Dilma Rousseff e o presidente da Bolívia, Evo Morales (Alan Marques/Folhapress)
A presidente Dilma Rousseff desistiu de viajar à Suíça para participar do Fórum Econômico Mundial, em Davos, que ocorre entre os dias 20 e 24 de janeiro. Em 2014, a presidente aproveitou sua primeira ida ao evento para tentar convencer líderes empresariais e políticos de que o Brasil estava de "braços abertos" ao investimento estrangeiro. Não convenceu muito.

Diante da piora dos indicadores econômicos e do pessimismo externo em relação ao Brasil, o momento atual seria oportuno para a presidente batalhar o voto de confiança dos investidores em Davos, já que se trata de um novo mandato, com uma nova equipe econômica. Mas a presidente, tudo indica, deverá trocar a Suíça pela Bolívia, para assistir à posse do reeleito Evo Morales. Ainda não está confirmado que a presidente mandará alguém em seu lugar. Joaquim Levy é um dos possíveis representantes. Mas a ida do ministro não foi confirmada pelo Ministério da Fazenda.

10 de jan. de 2015

Com R$ 30 por dia, casal do DF viaja de bicicleta e conhece 13 países

Publicitária e administrador de redes venderam carros e deixaram emprego.
Roteiro começou a ser executado em 17 de maio e inclui Europa e Ásia.

Raquel Morais Do G1 DF
A publicitária Julie Assencio e o administrador de redes Thiago Ruiz em frente ao Taj Mahal, na Índia (Foto: Diocá/Divulgação)A publicitária Julie Assencio e o administrador de redes Thiago Ruiz em frente ao Taj Mahal, na Índia (Foto: Diocá/Divulgação)
A bordo de bicicletas e com uma barraca como abrigo, a publicitária Julie Assêncio e o administrador de redes Thiago Ruiz encontraram uma forma barata e até saudável de realizar o sonho de viajar pelo mundo. O casal deixou Brasília em maio e ainda não tem data para voltar. O roteiro já percorrido inclui 13 países europeus e asiáticos, com um gasto diário de apenas R$ 30 para os dois.
A coisa mais curiosa que aconteceu foi a gente ter presenciado a cerimônia de cremação dos corpos dos hinduístas no rio Ganges, na Índia. Foi uma sensação muito estranha, ficamos chocados e com medo. Agora a mais divertida foi a gente descer de bike a pista abandonada de bobsled em Saravejo na Bósnia. Em 1984 teve a Olimpíada de Inverno, e 30 anos depois fomos lá. Foi incrível"
Thiago Ruiz,
administrador de redes
A ideia surgiu depois de o casal percorrer o Ceará de bike em agosto de 2013. “Foi uma experiência maravilhosa. Vimos que com a bicicleta poderíamos ir muito longe gastando pouco. Voltamos da viagem e a vontade de continuar não saía de nossas cabeças. Foram dois meses absorvendo essa viagem, e em sete meses já estávamos com tudo pronto para embarcar na grande viagem de nossas vidas”, lembra Julie.
Para viabilizar o sonho, o eles venderam os carros e abandonou os empregos. O itinerário foi dividido em três etapas: Europa, Ásia e Brasil. A publicitária, de 30 anos, mora em Santa Maria. Ruiz, em São Sebastião. O casal pegou um voo até Portugal em 17 de maio, onde comprou as bicicletas e deu início ao projeto.
“Começamos pela Europa por causa da facilidade em encontrar bons equipamentos e pela estrutura que os países oferecem para os viajantes”, explica o administrador de redes. “[No] Nosso primeiro dia de viagem pedalamos somente 20 quilômetros, pois logo no primeiro local que paramos, em uma lanchonete, o dono nos convidou para dormir em sua casa. Foi muito legal. Foi nossa primeira experiência de dormir na casa de pessoas que você nunca havia visto na vida. Fomos tratados como reis.”
A publicitária Julie Assêncio e o administrador de redes Thiago Ruiz veem o pôr do sol em praia de Portugal (Foto: Diocá/Divulgação)A publicitária Julie Assêncio e o administrador de redes Thiago Ruiz veem o pôr do sol em praia de Portugal (Foto: Diocá/Divulgação)
Desde então, eles já passaram pela Espanha, Andorra, França, Itália, Eslovênia, Croácia, Bósnia e Herzovina, Sérvia, Bulgária, Turquia, Índia e Nepal – onde escolheram passar o Natal e o réveillon. As fotos, que retratam as belezas naturais, monumentos e costumes desses países, ilustram uma página em rede social. Parte das experiências também é publicada.
Às vezes dá aquela vontade louca de simplesmente dar um abraço na minha mãe, de estar com o meu pai. Sou muito apegada a meus sobrinhos, às vezes sonho com eles, é muito difícil. Mas a gente precisa ser forte e colocar na cabeça que é somente uma fase da nossa vida e na hora certa voltaremos. Eu sofri uma saudade prévia meses antes da viagem, mas quando partimos a gente deixou o emocional de lado, se não a gente acaba ficando muito sensível. E não é algo que acaba acostumando. A gente sente saudade o tempo todo"
Julie Assêncio,
publicitária
“A coisa mais curiosa que aconteceu foi a gente ter presenciado a cerimônia de cremação dos corpos dos hinduístas no rio Ganges, na Índia. Subimos em um prédio escuro das chamas e vimos a grande cena. Foi uma sensação muito estranha, ficamos chocados e com medo, foi uma emoção muito forte, inexplicável. Agora a mais divertida foi a gente descer de bike a pista abandonada de bobsled em Saravejo, na Bósnia. Em 1984 teve a Olimpíada de Inverno, e 30 anos depois fomos lá. Foi incrível”, afirma Ruiz.
A publicitária lembra ainda dos desafios. “Por exemplo: um dia a gente encara uma subida infinita, no outro a gente demora para achar um bom lugar para dormir, no outro a gente é atacado por milhares de pernilongos, no outro cachorros correm atrás da gente.”
“Teve uma vez que foi bem difícil: acampamos em um pasto na Sérvia, choveu a madrugada inteira, de manhã ainda estava chovendo e não podíamos sair da barraca. Quando deu uma trégua, saímos e havia formado uma poça gigante e gelada ao redor da barraca. Molhou nossos tênis e tudo o que estava fora. Estava um frio intenso, nossos pés e mãos congelaram e sentimos uma dor horrível, passamos um frio dolorido mesmo. Sorte é que estávamos perto de um posto de gasolina e pudemos nos aquecer. Frio é ruim para a cicloviagem, frio com chuva é desesperador. [Mas] Sempre atrás de uma grande dificuldade vem uma linda recompensa”, diz Julie.
Dia a dia
O casal comprou as bicicletas por 400 euros cada em Lisboa, capital de Portugal. O baixo custo e a liberdade para montar o itinerário pesaram na decisão. “Sem contar que a gente faz exercício físico o diariamente, melhorando cada dia mais a nossa saúde”, afirma a publicitária.
O administrador de redes Thiago Ruiz, de bicicleta e na companhia de um cachorro, na Sérvia (Foto: Diocá/Divulgação)O administrador de redes Thiago Ruiz, de bicicleta e na companhia de um cachorro, na Sérvia (Foto: Diocá/Divulgação)
A dupla diz não ter contabilizado o número certo de cidades visitadas. O tempo para ficar em cada lugar varia de acordo com o quanto eles se sentem à vontade.
“Se a gente chega em um lugar que não gostamos muito, não perdemos tempo nele. Mas se a gente chega a um lugar bom, a gente fica curtindo sem pressa. Os lugares onde temos menos expectativa são os que mais nos surpreendem”, explica Ruiz. “Geralmente nos hospedamos em nossa barraca. Já dormimos em diversos lugares, como floresta, campings, beira de estrada, praia deserta, ruína, casa abandonada, casa de pessoas que nos acolhem e até debaixo da ponte. Na Europa Meridional, não ficamos nenhuma vez em hotel. No leste europeu, por causa do frio intenso, tivemos que ficar em alguns hotéis.”
Com a intenção de economizar, eles mesmos preparam as refeições. Os utensílios de cozinha e a comida preenchem um dos oito alforjes. A bagagem também é composta por produtos de higiene pessoal, eletrônicos, roupas, colchonetes e ferramentas para reparar eventuais problemas nas bicicletas.
Além disso, nada de presentes. “Nós nunca compramos nenhuma lembrancinha, pois carregamos o mínimo de coisa possível. Nossos souvenirs são as moedas que sobram de cada país. A gente fica doido para comprar algumas coisinhas, mas não dá mesmo”, conta Julie.
A publicitária Julie Assêncio, de Brasília, durante passeio no Nepal (Foto: Diocá/Divulgação)A publicitária Julie Assêncio, de Brasília, durante passeio no Nepal (Foto: Diocá/Divulgação)
Outro esforço de resistência é lidar com a saudade da família e dos amigos. A publicitária afirma que a falta dos pais e dos sobrinhos pesa e não foi minimizada pelo tempo.
“Às vezes dá aquela vontade louca de simplesmente dar um abraço na minha mãe, de estar com o meu pai. Sou muito apegada a meus sobrinhos, às vezes sonho com eles, é muito difícil. Mas a gente precisa ser forte e colocar na cabeça que é somente uma fase da nossa vida e na hora certa voltaremos. Eu sofri uma saudade prévia meses antes da viagem, mas quando partimos a gente deixou o emocional de lado, se não a gente acaba ficando muito sensível. E não é algo que acaba acostumando. A gente sente saudade o tempo todo”, declara.
Retorno e outros planos
O administrador de redes diz que o casal ainda não se decidiu sobre quando voltar para o Brasil nem que projetos vai tocar quando isso ocorrer. A única certeza é de fazer uma publicação com os detalhes da viagem que ainda não foram ao ar.
“Já estamos trabalhando. O livro será escrito pelo nosso querido irmão Danylton Penacho, formado em antropologia pela UnB e mestre em literatura. Estamos apostando tudo nesse livro, será incrível como nossa viagem e espero que inspire muitas pessoas a fazerem o mesmo”, afirmou ao G1.
O administrador de redes Thiago Ruiz e a namorada, Julie Assêncio, na Bulgária durante viagem de bicicleta (Foto: Diocá/Divulgação)O administrador de redes Thiago Ruiz e a namorada, Julie Assêncio, na Bulgária durante viagem de bicicleta (Foto: Diocá/Divulgação)
Entre as lições que o casal cita estar tirando com a experiência estão viver com pouca coisa, ter calma e paciência, perceber as belezas do mundo e as qualidades das pessoas. Tanto a publicitária quanto Ruiz dizem ter se surpreendido com manifestações de solidariedade ao longo da viagem.
“As melhores experiências são quando pessoas que a gente nunca viu na vida nos convidam para dormir em suas casas e ainda preparam uma comida deliciosa para a gente. É uma forma de aliviar a saudade que temos da nossa família e amigos. Nos sentimos protegidos com tanto carinho e apoio. A gente adquire amor por essas pessoas em um espaço curto de tempo, é impressionante. Em cada casa observamos os costumes, provamos as comidas típicas. As pessoas são maravilhosas em todos os lugares do mundo. São esses gestos que fazem a nossa viagem ficar mais rica”, diz Julie.
Juntos desde 2012, eles também contam que a vivência contribuiu para fortalecer o relacionamento. “Essa viagem só fez com que a gente se unisse mais. Passamos por muitas dificuldades e às vezes ficamos estressados com determinadas situações, mas a gente não deixa isso prejudicar nossa relação. Passamos 24 horas juntos, somos bons companheiros acima de tudo. Temos uma relação de paz o tempo todo”, analisa a publicitária. “Fomos rumo ao desconhecido. Tudo aconteceu muito rápido e ao nosso favor. Apenas tomamos a atitude certa, na hora certa de nossas vidas.”
O administrador de redes Thiago Ruiz e a publicitária Julie Assêncio em Veneza, na Itália (Foto: Diocá/Divulgação)O administrador de redes Thiago Ruiz e a publicitária Julie Assêncio em Veneza, na Itália (Foto: Diocá/Divulgação)