Investigação apura esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Grupo sob suspeita tem ligações com políticos e ex-dirigente da Petrobras.
O que é
Deflagrada em 17 de março pela Polícia Federal
(PF), a operação Lava Jato desmontou um esquema de lavagem de dinheiro e
evasão de divisas que, segundo as autoridades policiais, movimentou
cerca de R$ 10 bilhões. De acordo com a PF, as investigações
identificaram um grupo brasileiro especializado no mercado clandestino
de câmbio.
A Petrobras está no centro das investigações da operação, que apontou
dirigentes da estatal envolvidos no pagamento de propina a políticos e
executivos de empresas que firmaram contratos com a petroleira.
Entre os delitos cometidos por supostos "clientes" do esquema de
movimentação ilegal de dinheiro estão tráfico internacional de drogas,
corrupção de agentes públicos, sonegação fiscal, evasão de divisas,
extração, contrabando de pedras preciosas e desvios de recursos
públicos.
Onde
A Lava Jato expediu mandados de prisão e de busca e apreensão em
Curitiba (PR) e outras 16 cidades paranaenses, só na primeira fase da
operação, em março. Os agentes federais também cumpriram ordens
judiciais em outras seis unidades da federação: São Paulo, Distrito
Federal, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro e Mato
Grosso. Na etapa de novembro da operação,
houve mandados de prisão, busca e apreensão e ações coercitivas no
Paraná, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, em Pernambuco e
no Distrito Federal.
Presos
A operação Lava Jato já levou à prisão do doleiro Alberto Youssef,
que foi apontado como chefe do esquema de lavagem de dinheiro e evasão
de divisas. Também foi preso, na etapa inicial da operação, o ex-diretor
de Refino e Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa. Ele é investigado devido à compra, pela estatal, da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), sob suspeita de superfaturamento.
Em novembro, quase oito meses a pós a deflagração da operação, mais de 20 pessoas foram presas,
incluindo o ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque. A maior
parte dos presos nesta etapa da Lava Jato são executivos de empreiteiras
que possuem contratos firmados com a Petrobras.
Na lista dos que já foram presos em outras etapas da operação também
estão, por exemplo, pessoas que seriam subordinadas a Alberto Youssef,
responsáveis por gerenciar o dinheiro do doleiro.
Petrobras
As investigações da PF revelaram uma suposta ligação entre o ex-diretor
da Petrobras Paulo Roberto Costa com o esquema de lavagem de dinheiro
comandado pelo doleiro Alberto Yousseff. Costa admitiu à polícia que
recebeu um carro de luxo avaliado em R$ 250 mil do doleiro, mas alegou
que o veículo foi dado em pagamento por um serviço de consultoria. Costa
disse que já estava aposentado da Petrobras à época do recebimento do
carro. No entanto, ele reconheceu que conhecia Youssef do período em que
ainda estava na estatal brasileira. Costa foi preso em 20 de março
enquanto destruia documentos que podem servir como provas no inquérito.
Em outubro, ao prestar depoimentos à Justiça Federal, Costa revelou o
esquema de pagamento de propina na Petrobras que, segundo ele, era
cobrada de fornecedores da estatal e direcionada para atender a PT, PMDB e PP.
Os recursos teriam sido usados na campanha eleitoral de 2010. Os
partidos negam. Segundo Costa, as diretorias comandadas pelos três
partidos recolhiam propinas de 3% de todos os contratos.
Segundo o ex-diretor, a operação teve início em 2006, quando, segundo
ele, se formou um cartel entre grandes empreiteiras para prestação de
serviços à Petrobras e para obras de infraestrutura, como a construção
de hidrelétricas e aeroportos. Em outubro, Costa teve acordo de delação
premiada homologado pela Justiça, o que pode contribuir para a redução
de sua pena em caso de condenação.
O mesmo tipo de acordo está sendo negociado por Aberto Youssef, que tem
prestado depoimentos à Justiça federal e dado informações sobre quem
participava do esquema dentro de partidos.
Costa Global
Documentos obtidos pela PF apontam que Costa pode ter recebido
depósitos milionários do doleiro na conta de uma de suas empresas, a
Costa Global. Um dos papéis, uma planilha de valores, seria uma
contabilidade manual da empresa do ex-dirigente da estatal do petróleo. A
planilha detalha valores em reais, dólares e euros recebidos entre
novembro de 2012 e março de 2013.
Reportagem veiculada no programa Fantástico, em 13 de abril, mostrou o conteúdo de uma das planilhas da Costa Global
apreendidas pela PF. Os documentos mostram que o ex-diretor mantinha um
controle detalhado de todas operações que ele intermediava entre a
Petrobras, empreiteiras e fornecedores. Numa das planilhas obtidas pelo
Fantástico, aparece ao lado do nome das empresas a porcentagem que o
ex-diretor da Petrobras receberia caso conseguisse contratos para elas.
Em muitos casos, a comissão é de 50%.
Deputados envolvidos com Youssef
A apuração da PF também trouxe à tona indícios de ligação entre Alberto
Youssef e o deputado federal André Vargas (sem partido-PR). Conforme
investigações da PF, os dois atuaram juntos para fechar um contrato
milionário entre uma empresa de fachada e o Ministério da Saúde. Além
disso, o parlamentar do Paraná reconheceu que, em janeiro, viajou para
João Pessoa (PB) em um jatinho emprestado pelo doleiro.
Vargas alegou que conhece Youssef há mais de duas décadas e que não há
irregularidades na sua relação com o doleiro preso pela operação Lava
Jato. Pressionado pelo próprio partido em razão das denúncias, Vargas
renunciou ao cargo de vice-presidente da Câmara e se desfiliou do PT.
Ele também se tornou alvo de processo por quebra de decoro no Conselho
de Ética da Câmara, que aprovou parecer que pede sua cassação. A perda do mandato de Vargas ainda precisa ser analisada pelo plenário da Câmara.
O deputado Luiz Argôlo (SD-BA) também se tornou alvo das investigações
da PF devido à relação com Alberto Youssef. Foram analisadas 1.411
mensagens de celular entre os dois, de setembro do ano passado a março
deste ano. Segundo a PF, a linha usada pertence à Câmara dos Deputados.
No relatório, a PF conclui: "os indícios apontam que o deputado
tratava-se de um cliente dos serviços prestados por Youssef, por vezes
repassando dinheiro de origem aparentemente ilícita, intermediando
contatos em empresas, recebendo pagamentos, inclusive tendo suas
atividades operacionais financiadas pelo doleiro".
Em outubro, o Conselho de Ética da Câmara aprovou parecer
que pede a cassação do mandato de Argôlo por considerar ter havido
“tráfico de influência, prática de negócios e pagamentos ilícitos”. O
parlamentar nega as acuações. O relatório ainda precisa ser votado pelo
plenário da Câmara.